02. tão perfeito que só podia dar errado

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Você me ensinou a coragem das estrelas antes de partir

Como a luz continua eternamente, mesmo após a morte

Com falta de ar, você explicou o infinito

Quão raro e belo é apenas o fato de existirmos

Saturn - Sleeping at last

— Então, arrasei ou não? — Samantha olhou para Ana apreensiva.

— Uau! — Foi tudo o que conseguiu responder.

A semana passou rapidamente por conta dos preparativos para viagem. As garotas se dividiram para que tudo saísse perfeitamente; Ana ficou responsável por garantir roupas, kit de higiene e qualquer coisa que faltasse de última hora, Samantha teve que ver a melhor hospedagem e cuidar do orçamento que não era muito grande.

O grande dia chegou tão rápido que mal tiveram tempo para pensar no que estavam fazendo. A mãe de Ana não gostou muito da ideia, no entanto, sabia que não tinha como trancar sua filha já maior de idade dentro do quarto. Tinha medo de tudo isso acabar mal e, provavelmente, acabaria.

A parte mais fácil foi avisar no seu emprego. Ellen ficou eufórica com tudo o que a colega contou, correu para chamar seu Marcos e o fez garantir que o trabalho estaria a espera quando voltasse. Eles gostavam muito da sua presença lá, até brincaram que os clientes ficariam decepcionados ao não encontrá-la, no entanto, entendiam que algo muito maior estava prestes a acontecer.

Agora, Ana e Samantha se encontravam em uma pousada no meio de Ribeirinha, uma pequena cidade perto de Belo Horizonte. João tinha nascido lá, mas por causa da separação dos seus pais quando ainda tinha seis anos e nenhuma opção de escolha, acabou se mudando para São Paulo. Sua mãe nunca almejou viver em uma grande cidade, por isso, nunca se mudou.

Sem estar acostumada com receptividade e atenção, as duas estranharam como todos pareciam se cumprimentar, mesmo sem se conhecer. Amavam escutar o sotaque diferente daquele que estavam acostumadas e riram junto com o taxista que ficou tentando imitá-las. Quando chegaram na pousada da Rosa Bonita, uma senhora de uns sessenta anos que tinha a ajuda de sua filha as cumprimentou e logo concluíram que não poderiam ter escolhido outro lugar.

Eram poucos quartos, mas todos bem arrumados. Recém-reformada, a pousada contava com uma área com piscina e um pequeno campo na área externa, um salão de jogos e uma sala compartilhada para o café da manhã que estava incluso no preço. Tudo muito aconchegante e organizado.

O quarto delas tinha duas camas de solteiro, uma cômoda e uma televisão. No entanto, o que mais impressionou Ana foi a decoração. Tudo era uma mistura de tons de azul, com nuvens pintadas a mão. As paredes ainda contavam com alguns quadros de paisagens diversas e algumas frases motivacionais.

— É muito lindo, Sammy, você arrasou mesmo.

Samantha sorriu de maneira convencida por receber o devido reconhecimento. Colocou a sua mala em uma das camas, declarando que iria dormir ali nos próximos dias. Sem opção, Ana sentou do outro lado do quarto e começou a ajeitar suas coisas nas gavetas.

É ridículo, mas o seu primeiro pensamento foi "estou respirando o mesmo ar que ele", o que faz borboletas ressuscitarem em seu estômago. Ela sabe que sempre respiraram o mesmo ar, mas agora sentia que era algo real. Estavam tão perto, depois de anos, depois de tudo.. Isso é tão piegas. Isso é tão intenso. Verona se orgulharia da cena.

— Então, qual é seu plano? — perguntou Samantha depois de organizar suas roupas.

— Ah? — Ana levantou em um sobressalto e encarou a amiga com um vinco entre a testa.

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