REMEMBER US ♡ DAY6

01: primeiro encontro com o garoto problema.

PRIMEIRO ENCONTRO

COM O GAROTO PROBLEMA.

Última semana de aula de 1986. Era verão, estava quente e Jaehyung corria contra o tempo enquanto pedalava rapidamente em sua bicicleta novinha em folha, de cor amarela que ganhara de presente pelas ótimas notas no boletim do último semestre. A empolgação pela manhã acabou o atrasando e lá estava ele, indo o mais rápido possível pelas ruas movimentadas. A cabeleira rosada se destacava, sobretudo em relação ao seu uniforme que parecia tão sem graça quando coberto com aquele moletom três vezes maior que o seu corpo. Sabia que iria chegar atrasado. Provavelmente receberia um esporro do diretor. Quem chega atrasado na última semana de aula?

Quando fez a curva, soube que estava atrasado quando observou a porta de entrada vazia e o fim do sinal havia soado. Colocou a bicicleta junto às outras e esfregou as mãos suadas em ansiedade no bolso do moletom. Não estava um clima muito agradável para aquela peça de roupa, mas não conseguia resistir; eles eram quase como um só. Por isso, apenas passou as costas da mão na testa, afastando os fios de cabelo num tom rosa e ajeitando o óculos que insistia em descer lentamente pelo nariz, enquanto inspirava e expirava profundamente. E teria seguido em frente se, enfim, não tivesse o visto em seu caminho.

Park Jaehyung nunca acreditou em amor a primeira vista. Parecia patética a ideia de se apaixonar por uma pessoa apenas por vê-la uma única vez. Não acreditava que aquilo fosse amor; entretanto, em meados do fim de ano de 1986, ele o viu pela primeira vez.

Brian Kang. Como explicar Brian Kang?

Naquele dia em específico, ele parecia ainda mais bonito do que em todos os outros. A jaqueta de couro surrada e os cabelos negros deixavam-o tão lindo que Jaehyung sentiu o coração parar de bater por um milésimo de segundo. A calça estava colada no corpo, e apesar de estilosa, estava rasgada ─ e não parecia ser proposital, considerando o joelho ralado que estava protegido com um pequeno band-aid ─ e os óculos pendurados na gola da camisa vermelha, estonteante o bastante para que o Park se perdesse em seus detalhes por longos minutos. Talvez ele tivesse reparado. Era inacreditável como o novato conseguia ser perigosamente belo. Os olhos marcantes sempre seriam a sua parte favorita em Brian, principalmente quando estes mesmos olhos intensos finalmente olharam para si.

Chutou uma garrafa para longe o bastante de si e guardou as chaves do carro no bolso quando finalmente os lábios cativantes ousaram dizer as primeiras palavras.

─ Algum problema, garoto? ─ Ele perguntou quando finalmente notou a presença do Park, parecendo surpreendentemente interessado quando observou o rosto ficar tão vermelho quanto o Ford Mustang 1965 que estava estacionado em alguma esquina por aí. Apesar de ser dois anos mais novo, ainda parecia intimidante. Arriscou sorrir, mas ele continuava sério, esperando que dissesse algo. Apenas balbuciou baixinho, sentindo o rosto queimar por detrás dos óculos estupidamente grandes e redondos, estando tão quente quanto o sol naquela tarde de verão.

─ Desculpa.. ─ Murmurou, e só então o viu sorrir; a voz trêmula indicando o quão intimidante estava parecendo mesmo sem sequer tocar-lhe um único dedo. Se sentiu estúpido ao gaguejar nas primeiras palavras trocadas com o Kang. Nunca se sentiu tão humilhado na vida. O veterano se curvou rapidamente, estava parecendo um completo idiota e sabia que Brian pensava o mesmo quando o viu arquear uma das sobrancelhas, o olhar afiado e deveras surpreendente encaravam Jaehyung com certo interesse. Um veterano se curvando para um calouro. Aquilo não parecia certo, nem mesmo em qualquer outro tipo de universo alternativo. Jae não era um garoto muito assustador e muito menos tão popular quanto Brian Kang, mas porra, ele era dois anos mais novo. Dois anos! Era apenas um moleque de 15 anos metido a rebelde, e ainda assim fizera o Park tremer de medo como um covarde. Por isto, ouviu a risada gostosa e contagiante logo após que se levantou.

Ele queria ter dito algo. Qualquer coisa. Mas perdeu sua chance quando ouviu ele rir, tão baixo que parecia até mesmo uma miragem. Sarcástico, o olhar intenso passeou pelo Park uma última vez antes de negar com a cabeça de uma forma que chegou a ofender Jaehyung: ele estava o achando apenas mais um dos idiotas que costumava tirar sarro e escrever "chute-me" num papel para colar em suas costas. Nada de especial.

─ Vaza, garoto, antes que eu dê um jeito em você. ─ Ele respondeu, indo embora e o deixando estático do lado de fora.

Jaehyung não esperou por mais palavras; se apressou em passos desajeitados para dentro do colégio, onde não pretendia ver o pequeno rebelde em qualquer outro momento.

Em 1986, Park Jaehyung era apenas um nerd. Invisível. Fazia o tipo de garoto que nunca era visto por ninguém, tinha ótimas notas, gostava de revistas em quadrinhos do homem aranha e colava figurinhas de estrelas coloridas que brilhavam no escuro em seu guarda roupa. Ele não era um garoto ruim. Mas pareceu ser terrível quando olhou aquele garoto tão descolado tendo apenas 15 anos. Parecia incerto. Injusto. A vida não colaborava, de fato, uma grande filha da puta.

1986 também não fora o melhor ano para Brian Kang. O primeiro ano do ensino médio havia sido um verdadeiro inferno: quando completou 15 anos, sua vida começou a desandar.

Decerto nunca havia sido um garoto legal. Talvez aquilo fosse apenas carma. Em um momento, ele é apenas Brian, o garoto que intimida boa parte dos alunos do colegial, adora resolver os problemas com os punhos e perde mais tempo do que deveria tocando baixo na detenção. Só mais um moleque rebelde entre tantos outros.

Noutros momentos, ele era somente Younghyun. O quebradiço Kang Younghyun, que descrevia melancolia que vivia costumeiramente em todas as letras de músicas que fazia escondido enquanto observava a mãe ter diversas recaídas. A vida dele era uma merda.

Naquela tarde de sol escaldante, os dois adolescentes decidiram que o ano que estava por vir seria o melhor possível. Era uma promessa. Fariam de 1987 o ano de suas vidas.