Qualquer coisa

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    Meus cabelos voavam como pássaros agitados fugindo da estação do inverno e provavelmente, meus cachos estariam alvoroçados. Suspirei sentindo o ar gelado ferir minha pele, enquanto olhava ao meu redor, me perguntando novamente como aquilo aconteceu. Minhas mãos estavam geladas e a única coisa que as faziam "esquentar", era uma fruta-doce, a qual eu estava comendo. O clima frio estava acompanhado de uma ventania cortante, que fazia minhas vestes praticamente se tornarem finas.

    Não havia se passado nem se quer dois mil anos após a destruição do principal reino que era do norte, ou melhor, o principal reino. O reino Alev, conhecido como o reino dos dragões, o meu reino.

    As grandes muralhas que já houveram ao seu redor, hoje são apenas o pó que compõem o solo. Me abaixei e passei a mão na grama, tentando não dar foco na grande ruína que aquele reino agora se encontrava. Eu ainda não entendia ao certo como tudo aquilo aconteceu, éramos os mais fortes, os mais poderosos e principalmente, os mais sábios. Como?

    De qualquer modo, pude sentir um certo alívio assim que ocorreu a ruína daquele lugar, não era frieza ou algo assim, mas o prazer ao sentir que toda a monarquia havia morrido, era maravilhoso, afinal, desde o dia que nasci fui algemada a jamais fugir dali, sendo forçada a viver como algo que eu não era.

    Dei uma última olhada ali, deixando uma Solson, — uma bela flor que lembrava ao sol — sobre o túmulo da minha mãe, que um dia já foi rainha daquele reino. Ajeitei meus cabelos, para finalmente sair daquele lugar, tendo em mente que não podia me virar novamente, pois, as malditas lembranças que aquele lugar me proporcionou iriam voltar. Eu iria chorar e provavelmente aquele homem iria perceber meu rosto inchado, iria querer saber o motivo e iria tentar me entender novamente.

    Assim que meu reino caiu, tive que fugir. Minha vida claramente não iria ser mais a mesma e o pior, todos os grandes reinos já me conheciam e com a queda de meu reino eles iriam querer minha posse ou até mesmo me considerar uma traidora, por ter sido a única sobrevivente, e assim, isso iria quebrar a aliança entre todos eles a qual ainda trazia paz. Portanto, minha única saída era ir a um reino independente, sem uma monarquia no domínio, e bem, era cômico pensar que Eldarya era como diziam: "O reino sem dono". Sendo apenas dependente de um cristal, o qual diziam trazer vida — uns bando de lunático. 

    Um reino "desordeiro" ao olhar de um rei, sem estrutura para estar sendo independente e agora sim eu entendia as palavras de meu pai, quando dizia que Eldarya precisava virar uma colônia, porém, mesmo sendo aos meus olhos um reino que me assemelhava a uma rã de Grounds, era o único local que eu podia viver sem ser descoberta. A partir daí, de dia vivia trancada dentro de uma hospedaria e a noite quase nem saia de um bar vizinho.

    Era uma senhora satira, — que provavelmente faltava poucos dias para morrer — dona daquele encangalhado lugar, porém, eu era uma de suas poucas clientes que sempre tentava puxar assunto, até o dia dela me vender por duas pedras de ouro aquele acabado bar, claro, aceitei e então, desde dai, vi Eldarya crescer para continuar sendo o mesmo esterco de sempre. 

    Pude conhecer um dos primeiros moços importantes daquele lugar, um homem denominado de Leiftan. Surpreendente eu sentia sua vitalidade de longe, mostrando que havia grandes possibilidades dele ser mais velho ou alguns anos mais jovem do que eu — o que era algo raro de se encontrar.

    Leiftan era príncipe de um reino vizinho, não sabia qual era sua raça, mas aparentemente os reinos ainda estavam de olho em Eldarya. Logo após, um "governo", ou melhor, um quartel general já estava se levantando, dando uma breve desculpa que eles deveriam ter um, para caso de ataque. Foi aí que suspeitei, que possivelmente os outros reinos já estavam agindo em querer usar Eldarya, como um recipiente para brevemente colonizá-la. 

A realeza está ocultaOnde histórias criam vida. Descubra agora