Capítulo 1 Festa

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O barulho da música alta acordou Hazel. Seus olhos abriram repentinamente, vasculhando a escuridão do quarto, procurando seja lá o que for que estivesse causando aquele ruído. Demorou alguns poucos segundos para ela deduzir de onde a música alta vinha. Sentou-se na cama, as pernas ainda cobertas pelo edredom. O som era realmente muito alto, podia ouvir claramente as vidraças das janelas do seu quarto tremerem no ritmo da batida.

Em cima da mesa de cabeceira, ao lado de sua cama, o relógio eletrônico marcava com números vermelhos 21:32 da noite. Sua cabeça deu o lembrete que ela precisava naquele instante. A dor forte a atingiu novamente. Hazel fechou os olhos na esperança que a dor de cabeça passasse. Em vão. Todos os analgésicos que havia tomado algumas horas antes a deixaram sonolenta e ela aproveitara para dormir, na esperança de se livrar da dor. E havia funcionado. Até um minuto atrás quando fora acordada bruscamente pela música.

Soltou uma bufada de ar, o rosto retorcido de dor. Deitou-se novamente e tentou ignorar o barulho estridente. Novamente sem nenhum resultado. Ela não iria mesmo conseguir dormir com aquele barulho todo. Impossível. Desta vez ela se levantou com relutância da cama que estava extremamente confortável, a qual o seu corpo pedia para voltar. Mas ela não podia, o barulho não ajudava.

Hazel calçou os chinelos que estavam ao lado de sua cama, e foi até o interruptor. A forte luz do seu quarto atingiu seus olhos, e ela se curvou de dor, praguejando. Esperou alguns segundos para que sua visão se acostumasse com a claridade. Encaminhou-se trôpega para a pequena sacada do seu quarto, abriu as imensas janelas e isso fez com que a música ficasse ainda mais alta, o que ela achou que fosse quase impossível, apoiou-se no parapeito observando a cena de terror. Desgraçado.

Na casa de fronte para a sua havia uma multidão de adolescentes espalhados pelo jardim, a maioria segurando copos de plástico vermelho, diversos carros enfileirados ocupavam quase toda a rua. O burburinho de risadas e conversas dos adolescentes no gramado, provocou uma raiva palpável em Hazel. Suas mãos apertaram a grade do parapeito, fazendo com que os nós dos seus dedos se esbranquiçassem. Respirou fundo diversas vezes. Os olhos cravados nos adolescentes bêbados na grama da casa da frente. Ela realmente não queria fazer o papel da vizinha chata e careta que reclama de festas de adolescente em plena sexta-feira a noite. Mas ela teve um dia horrível e eles a pegaram com um péssimo humor nesta noite. Tudo isso somado à gripe que a deixou mal a semana inteira, e agora a dor de cabeça que quase a estava deixando de joelhos. E provavelmente a deixaria se não fizesse alguma coisa para parar essa música infernal que estava atrapalhando seu sono.

Enquanto fuzilava as pessoas no gramado. A música alta atravessava seu cérebro provocando uma dor aguda, e isso lhe dava ainda mais raiva. Sua mente trabalhava a procura da melhor forma possível de agir. Ela normalmente suportava bem as festas que ele dava. Mas antes não eram tão recorrentes como ultimamente. Fez uma conta rápida e chegou a conclusão que somente neste mês ele havia dado sete festas noturnas. Isso porque ela não havia somado à conta as festas menores que ele deu em algumas tardes. Mas Hazel não se importou muito com essas, pois normalmente estava trabalhando no restaurante, e quando chegava em casa ao final da tarde, as festas estavam quase no fim.

Não dava para deixar passar. Não dessa vez. Não hoje que ela estava com o corpo dolorido e a cabeça latejando. Tossiu algumas vezes, a sua voz estava completamente rouca, mas teria que dar o recado assim mesmo. Estava decidida.

Saiu da sacada, fechou as janelas e puxou as cortinas. Seguiu para a porta do seu pequeno closet que ficava próximo ao banheiro. Abriu a porta e pegou o primeiro jeans que viu, e uma camisa preta com estampa da banda Guns N' Roses que ganhou do seu pai no ano passado. Na verdade ele havia comprado para ele mesmo, porém tinha ficado muito justa. E Hazel tomou posse dela. Bem, nela a camiseta ficava grande demais, mas no momento ela não estava remotamente se importando com isso.

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