Jason perseguia um homem. Era um jovem adulto, que corria gemendo, sem sequer olhar para trás. Parecia desesperado. Jason, no entanto, não corria. Caminhava atrás do rapaz, e seus passos eram absurdamente mais largos do que o normal. Sua caminhada era mais rápida que a corrida do outro. Ao se aproximar o suficiente, desferiu um golpe em suas costas com a mão direita. Só então reparou que segurava um facão. O rapaz gritou e disparou, correndo ainda mais rápido, agora mancando. Enquanto Jason se recuperava do golpe, sua presa fugiu, saindo de seu campo de visão.
Jason olhou em volta e viu um rastro vermelho seguindo da direção para onde o jovem correu. Eram rastros bizarros, como se ferro fundido tivesse cortado o chão. Os seguiu, e encontrou o rapaz agachado atrás de uma mureta, tentado estancar seu sangramento com uma faixa.
Jason chegou sorrateiramente por suas costas e lhe enfiou o facão no ombro. O jovem gritou e caiu no chão, derramando muito sangue sob seu corpo.
Quando havia ficado tão alto? Parecia estar a quase dois metros do chão.
Colocou o jovem no ombro e o carregou. Este se debatia, atrapalhando o passo de Jason e o fazendo cambalear. Dando a volta em uma rocha, se deparou com uma estrutura. Um poste velho de uns dois metros e meio de altura. De seu topo se projetava um paralelepípedo de madeira com um gancho na ponta, como os ganchos de açougue.
Jason enganchou o rapaz ali pelo ombro. Novamente, ele berrou em agonia. Ao redor da estrutura surgiram uma espécie de agulhas gigantes, como que presas ou patas de aranha pontiagudas. Uma delas deu um bote, se encravando no peito do jovem. As outras em volta, se dobraram ao redor dele, como que o empurrando para cima. O rapaz flutuou e foi engolido por uma névoa negra, se assemelhando à uma boca que pertencia à mesma dona daquelas presas. A névoa e as garras desapareceram em um clarão de luz seguido por uma onda de choque, bem como o jovem.
Uma voz gutural, arrastada, quase inentendível, sussurava no ouvido de Jason.
- Isso, Caçador. Mais. Me dê mais. Me dê mais alimento. Me dê mais almas. Me faça mais forte!
*****
Jason acordou em um salto, despertando do sonho. Suava. Os lençóis estavam encharcados. Ofegava. Lágrimas se misturavam ao suor. Olhou ao redor, procurando pelo relógio.
Estava em uma cabana de madeira, escura como o breu da floresta do lado de fora. O quarto tinha duas beliches, e Jason deitava no primeiro andar de uma delas. Sua mãe dormia profundamente acima dele. Na beliche ao lado, dois jovens dormiam. Os outros deveriam estar fazendo o mesmo nos quartos da outra cabana.
Estavam em um acampamento. Acampamento Crystal Lake. Foram contratados para cuidar do lugar que receberia o público no dia seguinte, quando o acampamento seria inaugurado. Sua mãe conseguiu preencher a vaga como cozinheira, mas Jason sabia que não estava ali pelo dinheiro. Senhora Voorhees era obcecada por seu filho, pela segurança dele. Ela iria a qualquer lugar que Jason fosse, cuidaria dele como uma ave que segura seus filhotes debaixo das asas os aquecendo, que caça por eles e lhes dá a comida na boca.
E por isso Jason estava ali, em um acampamento no meio do nada junto de sua mãe, tendo pesadelos. Mas esse pesadelo era no mínimo diferente. Normalmente as pessoas sonham com um monstro correndo atrás delas; nesse caso, era Jason quem corria atrás das pessoas.
Encontrou o relógio na cabeceira da cama. Marcava seis horas da manhã de uma sexta-feira 13, em um verão de 1956.
Ouviu ruídos na beliche acima dele. Rapidamente, Jason voltou a se deitar, secando o suor nas dobras do cobertor.
- Jason, querido - ouviu a voz de sua mãe ao que ela balançava seu ombro - Acorde, hora de levantar.
*****
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Mortos ao amanhecer
HorrorTerror. Aquele sentimento que muitas pessoas nunca irão experienciar. O coração acelerado, a respiração pesada. O medo de reproduzir qualquer ruído, por menor que seja. O suor frio. Sensações de desespero, angústia... Medo. O mesmo vale para o outro...