Capítulo II

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JEON JUNGKOOK

Abri os olhos e acordei tão rápido quanto os fechei e adormeci. Quanto tempo havia se passado? Não sei, meu celular não tinha mais bateria e eu não tinha relógio de pulso, e nem um pendurado nas paredes avermelhadas do meu quarto. Me dei o impulso que precisava para ficar sentado na cama e sentir minha cabeça reiniciando enquanto a paisagem do meu quarto ia de vermelho para preto, vermelho para preto...

Quando a atualização de meu software mental se deu por completa eu percebi que estava mais faminto que um porco. Me levantei por completo e desci as escadas com as roupas amassadas e os pés cobertos apenas por meias de cor preta. Peguei um pedaço de queijo na geladeira e subi de volta para meu quarto. 

Olhei janela afora mastigando o queijo. Início de noite, fim de tarde. Uma brisa reconfortante batendo de leve no meu rosto e levando meus cabelos como numa dança não muito bem coreografada. Sorri pequeno para a rua e direcionei o olhar para os tênis jogados ao lado de minha cama. Os calcei e fui correr, como de costume. 

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Me movimentando no asfalto com a luz da lua reluzindo nos meu cabelos — certo, vou confessar, não havia lua ainda, apenas o sol se pondo de mansinho, enfim — fui correndo pelas ruas iluminadas por postes (ainda não completamente) de Busan, sem rumo certo, apenas indo onde quer que meus pés me levassem.

Minuto após minuto, curva após curva, cheguei em uma das pontes da cidade. Me apoiei nos joelhos para recuperar um pouco de ar. Quando ergui os olhos com o intuito de continuar a correr, tive que apertar a visão. Não sei se era real ou apenas uma peça que minha própria mente estava me pregando; uma figura, aparentemente masculina, sentada no parapeito da ponte. Sacudi a cabeça e esfreguei os olhos, logo os arregalando quando percebi que não era alguma brincadeirinha de meu cérebro. Tinha, de fato, uma pessoa no parapeito da ponte. De cabeça baixa, como se decidisse se iria ou não em direção às águas geladas de outono. Tinha uma pessoa no parapeito da ponte. Tinha uma pessoa no parapeito da ponte. Tinha uma pessoa... no parapeito da ponte. Merda. Tinha uma pessoa no parapeito da ponte!

Corri até ele, e parei alguns metros antes, o observando e preparando minhas palavras — que pareciam ter simplesmente sumido do meu vocabulário naquele momento, eu não sabia mais formar frases, um fracasso total. Dei alguns passos, os mais silenciosos que eu conseguia, me aproximando mais de seja lá quem estivesse naquele parapeito. Quando cheguei em um ângulo aceitável para ver quem se escondia por trás daquela postura derrotada, quis gritar, xingar, espernear, prender a respiração até a maldita morte. Ele? Por que diabos ele estaria no parapeito de um inferno de ponte!? Era choque demais pra alguém escandaloso que nem eu.

Suspirei lentamente e andei alguns passos a mais até ele. Segurei seu braço com certa força, não para machucar, mas daquele tipo que seus pais ou professores ou alguma pessoa não tão próxima apertam, como se para dizer "eu estou aqui, do seu lado" ou todas essas coisas melosas que todos nós sabemos que não ajudam. Mas eu era Jeon Jungkook, e ele Park Jimin, o queridinho da escola que todos alegavam que tinha vida perfeita. Não podia oferecer algo a mais.

— Park — comecei —, o que você está pensando em fazer?? Você tem certeza que quer isso?

Ele não me respondeu. Eu sei que ouviu, porque seus olhos se arregalaram quando ouviu minha voz, mas não me respondeu. Apenas olhou o rio abaixo.

— Sabe que... que não... — travei. O que diabos se fala para alguém que está considerando se jogar de uma maldita ponte?

Soltei um ar pesado, que não sabia que estava segurando. Pisquei uma, duas, três vezes e balancei a cabeça. Olhei para as mão de Park Jimin. Estavam segurando a estrutura do parapeito com tamanha força que estavam vermelhas. Voltei o olhar para o rosto abalado de Park e o acompanhei. Sim. Subi na ponte, mas fiquei de pé no parapeito. Sim, estúpido, eu sei. Ri de nervoso antes de falar:

— Ei, olhe o que sei fazer! — tirei um dos meus pés da ponte, o deixando no ar, me apoiando apenas sobre um.

PARE! — Ele ficou de pé tão rápido que eu quase caí para trás. Arregalei meus olhos. — Ponha o outro pé no chão e desça da ponte. Agora.

Eu obedeci como se fosse seu cãozinho. Então, é assim que se fazia uma pessoa descer da ponte, hein? Ri com meu próprio pensamento e Park ergueu a sobrancelha para mim. Pigarreei e ergui uma das mãos para ele.

— Venha — ele me olhou, e pude perceber o ar de dúvida em seus olhos. Balancei a cabeça. — Você merece viver, Park. Não sei o que está se passando na sua vida, você pode superar ou não. Depende de você. Você tem amigos e familiares bons. Eles sentiriam sua falta. — Como se apenas minhas palavras fossem o suficiente, ele pegou minha mão e desceu da ponte.

Me agradeceu, forçou um sorriso e foi para casa. O observei até ele dobrar a esquina e fiquei mais alguns minutos por ali para me certificar de que ele não voltasse. Quando vi que não voltaria, caminhei de volta para casa — agora sim, com a lua refletindo em meu cabelo e com a luz dos postes iluminando as ruas de Busan.

Future Love [JJK + PJM]Onde histórias criam vida. Descubra agora