A Serpente

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- Por que chora, Filha da Terra?

– Lilith mal notara a presença da serpente que se aproximava. Ela estava ocupada demais se despedaçando de tanto soluçar.

- Eu simplesmente não sei se posso mais suportar isso, nunca achei que seria tão difícil. Eu deveria encarar como uma benção? Nunca fora, pelo menos não para mim. – Se sentia um pouco mais leve por estar finalmente falando, nem ela nem o animal ligara pelo seu tropeço entre as palavras e a voz chorosa. Não importava que fosse com uma serpente, elas já não tinham uma boa reputação naquela época.

Nossa vilã estava debaixo daquela cachoeira há horas, senão mais. Sabia que ele não a encontraria lá, era tudo o que Lilith precisava no momento. Debruçada sobre os joelhos, seus braços exibiam tons de roxo, além de seus carnudos lábios que no momento se encontravam inchados e com um pequeno corte na parte inferior. Já não era fácil para alguém como Lilith na época. Ou seja, para uma mulher. Os deuses nada faziam a respeito daquilo, tinham coisas maiores com que se preocupar e deixavam com que os acontecimentos seguissem seu curso natural. Faltara criatividade na hora de bolar a desculpa, eu sei, mas estou aqui apenas para contar a história.

Voltando para a serpente, que agora já se enrolava pelos braços da jovem, na tentativa de ficar mais próxima da mesma e oferecer algum tipo de consolo. Não era do feitio do animal, mas por alguma razão que nem mesmo ela poderia explicar, sentia um pouco de afeição e até mesmo empatia por Lilith.

- Não precisa ficar chorando pelos cantos e fugindo. Vá à luta, revide, mostre que é melhor. - Sugeriu a serpente. Agora, estavam cara a cara, o animal usando os braços de Lilith como suporte, a jovem, por sua vez, já não chorava mais.

- Como? Como posso vencer alguém mais forte do que eu? – Rebateu, limpando os olhos embaçados pelas quentes e salgadas lágrimas.

- Ora, não percebe que é tudo o que ele tem? Tenho observado de longe e Adonis não passa de um corpo provido de força. Mas você, descendente da Deusa da Feminilidade, você pode fazer muito mais, todos aqui pensam o mesmo.

- Todos? – Foi tudo o que conseguiu perguntar.

- Os animais, as plantas, todos. Ninguém quer um homem como Adonis no poder, dá para sentir no olhar do que ele é capaz. A Terra não pode se manchar com a maldade agora que finalmente provém de vida. Apenas você, Lilith, pode fazer a diferença. - A serpente sabia bem como usar as palavras com destreza.

Ela não respondeu de imediato, estava pensativa, absorvendo tudo. Estava na hora de tomar alguma atitude, já era tempo de parar de esperar pela ajuda dos deuses que nunca chegaria, e no fundo, ela sempre tivera consciência disso. Mas será que seria mesmo capaz de encarar e reverter a situação?

Depois de meditar, um espírito de esperança e força tomou cada gota de sangue que percorria o seu corpo. Com um simples e ingênuo pedido, Lilith mudara todo o rumo de sua vida:

- Me mostre como. 

O Nascimento de LilithOnde histórias criam vida. Descubra agora