01 . Just, don't!

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"Blackbird singing in the dead of the night take this broken wings and learn to fly." Beatles.

 Seoul, 1993. 

park jimin. 

"Você tem que entender, senhor Park, é que eu não estou te reprovando porque quero." Senhor Choi diz. " Você tirou uma das menos notas do semestre na minha classe, pela terceira vez." 

Senhor Choi Jinhyuk era um senhor de quase sessenta anos que me dava aula de Direito Constitucional 2, pela terceira vez. Era charmoso para a sua idade e me tratava como um filho. Talvez por eu ter sido único em todos os seus anos como lecionador em que repetiu sua aula. Era um senhor fácil de se lidar, em comparação à todos os meus outros professores. 

Eu estava fracassando na faculdade e pechinchando na reitoria desde que entrei, para ser sincero. Eu sempre soube que não era o curso que eu queria engrenar, mas eu também não sei qual eu gostaria de estar, então fui levando com a barriga. 

A decepção que está nos olhos do senhor Choi é a mesma que eu quero evitar que meus pais tenham, mas era algo fora do meu controle por que, com mais essa matéria, eu reprovei em 10, e esse semestre eu só tenho 6. Quatro matérias são dependências de outros períodos que eu já nem lembro mais. 

Suspirei e sorri fraco. 

"Acho que isso é um sinal, não é, senhor Choi?" pergunto para ele ainda cabisbaixo. 

"Meu menino..." ele sorri para mim. "Eu já conheci muita gente por esse mundo e, infelizmente, não adianta forçar conhecimento à alguém. Você se deu ao máximo à essa faculdade, senhor Park, eu tenho visto. Mas, como os jovens dizem hoje em dia?" Ele parece refletir por um momento. "Ah sim! Não é muito a sua praia, menino Jimin." Senhor Choi solta uma risadinha antes de me puxar para um abraço. 

Me seguro para não chorar, eu estava sem direção, com medo, mas entendia que era o fim. Eu, Park Jimin, iria sair da faculdade de Direito e Ciências Jurídicas de Seoul. Mas para onde eu iria? Eu não poderia voltar para casa, não no meio do semestre onde todos já tem suas expectativas em mim. Eu to no sétimo período, iria começar a estagiar,  mesmo sendo a pessoa menos classificada para isso do mundo, minha mãe contava com isso.

"Jimin, escute bem o que eu vou lhe dizer. Deixe esse velho rabugento te aconselhar. " Senhor Choi diz ao se afastar do abraço. "Volte para casa, arrume um emprego, algo que não tome muito seu tempo. Saia com os amigos, se dê um descanso, meu menino. Arrume alguém, se apaixone, o mundo é muito mais do que uma sala empoeirada de Seoul." Ele sorri e dá um tapinha singelo no meu ombro. "Espero que venha me visitar daqui um tempo, senhor Park."

Sorri mediante sua ação e acenei na medida em que ele se afastou, saindo da sala. 

Passo as mãos no cabelo e suspiro olhando ao meu redor. Um passarinho amarelo e vermelho pousa na janela aberta perto de mim e parece descansar um pouco antes de cessar voo novamente. 

Eu não sei o que eu iria fazer mas, quando percebi, estava indo em direção à reitoria da faculdade. Senhora Kim Eunjin já me conhecia de tanto tempo que eu passava ali, todo mês. Ela sorriu pequeno e se levantou até a garrafa de café próxima a sua mesa, preparando uma xícara pequena, me entregando logo em seguida. 

"Bom dia, senhor Park." ela sorri, retribuo o gesto. " Senhor Lee teve que ir ao departamento de Literatura mas já está ao caminho. Posso fazer algo para o senhor enquanto espera?" 

"Tudo bem." Sorrio simples. "Eu vou sair da faculdade." digo, ela não me parece surpresa. 

Será que todos ao meu redor estavam apenas esperando o dia em que eu iria finalmente me dar por vencido?  Será que todos estavam esperando um oportunidade para que suspirem aliviados? Tenho certeza que sim. 

Pela expressão da senhora Kim, ela está um pouco ansiosa e percebo que está tentando achar as palavras certas para me dizer, sem me machucar. 

Minha vontade é de dizer "tudo bem, vá em frente, nada mais machuca mais do que minha própria mente", mas não o faço. Ao contrário disso, apenas sorrio mais uma vez para ela, que suspira. 

"Oh, senhor Park." ela diz. "É uma decisão muito importante, espero que tenha pensado seriamente nisso." 

Quis dizer que não, que havia tomado aquela decisão há minutos atrás, mas não o fiz. Senhor Kim cuidou de mim, tanto quanto senhor Choi, tanto quanto o senhor Lee. Decepcioná-la dói demais e não quero piorar mais a situação. 

Apenas concordo brevemente e assisto ela sair de trás do balcão bem posicionado no meio da reitoria, à esquerda da porta onde o escritório do senhor Lee se encontrava. Ela vem até mim com um olhar ameno e um sorriso singelo brincando nos lábios. 

"Irei sentir sua falta, menino Jimin. Muita." ela diz. "Você me lembra meu neto, Minhyuk, não pela aparência, mas pela personalidade forte. Mas ao contrário de você, Minhyuk fica o dia inteiro em um bar enchendo cara. Gosto de pensar que você é a versão dele que deu certo. " Sorri e acaricia meu rosto. "Oh, senhor Lee está voltando. Vou deixar vocês conversarem." 

Senhor Lee passa pelas portas e caminha até o meu lado, com o mesmo semblante preocupado de sempre. Apesar de não aparentar a idade que tinha, ele já passara dos quarenta a um bocado, mas continuava com uma feição jovial e madura em seu rosto. 

"Park Jimin!" ele salda. "O que devo a honra de te-lo no meu escritório?" Ele sorri e estende sua mão para que eu o aperte. "Vamos, entre, vejo que precisamos conversar." 

Depois de um tempo explicando ao senhor Lee o porque eu estaria trancando a faculdade e de gesticular como um louco, ganhando com certeza um rubor no meu rosto, o observo gargalhar. 

Ele também não me parece surpreso, o que de certa forma, ao contrário de como me senti com senhor Choi e senhora Kim, não me deixa para baixo. Se tinha alguém que eu sabia que não estaria surpreso por eu trancar o curso, esse alguém era o senhor Lee. 

"Jimin, meu garoto. Demorou um bocado para que finalmente visse que Direito não era o seu lugar, não foi?" Ele ri. "Eu imaginei que isso aconteceria em algum momento até preparei um... onde foi que eu deixei?" Ele mexe em algumas das gavetas, olhando aqui e ali e sorri quando finalmente puxa algo. Uma língua de palhaço. Fico confuso. "Assopre pois hoje você tem liberdade." Ele me entrega. Assopro o objeto sorrindo depois. 

Senhor Lee era, de todas formas, alguém surpreendente. 

"Escute, senhor Park, o que eu vou lhe dizer." ele suspira e fica sério por um momento. "Eu quero que o senhor use esse tempo para se descobrir, fique um ano, dois anos fora, caso precise. Você ainda é jovem, meu garoto. Somente eu sei o quanto você batalhou e se esforçou mas essa realmente não é sua área. Descubra sua vocação, meu menino. Você merece." Ele sorri e me dispensa de sua sala. 

Faço uma reverencia tímida e saio da sala, acenando para senhora Kim logo em seguida. 

É isso. 

Rumo ao verdadeiro Park Jimin iremos. 

... 

olá.

até domingo que vem, as oito horas.

nos vemos por ai

xoxo

- S. 


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