Capítulo Único

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Eu nunca me importei muito com religião. Quer dizer, é interessante e tudo mais, as velhas parábolas e reflexões filosóficas de pessoas que viveram há dois mil anos sendo aplicadas no presente. Eu particularmente gostei de ler a Apócrifa e o livro de Apocalipse, mas fiz a leitura como se fossem simples histórias. Até mesmo alguns dos mandamentos, como a ênfase em moralidade e laços familiares me agradam, mas em termos de uma entidade onipresente que criou a todos nós e mesmo assim nos ama incondicionalmente enquanto observa cada um de nossos movimentos... Ah, pra mim é difícil de engolir.

Eu não sou seguidor de nenhuma doutrina religiosa em particular, mas sabendo o que eu sei agora... Vamos dizer que me chamar de ateu seria um pouco redundante. Me denominar assim iria contradizer hoje todos os principais métodos científicos e observações. Chamar o que descobrimos de "Deus" pode ser também um tanto quanto precipitado, mas não existe dúvida... Encontramos alguma coisa grande.

A ciência de tempos em tempo se tornou uma espécie de instituição infalível. Uma que sofre com a ignorância e desconfiança por causa de conceitos que impedem a abertura da mente de seres egoístas. Muitas vezes, é usada como trunfo para negar tudo aquilo que não se assimila á narrativa escolhida da vez. Por conta disso, muitas vezes coisas que poderiam até ser possíveis, são negadas por não haver "Métodos de comprovação."

Apesar de todo o bem que já trouxe, a ciência não é, e nunca será uma verdade absoluta. Nada é. A ausência de provas não é a mesma coisa que provas de ausência, se é que me entende. E o que aconteceu naquele dia, naquele laboratório abaixo das ruas geladas de Stockholm agora prevalece como um testamento da minha vida, de todas as aventuras que a humanidade irá experienciar. Me serve como uma âncora, e se algum dia eu me encontrar á deriva nos mares traiçoeiros da falsa sensação de controle, minha experiência daquele dia me lembrará do quão pequenos e insignificantes todos nós somos.

Eu me formei na USP com uma graduação de bacharel em física, e uma incrível oportunidade caiu no meu colo. Um dos meus professores mexeu uns pauzinhos e eu fui contatado por um laboratório e m Stockholm, que me ofereceu uma vaga de emprego. Eles ficaram impressionados com a minha tese sobre teoria das cordas e a aplicação matemática ao processo universal. Eu, é claro, aceitei a oferta sem pensar duas vezes.

Desde então eu troquei meu estilo de vida brasileiro para ir morar do outro lado do planeta, no frio Suíço. Eu não estava preparado para o frio. A maioria os meus verões foram passados de bermuda e chinelo, nas praias do sudeste brasileiro enquanto aproveitava o sol. A Suíça poderia muito bem ser outro planeta. A temperatura chegava a uns trinta graus negativos de ranger os ossos. Para a minha sorte, eu tinha família na Suíça que me ajudou a me acostumar ao clima e a sociedade Suíça.

Eu fui trazido para a equipe e lentamente comecei o árduo processo de me enturmar com o grupo, Todos eles foram incrivelmente gentis e me deram as boas-vindas, mas o sentimento de ser muito inferior aos meus colegas de trabalho não era fácil de se superar. O projeto consistia em mais de 50 homens e mulheres, todos eles eram os melhores que o mundo tinha a oferecer. Vinham da Alemanha, Japão, Polônia, Hong Kong, Koréia do Sul e muitos outros países. Era um amontoado das melhores mentes do planeta. Vê-los em seus elementos, e admirando como suas mentes funcionavam era incrível... E intimidador.

O objetivo do projeto era estudar os comportamentos das partículas subatômicas para decodificar o complexo mundo das matrizes teoréticas de energia. Por extensão o grupo também alocou recursos para desenvolver ferramentas para observar e decodificar a hipótese do emaranhamento quântico e a teoria das cordas, que foi o assunto de minha tese. Os princípios ainda estavam no estágio inicial naquela época, e nenhum de nós sequer sonhava com a magnitude dos resultados que iríamos obter.

Quando a ciência encontrou "Deus"Onde histórias criam vida. Descubra agora