Capítulo 2

30 0 0
                                    

Pierre se deliciava sentindo a água quente que escorria pelo seu corpo. Após quinze minutos, ele saiu com a toalha em seu quadril, olhou acima do espelho e viu que o relógio apontava 17:30. Observou seu guarda-roupa por uns instantes enquanto decidia qual roupa usaria, por fim acabou escolhendo por um terno preto deixado por seu pai que o costumava usar somente em ocasiões especiais, uma blusa social preta junto de uma calça social e um sapato bem engraxado.
Penteou o cabelo, colocou cuidadosamente seu óculos redondo e por fim passou o seu discreto perfume.
Enquanto estava indo em direção em direção ao endereço fornecido pela jovem escritora, Pierre teve um acesso de perguntas sobre essa tal mulher. "Como ela é?"  "Como eu nunca a vi?" "Como nunca ouvi falar?" 
Chegando ao endereço, Pierre estacionou em frente ao prédio que possuía uma aparência simples e rústica. Após falar com o síndico pelo interfone, o mesmo permitiu sua entrada e assim Pierre adentrou o prédio e foi em direção ao elevador. Pierre estava impaciente, apertou o número 17 e aguardou ansiosamente enquanto o elevador subia. 
Vaidoso como era, ajeitou seu terno diante do espelho do elevador e observou tensamente a porta do mesmo se abrir. Caminhando pelo corredor, procurou pelo apartamento de número 85, após chegar em frente ao mesmo respirou fundo e sutilmente bateu duas vezes e aguardou impaciente. Ouviu passos indo em direção a porta  e o destrancar da mesma cuidadosamente. O barulho lhe remetia algo, aquela sutileza não era surpresa para ele. Ao abrir da porta, Pierre observou com os olhos pouco arregalados a mulher que tanto lhe mexeu a cabeça. Aquela franjinha, aquele olhar, aquela pele morena. Caroline lhe deu um simples "Oi" e um meigo sorriso, aquele mesmo sorriso de um ano atrás. 
- Sr. Portiê? - Caroline indagou enquanto o observava. 

Pierre após longos segundos em silêncio, confirmou com a cabeça e retribui o sorriso, em seguida foi convidado para entrar por Caroline. Ao adentrar se deparou com uma casa rústica, à moda vintage, com cartazes de filmes antigos emoldurados em pequenos quadros, móveis bem colocados e livros por todas as partes do apartamento. Caroline o convidou para se sentar em uma poltrona ao lado da lareira e o rapaz se surpreendeu com o quão confortável era o assento; Ela se sentou em frente a ele, a pouco mais de um metro de distância. Possuía uma prancheta nas mãos, e um olhar misterioso, estava vestida com uma blusa de manga longa ombro a ombro com um decote em "V", uma calça um pouco mais curta e uma sandália de salto alto, tudo em preto. Pierre havia reparado em uma tatuagem abaixo da clavícula de Caroline, eram duas mãos quase se tocando; ele de imediato reconheceu o desenho que era parte da pintura renascentista de Michelangelo, A criação de Adão. A propósito, Pierre achou muito sexy. Não só o fato da tatuagem, e sim de todo o conjunto. O olhar, como estava vestida e até mesmo como cruzava as pernas. "Nem Michelangelo conseguiria pintar essa obra de arte" Pensou consigo mesmo. 
Após um minuto de análise de ambos, Caroline foi a primeira a falar. 
- Antes de tudo Sr. Portiê, devo apresentar-me. Como sabe me chamo Caroline Bijor, tenho vinte e cinco anos e sou nova no ramo da escrita profissional. Meu estilo literário é romance e dou preferências a vocabulários formais. - ela fez uma pausa e olhou para Pierre que a observava atentamente. - Minhas maiores influências são: Jane Austen, William Shakespeare, Charlotte Brontë, Jojo Moyes e Barbara Freethy. Como pôde perceber, sou uma grande admiradora da literatura inglesa, e sempre busco escrever minhas histórias com base nas minhas influências. Bom, agora que já me apresentei me fale um pouco sobre você Sr. Portiê.
Pierre pigarreou antes de começar a falar, com os batimentos acelerados mas um olhar sereno por fora, começou:
- Sou o que muitos chamam de "um jovem sonhador", sou esforçado, e muito criativo. Desde criança sempre fui muito observador e sempre tive facilidade em transformar isso em algo produtivo em relação ao meu trabalho. - Pierre disse calmamente.
-Me diga então sr. Portiê, por que nunca se tornou escritor? - Caroline perguntou curiosa.
Prefiro agregar conhecimento e criatividade as pessoas, nunca fui a pessoa que de fato colocava as coisas em prática, mas em geral os projetos do qual estive envolvido, tinham uma grande influência minha. - Pierre pausou esperando algum comentário da parte de Caroline, como não veio, ele prosseguiu. - A respeito do meu último trabalho, tive bastante influência nos principais livros de Niko Foldier, lhe dando quase toda ideia de espaço e percepção da relação do personagem com o ambiente que ele fazia parte.- Pierre finalizou e viu que Caroline o observava atentamente.
- Agora me fale sobre sua personalidade, suas maiores qualidades e defeitos, sobre suas paixões e sobre o seu maior objetivo, e como trabalhar para mim e comigo o faria alcançar suas metas.
Pierre arrumou o seu terno e cruzou as mãos, olhou firme para Caroline e viu que a mesma levantava discretamente uma das sobrancelhas. 
- Sou calmo e lido muito bem com situações caóticas; minha maior qualidade é a paciência e compreensão e meu maior defeito é a vaidade. - Pierre notou a expressão surpresa no olhar de Caroline. - Minhas maiores paixões são os livros, especificamente os romances. E o meu maior objetivo é ser basicamente o melhor no que eu faço, trabalhar por aquilo que eu amo e não apenas pelo dinheiro. 

