Quimera

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Campinas, 2000

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Campinas, 2000

Aos 17 anos, Ana Carolina Alves Barbosa enfrentava a vida diferente das outras garotas da sua idade, talvez porque teve que aprender a se virar sozinha muito cedo. Ou porque não se importava com as mesmas coisas que alguém na sua idade considerava relevante.

Tinha desistido do seu sonho.

No momento, o mais importante era trabalhar, terminar o ensino médio e ajudar seus avós. Faculdade? Não era prioridade, até porque não tinha nenhum curso que gostaria de fazer. Só queria ajudar as pessoas, defender aqueles que precisavam, que eram ignorados pelas leis e pela sociedade. Ideais que seus pais a ensinaram em um passado que ao mesmo tempo parecia distante e próximo. Como uma lembrança que se recusava a ser esquecida, que sempre estaria lá para lembrá-la dos valores nos quais havia sido criada.

Ana trabalhava em uma livraria no Shopping Iguatemi. Os cabelos loiros estavam cortados curtos, em um corte chanel, o que deixava seu rosto angular, de maçãs elevadas, ainda mais exposto de forma intimidante. Gostava de desfrutar dessa imagem. Apreciava a ideia de ser temida.

Como era final de semana, o lugar estava bem movimentado, como se fosse a rua 25 de Março dentro de um prédio. E por ter ficado a manhã inteira em pé, suas pernas pediam por descanso e seu estômago, por comida.

Seus olhos caramelos foram em direção ao relógio. Dois minutos, somente dois minutos para a sua pausa para o almoço, pensou como se fosse algo muito sagrado.

— Ana? Posso falar com você? — Raquel perguntou, os olhos ainda angustiados. Era um ano mais nova e trabalhavam juntas, tinham até desenvolvido certa amizade, ou melhor dizendo, certa afeição. Raquel era morena, de longos cabelos negros e olhos castanho-claros, inteligentes.

— Claro que sim — Ana assentiu e a guiou para um canto vazio da loja. Raquel era uma companheira de trabalho esperta, que sabia envolver os clientes e elogiá-los com uma falsa sinceridade que algumas pessoas precisavam para adquirir alguns produtos.

— Eu só quero agradecer por mais cedo. — Levantou os olhos e a olhou com o sorriso mais genuíno que Ana havia visto. — Obrigada.

— Fiz o que deveria ser feito. — Deu de ombros.

E tinha feito mesmo e, se pudesse, faria novamente.

Mais cedo, Raquel e ela haviam ido ao banheiro do shopping. Ficaram separadas por alguns minutos e, quando Ana voltou a vê-la, havia um homem encurralando Raquel no corredor entre o banheiro masculino e o feminino. Ana foi ajudá-la e, como seu pedido para ele se afastar não foi ouvido, torceu-lhe a mão e o ameaçou, dizendo para jamais se aproximar de Raquel novamente. Ana sorriu quando ele não se atreveu nem a sorrir.

Na verdade, o homem não passava de um adolescente idiota.

— Mesmo assim, obrigada.

Ana, por fim, assentiu novamente e abriu um pequeno sorriso.

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