Capítulo 05

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Muitas vezes não percebemos quando um momento é importante, até olharmos para trás e vermos que agora ele só existe em nossas memórias falhas.

-??

As cores projetadas na televisão já não eram tão vivas, a brisa que vinha da janela já não era tão refrescante, a lua já não se mostrava tão majestosa, e as estrelas pareciam ter deixado de brolhar para mim. Tudo havia assumido o mesmo estado que eu: Mórbido e sem vida alguma.

Dambi tentava de qualquer custo me consolar dizendo que um dia todos nós morreremos, que essa era a ordem natural da nossa existência. Eu não ouvia ela, eu não queria ouvir ela. Eu queria consolo algum, não queria que chorassem por mim ou sofressem minha perda. Queria respostas, queria a saída. Afinal, eu continuo aqui, inferno!

Após termos saído do apartamento de Jeon Eu Não Ajudo Espíritos Jungkook, Dambi e eu voltamos para sua casa de ônibus. Preferia ficar um pouco só, pensar um pouco sobre tudo e, talvez no final da noite, me jogar na frente de algum trem para ver se dói. Ela nem quis me escutar, disse que não queria me deixar sozinho na rua, pois, segundo ela, Levianos poderiam tentar me atacar. Resolvi não discutir sobre isso, realmente haviam muitos espíritos rondando aquela noite.

Que zelo ela teria que ter por mim, afinal? Já havia mais nada pelo qual ela poderia me defender nessa altura. O que ela faria caso algum Leviano me perturbasse, chamaria Ed e Lorraine Warren?

— Não vai dormir? Está aqui há horas — Perguntei a menina que estava sentada de maneira desleixada ao meu lado assistindo televisão, como sempre. — Tem que ir para a escola amanhã cedo, não?

— Ainda não, não consigo dormir agora... — Ela dizia com os olhos atentos para o filme que passava no televisor.

— Não vai ao menos tentar, Dambi, sério? Nunca imaginei que você, a menina mais sistemática que conheço, iria deixar de ir à escola para assistir filmes. — Eu rio fraco ao vê-la revirar os olhos, me levantando e espreitando no batente da janela. Passo a olhar a lua, que já estava tão escondida devido o céu nublado.

— Não, Taehyung, eu não eu não tô afim, ok? — Ela me olha com um sorrisinho nos lábios, não muito sincera.

Resolvi não insistir, ela não iria me escutar mesmo.

Olhando um pouco mais para fora, percebo que preciso urgentemente de um café. Um café bem forte e sem açúcar, daqueles que deixam a língua amarga por bastante tempo. Por isso eu me jogo no sofá, por cima de Dambi mesmo, e a olho com os mesmos olhos pidões que a lancei na loja de conveniência.

— Ei... faz café pra gente? — Ela me olha com tédio, respirando fundo antes de me empurrar de cima dela e se levantar, me fazendo escorregar até o chão com um sorriso convencido escancarado na minha cara.

— Você precisa aprender a fazer café sozinho, falo sério. São 23:31 da noite e você me faz levantar do meu confortável e cheiroso sofá para vir fazer café. Além do mais, quem em sã consciência toma café de noite? — A ouço reclamar enquanto arrasta os pés até a cozinha.

— Seu sofá cheira a queijo artificial. Daqueles de salgadinhos baratos, sabe? — Eu digo enquanto atravesso a parede, cortando caminho até a bancada de sua cozinha, onde eu subo e fico sentado, balançando minhas pernas.

— Você fez curso para ser cara de pau desse jeito? — Ela põe a água para ferver. — E cuidado para não derrubar essas garrafas de vidro daí de cima, vai dar muito trabalho para recolher os cacos depois.

— Sua tia não vai deixar de trazer essas coisas para cá, não é?

— Ela chega tão bêbada da rua que sequer repara na sua presença aqui, quem dirá notar o quão irresponsável consegue ser. Eu realmente não posso reclamar de nada disso, Taehyung, ela me salvou daquele lugar.

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