- Mas o senhor não acha que o dinheiro é algo importante? - perguntou Caroline antes que Pierre pudesse prosseguir. 

- Sim, mas não é o mais importante para mim. - Pierre disse firmemente.

Os dois se olharam por alguns segundos e em seguida, Pierre prosseguiu. 
- Em relação a como trabalhar para você e com você faria com que eu alcançasse as minhas metas, gosto de pensar que faríamos uma troca; você me ofereceria não apenas a oportunidade de tornar os seus projetos melhores, mas também, através deles, tornar melhores as minhas habilidades profissionais, consequentemente assim eu estaria alcançando pouco a pouco o meu objetivo, ser o melhor no que eu faço.

Pierre concluiu e esperou que Caroline dissesse algo. O silêncio dela de alguma forma o incomodava. O seu olhar penetrante ainda causava a mesma sensação um ano atrás. Pierre constantemente se perguntava como isso era possível? Como aquela mulher podia lhe mexer a cabeça depois de tanto tempo? Mesmo que a virá apenas uma única vez em sua vida?
- Mais uma coisa sr. Portiê… Escolha para mim três livros. - ela pediu pegando-o de surpresa. - Escolha qualquer um, aposto que tem livros suficientes aqui possam lhe agradar. 

Pierre estupefato olhou para a mulher diante de si, levantou após breves segundos e caminhou lentamente pela sala de Caroline. Seus olhos se deliciaram ao verem os nomes de escritores a quem Pierre admirava entre as muitas prateleiras, até que finalmente encontrou o primeiro livro que lhe encherá os olhos. Um porto seguro, do renomado escritor, Nicholas Sparks. Pegou o livro em suas mãos e dedilhou a capa como sempre fazia, gostava de admirar as obras físicas dos autores. Era como um ritual. Voltou a olhar para as prateleiras novamente e ali achou mais um livro que o fizera sorrir, Dom Casmurro do conceituado e ilustre Machado de Assis, um grande escritor brasileiro, na opinião de Pierre, o melhor. Pierre deu mais alguns passos pela sala, mas nem sequer tirou os olhos dos livros, mesmo que, o olhar penetrante de Caroline ainda o perseguia por onde quer que fosse. Em uma prateleira alta, ele por fim encontrou o seu último romance; Anna e o beijo francês, da escritora de romances juvenis, Stephanie Perkins.
Após fazer suas escolhas, Pierre caminhou lentamente até Caroline, e está mesma se levantou, ele lhe entregou os livros e ela os analisou. A expressão de Caroline era impassível, e isso intrigava Pierre, ele se perguntava o que afinal ela queria com aquilo? O que ela quer ver? O que ela queria saber sobre ele?
Após alguns minutos de análise, ela o encarou, e deixou que um resquício de sorriso, caísse sobre os lábios. Ela colocou as obras em cima da poltrona que estava sentada e olhou novamente para Pierre. 
- Bom sr. Portiê, a entrevista acabou. Entro em contato com o senhor. Muito obrigada. - ela disse finalmente. 
- C-claro… - ele gaguejou um pouco. - Claro srt. Bijor, foi um enorme prazer. 
Pierre ainda estava aturdido, olhou em volta e virou-se novamente para Caroline que agora caminhava em direção a porta. Ela abriu a mesma e os dois se despediram cordialmente com um "boa noite". Pierre estava acelerado, abriu dois botões da camisa social e tirou o terno. Apertou incessantemente o botão do elevador e adentrou o mesmo rapidamente. Sua cabeça estava a milhão, Pierre se fazia vários questionamentos, o que porra tinha acontecido? Como aquela mulher havia surgido em sua vida depois de tanto tempo? O que porra tinha sido aquilo que ela havia lhe pedido? Com certeza era um teste. Mas com qual finalidade? 

Quando Pierre chegou em sua casa, sua cabeça ainda estava confusa. Ele tomou um banho e deixou toda tensão se esvair junto a água. Colocou sua calça de pijama e simplesmente se deixou cair sobre a cama. A última coisa que se lembrou antes de pegar em um sono profundo, foi a voz de Caroline dizendo o seu sobrenome, Pierre gostava de como ele saia de sua boca. 




Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 29, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

GlamourOnde histórias criam vida. Descubra agora