I

92 7 0
                                    

 *O vídeo foi proposital para vocês conhecerem Pete e Tom. De nada!*

A vida é uma estrela que resplandece no

horizonte, no limite dos dois mundos, entre a noite

e a aurora. Quão pouco sabemos o que somos?

Ainda menos sabemos o que vamos ser.

- Lord Byron

Anos se passaram desde a graduação a primeira turma da Top Gun, escola especializada em formar pilotos para defender os Estados Unidos das grandes ameaças. Todos seguiram seus caminhos, mas Pete Mitchell, mais conhecido como Maverick, optou por desistir do sonho de seu pai. Ele sempre gostou da sensação de estar lá em cima, defender o seu país e fazer o que amava. Maverick abriu mão de tudo para ter uma família. Mesmo que no final não acontecesse como planejou. Sempre teve o sonho de fazer todas as coisas com seu único filho, Charles, que não teve oportunidade quando criança. Mary Elizabeth, sua esposa, lhe deixou após Charles completar 4 anos de vida. Deixando marcas na vida do nosso capitão. E essa era a vida de Maverick: injusta, sozinha e árdua.

Maverick manteve contato com Tom Kazanski, mais conhecido como Ice, após se graduar, mas Ice desistiu de incentivá-lo a voltar, que significava voar junto com seu amigo. E a resposta de Mitchell sempre permaneceu a mesma: não posso. "Todo mundo tem uma vida para cuidar agora" pensa Maverick sobre como se distanciou de todos, enquanto organiza a mochila do filho. Charles agora tem 12 anos, e Mave mal acredita que está conseguindo tudo isso sozinho. Quando ele terminou de organizar o material e o lanche de Charles na mochila – azul e vermelha, simples -, chama o filho pela enésima vez:

- Vamos, garoto – A voz Maverick ecoa pela casa. – É dia de escola, Charles, e você não pode continuar faltando assim­ – Ele sabia do fardo que o filho carregava.

- Eu não aguento mais, pai – Charles grita do quarto, e doía em Maverick – Eles sempre falam coisas ruins sobre nós.

- E você vai simplesmente desistir? – Maverick entra no quarto do filho, levando a mochila no ombro.

O garoto de cabelos escuros, magro e olhos azuis ainda permanecia deitado na cama. Pete não conseguia mais lidar com aquela situação. Charles parece tão depressivo quanto ele. E isso lhe preocupou sempre, mas hoje foi o limite.

- Filho, vamos fazer um acordo – Pete senta-se na cama – Pode ser?

- Diga, papai – Charles põe a cabeça no colo do pai.

- Eu te levo para a escola, você fica perto do Joseph, ok? Depois vou te levar para um lugar muito bom para gente – Maverick abre um sorriso enquanto fala com seu filho

- Você está tentando me dizer que vamos ao psicólogo? – Charles questiona ao pai.

- Quando você ficou tão espertinho, hein? – Maverick começa a fazer cócegas no filho.

- Acho que é a escola – Charles responde, e finalmente cede – Tudo bem, eu vou.

Como de costume, Charles era o último aluno da sua turma a chegar, e sempre sentia todos os olhos em cima dele ao passar pela porta. Maverick ia mais rápido do que o permitido. Pete sempre conversava com o diretor e o professor para contornar a situação. E ele jamais deixou de cumprir com suas obrigações como pai ou bancar o "solteirão problemático e irresponsável".

Quando Maverick sai da escola, ele vai em direção ao seu carro. E fica assustado com a presença de certo alguém: Tom Kazanski. Ele parecia não ter mudado nada. O cabelo dourado como a luz do rol, iluminando seus bíceps bem visíveis e mastigando o velho chiclete. "Droga" pensa Maverick.

- Quando resolveria me contar? – Tom bate a porta do carro de Mave quando tentou entrar.

- Sobre? – Maverick questiona o velho amigo.

- Sobre tudo.

