Eu podia ver nitidamente a silhueta de uma menina sob o clarão trazido pela porta. Tudo era escuro e ao mesmo tempo, não. Eu conseguia sentir a presença de mais algumas pessoas, porém não as via. Eu era capaz de ouvir o pulsar dos nossos corações uníssonos em um mesmo ritmo. Completa. Era assim que eu me sentir.
- Heejin, filha - eu ouvia uma voz do além me chamar -, acorda senão você vai se atrasar pra escola!
Minha mãe conseguia ser tão serena de manhã cedo que eu sempre me questionava o porquê de eu sempre ser tão mal humorada ao acordar.
- Vamos, levante para tomar banho e desça em seguida. Você precisa comer algo, mocinha! - ela disse enquanto se curvava para beijar o alto da minha cabeça e em seguida levantou e passou pela porta.
Eu estava relutante com o fato de ter que levantar, mas era necessário. Eu não podia faltar aula, ainda mais hoje que teríamos a primeira reunião de equipe pro trabalho de ciências. O trabalho de ciências! Eu já estava me esquecendo de que Haseul tinha ficado de me mandar mensagem para que a gente se encontrasse na casa dela após a aula. Pego o celular e vejo que tinha uma mensagem dela.
"Oi, Heejin! Boa noite. Tudo bem? É a Haseul falando. Bom, amanhã depois da aula eu quero que você me espere na saída da escola. Vamos todas juntas pra minha casa. Até amanhã ;)"
Penso em respondê-la, mas desisto ao começar a digitar a primeira palavra. Nós nos encontraríamos em minutos na sala, então preferi esperar.Levanto da cama e vou em direção ao banheiro. Lavo o rosto e, ao me levantar após ter abaixado para molhá-lo, vejo de relance um vulto que muito me lembrou uma menina. Ela era loira e eu senti meu corpo arder em um milhão de volts, como se eu já tivesse a visto antes. Rapidamente eu olho pra trás e pergunto se tinha alguém ali, mas não recebo nada em resposta. Paro alguns instantes de frente pro espelho. "Só posso estar louca", penso. Começo a rir e termino de me lavar. Saio do banheiro, ponho o uniforme e desço.
- E aí, mãe! - grito descendo as escadas.- O que temos pro café?
- Temo waffles com cereja, senhorita Heejin - minha mãe brinca, o que me faz rir por conta da voz que ela fez. Enquanto minha mãe terminava de preparar a mesa, eu estava dando uma olhada nas minhas redes sociais e vi que hoje teríamos lua cheia. "Será uma excelente oportunidade de iniciarmos o trabalho", penso. Minha mãe termina de por a mesa, tomamos café juntas enquanto conversávamos e ríamos um pouco.
- Bom, mãe, eu preciso ir. Não posso perder o ônibus! - pego minha mochila que estava apoiada na cadeira, dou um beijo no rosto dela e saio.
- Boa aula e tome cuidado! - a ouvi gritar da cozinha.
- Pode deixar. - digo sobre os ombros antes de feixar a porta.Até o ponto de ônibus são exatos 15 minutos de caminhada. Eu sempre aproveitava pra meditar sobre como seria meu dia e tudo mais, mas hoje eu não consegui tirar o sonho e a menina que apareceu no meu quarto da cabeça. Eu poderia jurar que ambas eram a mesma pessoa e que já a conhecia de algum lugar! Perdida em meus pensamentos e sem olhar direito por onde andava, sinto apenas o impacto.
- Nossa, você tá bem? - a voz grave me perguntava.
- Caramba, se eu não estiver bem, é porque morri! Alguém anotou a placa do caminhão? - eu estava zonza e com uma das mãos na cabeça, enquanto com a outra impedia a luz do sol de me segar.
Eu podia ouvi-lo rir, até que enfim me dei conta de quem era. Ele era lindo. Tinha o rosto calmo, a pela limpa e aparentemente macia, um sorriso lindo e um cabelo incrivelmente liso e brilhante.
- Me desculpe mesmo, eu não vi você. - ele dizia enquanto me dava a mão para levantara.
- Sem problemas. Eu estava distraída mesmo. - disse enquanto levantava do chão.
- Você parecia estar com muita pressa. - ele disse rindo.
- Sim, eu estava indo pegar o ônibus. Meu Deus, o ônibus! Eu não posso perder o ônibus! - eu estava surtada pois não queria de jeito algum ter que pedir minha mãe para ir me deixar na escola.
