Capítulo 3

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Victoria

— Como conseguiremos levar esses tecidos, Tia Laura? São pesados.

A verdade é que daríamos um jeito. Essa questão seria o de menos. O mais importante e difícil era ter os tecidos e agoraeles eram meus.

Deus, muito obrigada por tudo isso.

Uma alegria sem tamanho me deu frio na barriga. Era a ansiedade para começar logo, desejava produzir o vestido perfeito, aquele dos sonhos, que desenhei com tanto amor.

— Ainda não sei, minha filha. Mas daremos um jeito, por ter certeza — ela me respondeu com um sorriso enorme. Era a felicidade estampada em suas feições.

— Eu acho que posso ajudar — Giovani, que manteve-se em silencio até então, se pronunciou. — Vou ficar com a van até amanhã e não me importaria em levar os tecidos para vocês quiserem, depois irei procurar um trabalho.

Nunca uma benção pela metade! Deus meu, nunca poderei agradecer o suficiente por me presentar com um dia ensolarado em meio a tantos dias de obscuridão.

— Eu não vou recusar, muito obriga, Giovani! Você foi um anjo. — Sorriu tímido.

— Você me ajudou demais, só estou retribuindo.

Ajudamo-nos mutuamente. Agora, já podia sentir a esperança de ver os meus vestidos sendo assinados por mim, podia vislumbrar uma saída, ou melhor, o começo do que me levaria a ter minha liberdade de volta.

— Estou tão feliz, Tia Laura, olhe como Deus foi generoso. — Apontei o dedo para os enormes rolos. — É mais do que eu precisava.

— Sim, eu te disse para nunca perder a fé. Sei que, às vezes, o cansaço parece levar a melhor, mas as pessoas boas atraem coisas boas, uma hora ou outra.

— Eu acredito, muito. — Apertei as mãos no peito, olhando para o rapaz cabisbaixo. — Giovani, não perca a fé, vai dar tudo certo para você também.

Ele acenou, mas pelos ombros curvados soube que não acreditava muito. Contudo, eu sabia o que era estar no fundo do poço, literalmente. Compreendia o desespero mudo no qual se encontrava.

Busquei Tia Laura com meus olhos e ela parecia pensar em algo.

— Hoje o John estava reclamando de que está cada dia mais difícil para ele subir e descer as escadas.

Abri a boca para falar, mas ela interrompeu.

— Talvez, ele precise de algum jovem forte para fazer a parte do serviço pesado — piscou um olho para mim. — Então, eu acho que consigo uma entrevista para você, meu rapaz.

— Posso mesmo ter esperanças? — Giovani falou bem baixinho. Receoso.

— Sim, a hipótese de contratar um ajudante foi levantada. O salário não é alto, mas você não precisara se preocupar em ser tratado como foi hoje. Somos uma família, cuidamos uns dos outros.

— Obrigado! Muito obrigado, eu nem sei como agradecer. Estava tão apavorado — ele começou a chorar, mas sorria de felicidade.

— Você precisa fazer a entrevista, mas eu vou dar uma ajudinha. É um começo, não é?

Inesperadamente ele me abraçou e eu retribui.

— Você não sabe o que fez por mim, Victoria. Nunca vou esquecer disso, nunca. — Sorri pra ele e recebi um lindo sorriso de volta.

Depois, jantamos e ali mesmo combinamos o horário e local que ele deveria estar no dia seguinte. Confesso que estava ansiosa e muito feliz, por ser final de semana, dessa forma não precisaria adiar o início dos trabalhos. Por mim, iria amanhecer na loja do seu John.

ANSEIO - Rocco Masari  livro 1 ( DESGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora