Humanidade: 01

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Em uma noite fria Eliza, Sérgio e seus dois filhos, Michael e Miza, se reúnem à mesa para o jantar, ao mesmo tempo acompanham as notícias do jornal local:

Jornalista: - Cientistas avançam no controle da nova doença que vem atingindo o México e em apenas uma semana conseguem evitar a morte de mais de 230 infectados, isso graças às várias instituições que estão auxiliando no combate...

Dona Eliza com seu jeito doce, dá início ao assunto:

- Ainda bem que estão conseguindo salvar os infectados, nenhum deles pediu para estar naquela situação, que Deus os abençoe...

Sérgio, admirando sua mulher, continua:

- Suas almas estarão guardadas amor, seja aqui na Terra ou no Paraíso.

Os dois se admiram por alguns instantes, parecem encantados...

Miza tenta não soar muito grossa ao falar com os pais:

- Vocês poderiam parar com isso? É bonitinho mas as vezes chega a ser constrangedor!

Todos riem à mesa, Miza e Michael ainda um pouco constrangidos lhes parecem pedir desculpas com o olhar, Dona Eliza os responde com um gesto como se dissesse não se importar.

Os dois filhos admiravam como os pais de meia idade ainda se amavam tanto, demonstravam muito carinho até em momentos difíceis ou em discussões, referiam-se sempre um ao outro como "Amor" e nunca terminavam um conflito sem um abraço, eram realmente admiráveis.

Enquanto retiram os pratos da mesa, alguém bate à porta.

Eliza: - Michael, vá ver quem é por favor.

Michael: - Claro mãe!

Quando Michael abre a porta, Eliza consegue ouvir uma voz infantil, é um menino, ele parece fazer muita força para dizer poucas palavras:

- Estou... com fome.

Seu Sérgio e Dona Eliza correm para a porta, era um menino de rua, tinha aparência pálida, tudo que vestia era uma bermuda jeans e sua camisa que parecia ser na verdade um saco grande de arroz, estava descalço, sujo e sozinho.

- Entre!

Disse Sérgio ainda procurando o responsável pelo menino.

O garoto parecia não comer há semanas, portanto não fizeram perguntas enquanto se alimentava. Ao terminar deixaram que se apresentasse:

- Meu nome é Bruno... eu moro sozinho...

Sérgio: - Onde mora Bruno?

Bruno responde com lágrimas em seu rosto:

-Na rua 17, tem uma caçamba abandonada, eu moro lá.

Todos da família se encaram com feições tristes ao presenciar aquela situação.

Miza: - Como assim? Você mora dentro da caçamba?

Bruno: - Sim.

Michael: - Como faz para dormir?

Bruno: - Uso... papelão... consigo ao longo dos dias.

Michael: - E comer? Onde arranja comida?

Bruno: - Ou peço em casas como fiz ou... tenho que roubar.

Miza: - Mãe, isso não é errado? Ele é um ladrão!

Dona Eliza se irrita com o comentário de Miza, mas antes que pudesse dizer algo, Bruno soluçando ao chorar pergunta para Miza:

- A-Acha que t-tenho es-escolha?... Nem sempre as pessoas são tão boas quanto v-vocês, algumas ao invés de ajudar me expulsam sendo agressivas... o mundo nas ruas não é como aqui dentro... é frio...

Miza chorando e incomodada com a situação que causou, corre para abraçar Bruno, Michael também, os três choram como crianças que há pouco ouviram uma história de terror... e realmente ouviram... mas essa morava à um quarteirão de suas casas e não em um livro infantil.

Sérgio e Eliza ainda perplexos com o choque de realidade que acabaram de receber vão ao quarto conversar.

Eliza: - Você sabe muito bem o que tenho em mente!

Sérgio: - E você sabe muito bem que não podemos adotar essa criança, não sabemos nem mesmo se realmente tem pais, e nós estamos com dificuldade nos últimos dias, está difícil até mesmo de trazer comida à mesa!

Eliza : - Não podemos simplesmente deixá-lo voltar à rua, não confio nos orfanatos daqui, já houveram muitos escândalos por maus tratos... vamos ficar com ele! Não podemos deixar esse garoto sozinho nessas ruas perigosas, imagine o que pode acontecer Sérgio...

Sérgio põe a cabeça para fora da porta e observa o garoto conversando com seus filhos, eles estão finalmente sorrindo, mesmo que em lágrimas...

Sérgio: -... Tudo bem Eliza, mas terei que trabalhar em dobro agora!

Disse com um tom preocupado e atrapalhado, o que pareceu engraçado para Eliza.

Eliza: - Tudo bem! Você consegue, eu sei que consegue.

Eliza com um sorriso foi abraçar seu marido. Ao chegarem na sala as três crianças estavam sentadas no sofá em silêncio, como se estivessem curiosas do que estava por vir.

Bruno: - Eu já vou embora, obrigado pela comida...

Eliza: - O quê? Pretende ir pra rua sozinho?

Bruno: - É como estive até agora...

Bruno mais do que ninguém naquela sala sabia como funcionava a felicidade, não havia como ser feliz durante 100% do tempo, a felicidade assim como a vida, assim como a fome que sentia, era finita, e para ele assim como o jantar que tivera, era rara.

Eliza: - Até agora...

Bruno: - Hãn?

Sérgio: - Fique conosco garoto... pode ser nosso filho se concordar, prometemos educá-lo e sustentá-lo assim como fazemos com Miza e Michael...

Bruno: - Eu?... Pais?...

Bruno parecia confuso, mas as seguintes palavras de Miza pareceram limpar sua mente e tê-lo feito enxergar:

- Nós te amamos Bruno!

...

Chorando Bruno corre para os braços de Dona Eliza, e todos emocionados se reúnem em um abraço caloroso.

Bruno agora tinha casa, alimento, mas acima de tudo tinha algo que poderia lhe proporcionar muito mais: Bruno agora tinha Amor, Família; e sentia que mesmo que tivesse de voltar à morar no frio das ruas, mesmo que tivesse de passar semanas com fome, se estivesse com sua família não se importaria mais com isso, esse é o Amor de Eliza, Sérgio, Miza, Michael, e agora Bruno.

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⏰ Última atualização: Mar 28, 2020 ⏰

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