Capítulo 5 - Cativa-me

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Mas ninguém ligou pra queda. Se a escala de maracujás enrugados de Daves possuía uma zona de alerta, cada um dos jovens estava ocupado a ultrapassando.

- Vocês precisam aprender a lidar com outras pessoas! Nada melhor que... bem... isso. Pensem bem, dos males o menor. Trabalhar todos os dias, com mais de trinta adolescentes sortidos, por dois meses, e fazer uma apresentação sem graça, ou... um grupo seleto, com atividades divertidas semanalmente? – Argumentou o professor. Não que estivesse tentando, mas se quisesse esconder sua empolgação, falharia miseravelmente.

Era difícil sequer prestar atenção no que ele dizia. Yoshida foi o primeiro a sair do transe.

- Divertidas? Ridículo. Como tortura pode ser divertida?

- E é por isso que você está aqui. - Daves esfregou a testa.

- Não! Eu estou aqui porque meu primo literalmente me agarrou e saiu correndo.

Alidae e Yulan arregalaram os olhos. Eles não sabiam o contexto, afinal. Jess, por outro lado, não conseguiu conter uma gargalhada e virou o centro das atenções. A ansiedade de sua risada ser feia bateu, ao passo que o riso foi morrendo. A garota acabou murmurando um "desculpe" e se encolhendo.

No entanto, alguém continuou encarando com uma intensidade que teria feito um buraco nela, se tivesse o poder. Era Yoshida. E se ele estivesse pensando que ela riu zombando dele? Jess fez um joinha, em pânico, e de fato, ele suavizou rosto. As maravilhas da comunicação. Seja lá o que ele entendera...

- Se é tão ruim assim, eu tenho um desafio. No caso de eu perder, esqueçam o clube de convivência e a nota do projeto. Foram só vocês que vieram mesmo. – Daves apontou para o círculo e formou duplas. – O meu desafio é: encontrem algo que vocês dois gostem. Podem procurar qualquer motivo para elogiar a outra pessoa, se preferirem. Só precisa ser sincero. Ah, e que você prossiga com uma pergunta logo em seguida. Vão ser cinco minutos para cada um, depois podem ir pra casa.

Alidae de frente para Yoshida, Jess de frente pra Yulan. O desconforto era palpável.

- E se você não perder? – Yulan perguntou, e foi a primeira coisa que disse desde que tudo aquilo começara.

- Impossível. – Alidae e Yoshida retrucaram ao mesmo tempo.

- Será?

Os olhos de Yulan brecharam por entre as mechas pretas onduladas na direção de Jess. A mão dela tremeu para agarrar o celular e agendar sua consulta no cardiologista. Yulan, sem contexto nenhum, só viu a garota se dar um tapa. Daves resmungou algo sobre auto lesão. Nada importante. Ninguém deu valor na hora, também, quando ele disse:

- Se eu não perder, essa sala vai se tornar uma segunda casa para vocês. Provavelmente.

- Isso não faz sentido. Por que temos que fazer isso? Eu nem concordei... – Yoshida começou, mas foi interrompido.

- Achar pontos de interesse em comum é o primeiro passo para qualquer bom relacionamento, e relacionamentos são a base da convivência. Agora deixem de me enrolar. – Daves programou um temporizador no celular. – Um, dois, três... Valendo!

Yoshida rolou os olhos e virou-se para Alidae.

- Você acredita que a sociedade determina o indivíduo, ou o indivíduo determina a sociedade? – Perguntou.

Yulan assistiu o loiro (e o professor de sociologia ao fundo) pasmarem. Alidae se recompôs mais rápido e citou as três matrizes de resposta da sociologia para essa questão, ao que Yoshida se irritou e disse que não queria saber do que estava no livro, queria saber o que ele pensava. Os dois começaram uma discussão agitada com o professor apenas observando, atônito. Desde quando seu pior aluno sabia tanto da matéria?

Nós, diferentes delesOnde histórias criam vida. Descubra agora