- Bom, aquele ônibus ali? - ele apontava exatamente pro meu ônibus que já estava uns 2 quarteirões além ponto.
- Que droga! Agora estou mais do que atrasada. - digo com as mãos na cabeça.
- Olha, eu posso te dar uma carona se quiser. É o mínimo que eu posso fazer depois de ter feito você perder o ônibus. - eu estava sem escolhas, mas ao mesmo tempo nervosa por cogitar aceitar a carona. No entanto era a única maneira de não me atrasar e ele estava em dívida comigo. Derrubar uma garota não é legal, ainda mais quando ela está no meio de uma discussão com ela mesma.
- Bom, tudo bem. Eu aceito a sua carona. Mas antes, qual é o seu nome?
- Eu me chamo Rie. Moro três ruas depois de você. - ele disse com um sorriso simpático no rosto.
- Tudo bem, Rie. Eu me chamo Heejin. Estudo na Éden. Sabe onde fica?
- Sim, eu também estudo lá - falou.
- Sério? Eu nunca te vi lá. - eu estava surpresa pois realmente nunca tinha o visto.
- Eu estou no terceiro andar. Sou veterano. - ele disse apontando pro símbolo em sua camisa, que olhando bem era uma peça do do uniforme da nossa escola. Eu estava no segundo ano e ele no quarto. Pra cada ano temos um símbolo diferente. O do primeiro era um pássaro, o que simbolizava a liberdade que o estudo nos traz. O do segundo, o ano em que eu estou, é uma borboleta, que nos lembra que para toda ação existe uma reação. Como símbolo, o terceiro ano carrega uma estrela e o quarto, o ano do Rie, algo semelhante ao sistema solar.
- Bom, então vamos indo. Eu não posso me atrasar. - digo indo em direção ao carro que estava parado ao nosso lado, supondo que seria o dele.
- Como sabe que esse é o meu carro? - ele pergunta.
- Palpite. - respondo.Entramos no carro e seguimos para a escola. O trajeto durava 30 minutos e o caminho era repleto de árvores e áreas florestais. Eu estava com a cabeça escorada na janela quando passamos por uma floresta. Eu estava profundamente admirada com a beleza daquelas árvores, coisa que nunca havia parado para apreciar, quando meus olhos são fisgados por algo que não estaria ali normalmente. Uma menina estava parada olhando paro o carro. Ela era loira, usava algo parecido com um uniforme. Camisa branca, um laço no pescoço e saia azul. Seu cabelo era grande e ela usava um estranho tapa olho no lado esquerdo do rosto. Eu fechei os olhos bem forte achando que aquilo não passava de alucinação e, quando abri, ela não estava mais lá.
"Eu devo ter batido a cabeça", penso. Respiro fundo e fixo os olhos somente na estrada. Avisto a frente da escola e me sinto aliviada por já estar chegando.
- Bom, chegamos. Deixa eu descer e abrir a porta pra você. - disse Rie, gentil e atencioso. Ele desce e abre a porta. Eu desço e, sem perceber, esqueço o meu casaco no banco do carona.
- Valeu, Rie. - digo sorrindo para ele. - Eu teria me atrasado se não fosse você.
- Bom, foi o mínimo que eu pude fazer já que eu causei tudo isso. - ele rir enquanto cobre a boca com a mão direita.
- É, você tem razão. - concordo enquanto também dou risada.
- Eu vou indo nessa. Minhas colegas estão me esperando na sala. - digo.
- Boa aula, Heejin. - ele fala com um sorriso lindo no rosto
- Pra você também - digo enquanto saio em direção a entrada da escola. Olho para trás, de uma maneira que ele não perceba que estou olhando para ele e o percebo encostado no carro me observando de longe com um sorriso no rosto. Não sei quando nos veremos de novo, mas eu espero que não demore a acontecer. E o mesmo se aplica a menina loira, pois eu tenho certeza de que não se trata de algo da minha cabeça. Aquela menina é real!
VOCÊ ESTÁ LENDO
UNDERMOONS
Ficción GeneralUNDERMOONS contará a história de 12 meninas que vivem em realidades diferentes de um mesmo mundo, tendo a lua como um portal que interliga as 3 dimensões que são a Terra, O Meio e o Éden. Todas as 12 são peças importantes para desvendar os mistérios...