- Já somos grandes e eu acho que não devo satisfações a ti – Pete encara Tom, como nos velhos tempos.

- Maverick, você está cometendo um grande erro – Tom começa a alterar a voz.

- Por que você se importa, caramba? Você já tem sua família. Eu tenho a minha, digo, Charles, e precisamos seguir em frente – Maverick o responde.

- Você continua perigoso e burro, meu caro – Tom balança a cabeça, indicando negação.

- E eu te odeio, Tom Kazanski – Maverick grita com o seu, provável, único amigo.

- Saiba que a recíproca é verdadeira, Pete – Tom o responde secamente. – Quando achar que pode ser sincero comigo, sabe onde me achar.

Pete vê o seu amigo se distanciando dele, entrando em seu Dodge Viper, azul e branco. E o olhar dele a Maverick era mistura de raiva e de ressentimento. Maverick sabia o motivo. Tom Kazanski nunca soube do abandono ou de suas crises. Pete sempre contou a história de Charles ser um sobrinho. E ano passado – época que passou distante de Tom - acabou revelando numa ação de graças. Ele não sabia o impacto dessa revelação da vida de Ice. Realmente não lhe importava. E tudo mudou num piscar de olhos.

Joseph – POV.

Vejo Charles entrando atrasado pela enésima vez na semana e não sei o que fazer para ajudá-lo. Meu pai me pediu para auxilia-lo em sala, pois seu pai foi seu amigo na escola também. No início, confesso que não gostava da amizade de Charles. Ele age de maneira bem bipolar. Tento defende-los dos capitães da outra turma, mas acabo fugindo com ele.

– Aqui, ó, presta atenção, Charles – Falo baixinho, mas ele ainda é alvo de risadas. Eu olho bem sério para Calvin e Gilbert, os amigos da galera do nono ano.

– Obrigado, Joseph – Ele me acena com o lápis.

A aula passou mais rápido que o carro do meu pai. Brinquei na sala de jogos com Charles. Ele era rei no xadrez, já eu não sabia como jogar. Até tentou me ensinar, mas sempre só fingi que sabia jogar. Um dia até brigamos sobre eu ser amigo dele. Não foi legal. Meu pai até falou com ele sobre e ficamos de bem.

– Charles, você quer jogar alguns jogos no Nintendo hoje? – Pergunto, mas já sei a resposta.

– Não sei... – Ele começa a gaguejar como sempre.

– Tudo bem, não precisa se alterar, é só um jogo – Comento, tentando acalmá-lo – Brincamos amanhã ou depois, o que acha? – Volto a pergunta-lo.

– Quando meu pai chegar, você pode perguntar pra ele? – Ele me implora de joelhos.

– Ok, Mitchell – Rimos, e voltamos direto para a sala quando o sinal de intervalo toca.

A aula de geometria parece um saco. Ou talvez seja eu ter que falar com o pai de Charles. Meu pai sempre falou coisas sobre ele ser estranho ou bruto. Tomara que consiga convencê-lo. O meu interesse por geometria hoje foi zero. E não posso reclamar, sou péssimo.

O sinal da saída soa e vejo todos os alunos saírem. Como sempre, espero Charles organizar seus livros e cadernos em bolsos diferentes. É um toc e não posso simplesmente repreender ou algo do tipo. Mas fico agilizando, sabe? Não quero sair daqui à noite.

Apostamos corrida até o estacionamento. Era a nossa atividade diária. Eu era bom em maratona. Ao chegar lá, vejo o carro de meu pai estacionado e a vaga do lado dele vazia, que justamente seria a vaga do carro do senhor Pete.

– Ô pai, onde estás o pai de Charles? – Pergunto.

– Eu liguei para ele, mas não consegui falar com ele. Tem algum problema em ficar na minha casa, garoto? – Meu pai pergunta a Charles.

– Não – Ele responde.

– Tudo bem.

Forever ChangedOnde histórias criam vida. Descubra agora