Eu lembro de você bêbada fazendo graça na minha frente naquele rolê, dançando pra me provocar.
Jogando o cabelo na minha cara e rindo sem parar com sua cerveja na mão.
Você sempre teve esse jeitinho tão seu, essa coisa toda sobre querer ser invisível nesse mundo cheio de câmeras.Você queria passar despercebido, não queria chamar muito atenção, roupas simples, maquiagens leves e uma incrível capacidade de ficar irresistívelmente linda até com minhas camisas, você que não tinha o costume de beber, na primeira que a gente fodeu bêbados, você gozou e começou a rir dizendo "amor, me compra cerveja sempre agora, tá bom?", eu acho que talvez a gente tenha se entendido tão bem por que mesmo com esse nosso jeitinho torto, a gente se encaixava.
Sempre pareceu que fomos feitos sobre medida.
Todas as vezes que você chegava em casa e já estava meio alterada porque tinha bebido na rua, você chegava rindo e fazendo gracinha.
Eu te xingava morrendo de rir por que reclamava que também queria beber.Eu pagaria qualquer coisa pra ouvir te dizer de novo: "tô louca, e morrendo de vontade de você. Me fode."
Sua cara de santinha em público enganava bem, e eu sempre te provoquei por isso.
Em todos os lugares que a gente ia e você mantinha a pose de menina boazinha, eu chegava no seu ouvido beijando seu pescoço dizendo: "você é safada, não me engana" e você ria virando pra me beijar.Quando a gente terminou o que eu mais ouvi das pessoas foi: "o tempo cura".
E eu decidi acreditar, já que não tínhamos volta.
E a única coisa que eu precisava era te esquecer, ficar sem você tava me matando. Hoje, anos depois, eu queria poder avisar que o tempo não adianta de porra nenhuma. O ponto é que você fica sem aquela pessoa por tempo demais e acaba se acostumando com a ausência dela, e isso também é horrível.Num exemplo básico: a escuridão é ausência de luz.
Alguns segundos num ambiente escuro e seus olhos se adaptam e você já enxerga um pouquinho melhor.
E foi isso que aconteceu comigo, eu só me acostumei com a escuridão que é viver sem você.