- Acorde - seus olhos se abriram ao que a voz da mulher chegou aos seus ouvidos, ardendo com o contato com a água - Levante-se.
O homem se ergueu do fundo do lago de uma vez só. A água escorria pelo seu corpo à medida em que ele caminhava em direção à margem, onde uma figura o aguardava. O homem era imenso, um brutamontes. Suas veias pulsavam nos músculos enquanto segurava seu facão com força. Seu rosto desfigurado era coberto por uma máscara de hóquei, terrível seria a descrição do mesmo. Seus passos eram lentos e firmes, embora a água do lago não parecesse demonstrar resistência.
Ao se aproximar, a figura ficou mais nítida. Era uma mulher muito velha, decapitada. Segurava a cabeça decepada no colo com ambas as mãos.
- Meu filho - ela disse, com uma voz rouca e arrastada, tal qual uma bruxa - Oh meu querido Jason. Hoje é seu aniversário, querido. E em uma sexta-feira! Esses rapazes insistem em vir ao lago, insistem em perturbá-lo mesmo depois de morto - Jason não responde, apenas a encara, de alguma forma demonstrando respeito, apesar do rosto coberto - Mate-os. Mate todos eles. Vingue-se, meu filho. Vingue-se daqueles que o deixaram morrer neste lago!
Jason segue a trilha floresta adentro, obedecendo à mãe com uma devoção inquestionável.
*****
Jason segue a trilha até uma pequena clareira, local onde está acostumado a ver os adolescentes acendendo fogueiras, cantando, contando histórias e transando. A clareira terminava de uma trilha do norte, que a cortava e continuava ao sul, em direção ao lago. Jason se parou em um arbusto, se agachou e ali posicionou sua armadilha de ursos. Fazendo o que seria um esforço imenso para uma pessoa normal, mas que lhe pareceu tão fácil quanto armar uma ratoeira, a armadilha fez um estalo e ficou plantada ali, pronta para prender qualquer um que pisasse nela. O morto-vivo se levanta e segue a trilha ao norte, em direção às cabanas.
As cabanas de madeira ficavam no meio de um círculo bem grande, que dava em uma estrada para a rodovia principal. Haviam três delas, e a área era rodeada pela densa floresta de Crystal Lake. E ali estava Jason Voorhees, espiando por entre as árvores. O sol já estava se pondo no oeste, e logo a escuridão cairia sobre o acampamento. Ao longe as vítimas foram contadas: um rapaz de cabelos negros cacheados e barba rala; uma moça de pele morena, cabelo Chanel e sardas escuras sob os olhos; uma mulher loira, de corpo abundante e bem definido; um homem de cabelos longos, vestes negras e rosto fino; e um pastor alemão, tão grande quanto as pessoas ali presentes. Jason os observou, e estava ansioso para cumprir com as ordens de mamãe. Mas não ainda. Não agora. Seria necessário esperar. Ainda não estava na hora. E enquanto esperava, estudava seus adversários. Na verdade, "vítimas" seria uma palavra melhor. Não haviam adversários para Jason. Ninguém nunca lhe apresentou desafio. Para ele, eram todos presas.
*****
A escuridão havia tomado conta da noite já há algumas horas. A lua cheia brilhava no céu. Jason não havia feito seu movimento ainda. Estava sendo paciente. Ele conhecia esses jovens. Conhecia suas rotinas, seus costumes, suas manias e seus desejos. Principalmente seus desejos. Todos eram iguais. Lembra-se de suas vítimas de quatorze anos atrás. Cinco jovens; três homens e duas mulheres. Um casal ficou na clareira, como se fosse um motel. Morreram ali mesmo, excitados e banhados em luxúria. O outro teve a audácia de invadir a cabana de Viorhees. Seu santuário. Onde guardava a cabeça de mamãe. O último deu o azar de encontrá-lo no meio da floresta. Não foram as únicas vítimas do ano. Houveram outros casais que sofreram o castigo de sua sina. Não que Jason se considerasse um carrasco em nome de Deus. Longe disso. A luxúria não o irritava por ser um pecado, mas por outro motivo. Talvez fosse a inveja do prazer. Talvez fosse uma punição por depravar sua sepultura. De qualquer forma, Jason conhecia esses jovens, e sabia que, mais cedo ou mais tarde, cairiam na tentação da carne.
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Mortos ao amanhecer
HorrorTerror. Aquele sentimento que muitas pessoas nunca irão experienciar. O coração acelerado, a respiração pesada. O medo de reproduzir qualquer ruído, por menor que seja. O suor frio. Sensações de desespero, angústia... Medo. O mesmo vale para o outro...