Forever Changed

II

Ice's - POV.

Não foi exatamente o final de tarde que planejei ter. Pete não atendeu minhas ligações desde cedo. Entrei em contato com o trabalho dele, mas fui informado que ele saiu mais cedo. Para onde ele iria? Mesmo sabendo que precisava buscar o filho na escola. Informo a Dylan, meu namorado, que estou resolvendo uns abacaxis e ao ver Charles em minha casa, ele sabia do que se tratava.

Rodo a cidade de Los Angeles, parando nos melhores bairros e outros lugares e pergunto sobre, mas ninguém me diz algo preciso. Entro em contato novamente, fico com o telefone no ouvido e apoiando meu braço sobre a porta do carro.

– Pete, onde você estás? – Pergunto calmamente.

– Ice, como é bom ouvir sua voz pela última vez – Pete fala quase como quem estivesse chorando.

– Como assim? – Ajusto o telefone no viva-voz e tento localizá-lo pela chamada.

– É isso, Ice, não posso mais prolongar esse sofrimento – Maverick afundou como um caça de guerra.

– Conte-me mais sobre – Continuo na ligação, acelero o carro mais rápido que posso.

– Para onde você está indo? Não diga que vem ao meu encontro, ou eu acabo a nossa ligação aqui – Maverick se desespera do outro lado.

– Não, não, calma, Mave, estou indo buscar as crianças na escola – Com isso, consigo acalmá-lo.

– Droga! Droga! Droga! – Ele começa a chorar do outro lado.

– Eu busco Charles pra você, cara. Ele vai entender – Respiro fundo ao dizer isso.

– Será?

– Ele é um garoto inteligente e forte como o pai – Digo.

– Não sei se sou forte o bastante.

– Você é, Maverick.

– Só está dizendo isso para eu me sentir melhor, eu sei, Ice.

Ele ainda fica relembrando o passado na academia e continuo seguindo as coordenadas do GPS. Preciso chegar lá o quanto antes. Ultrapasso o limite de velocidade por 30Km/h. E não vejo problema nisso. Não ficava muito longe de onde estava. Faltava alguns metros até chegar lá. Droga! Como estou lento hoje? Quando eu faço o movimento no volante para contornar a curva, o carro não atendeu ao meu comando e passo direto na curva. Até tentei frear o máximo para não colidir contra o muro mais a frente. O impacto era inevitável. Maverick está lá dentro e não pude chegar a tempo de salvá-lo. É nisso que penso antes de apagar por completo.

Maverick's POV.

O meu último episódio depressivo foi quando Charles estava no hospital. Na época, ele só tinha 7 anos. Seu problema cardíaco me deixou muito mal e de lá pra cá, vou ao psicólogo regularmente. Mas o vazio dentro de mim só aumentou. E eu simplesmente precisava fazer algo para pará-lo.

Paro de falar quando ouço uma batida forte vindo do outro lado da rua. Estou em um quarto alugado, bem distante do movimento de Los Angeles. Olho pela janela, mas não consigo ver nada. Saio em disparado até o local. Não queria acreditar na droga da minha intuição. Quando desço as escadas, eu vejo pessoas ao redor e reconheço as partes do carro espalhados no meio da rua.

Era ele.

Narrador's POV.

Maverick correu até o local já sabendo que Ice se envolveu em um acidente enquanto lhe procurava. O abalo sofrido pelo nosso ex-piloto foi desmedido. Pete começa a gritar no meio da rua, indo em direção aos paramédicos, pedindo para checa-lo, mas foi impedido.

– Droga, MAVERICK! – Pete começa gritar consigo mesmo.

Um homem vem em sua direção, e sabe muito bem quem era. Era Dylan, o marido de Ice.

– Como você está, Mitchell? – Dylan o abraça, e Pete estranha.

– Não sei a palavra certa, mas preferiria estar morto – Mitchell solta isso, ainda chorando.

– Você tem um adolescente em casa, seria justo com ele?

– Acho que não.

– Olha, não quero saber exatamente o que pretendia com isso hoje, mas saiba que seu filho está assustado, todo mundo está. Precisamos de você agora. Posso contar contigo? – Dylan o encara, com seus olhos castanhos.

– Tudo bem – Pete lhe responde.

Maverick's POV.

A vida não é para todo mundo. Como queria que nada disso tivesse acontecido. Agora já é bem tarde. Tento me controlar no caminho até o hospital, pedi sedativos para caso de eu surtar novamente. Meus pensamentos suicidas são substituídos pela onda de culpa e imagens do acidente de Ice. Jamais me perdoarei sobre isso. Quando chegamos no centro de atendimento mais próximo, sou o último a descer do veículo. Minha jaqueta está suja de bebida, mas entro assim mesmo no hospital.

O sangramento na parte da cabeça de Ice foi devidamente tratado. O choque não foi tão forte assim, mas conseguiu destruir parte da frente do carro e alguns ossos. Eu só quero que ele acorde. Não sei qual vai ser a minha primeira conversa com ele. Se ele quiser conversa comigo, claro. Eu não iria querer.

Passo a noite toda na ala da enfermaria. Não comi nada até agora, nem ingeri nenhuma gota de líquido. Joguei fora a minha pequena garrafa de vodka no lixo. Não me arrependo. Perto das duas horas da manhã, Dylan me ligou dizendo que precisou ficar em casa acalmando os meninos. E eu escutei tudo sem questionar. Uma enfermeira gentil trouxe uma embalagem com canja e um copo de suco do refeitório.

– Você precisa se alimentar, senhor – Ela me entrega a bandeja.

– Vou me cuidar –Respondo em seguida, colocando a bandeja do meu lado – Obrigado mesmo.