Alguns dias depois.
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- Cassiopeia Hannover - a voz anunciou seu nome no telecomunicador em seu pulso. Ela levantou e saiu de seu escritório. Já sabia o que deveria fazer.
Percorreu todo o corredor, extenso, até uma porta pivotante de marfim em que uma única placa dourada servia de distração. Não havia maçaneta. Na placa, o nome dela.
"Sardes Cælestius, Secretária-Geral". Cassie ainda guardava lembranças da eleição de Sardes e de quando ela tinha sido chamada para trabalhar em seu gabinete, alguns anos antes. O tio de Cassie, James, tinha sido uma peça importante na transição da antiga sociedade internacional para um modelo de governo onde todo país signatário abriria mão de sua soberania em troca de proteção. Muitos chamaram de golpe, de fim dos tempos, mas Sardes permaneceu inabalável.Ela havia sido eleita para o cargo de Secretária-Geral mas não haveria outro resultado possível: não havia concorrentes. Sardes havia trabalhado incansavelmente no combate à pandemia que dizimou três quartos da população mundial, incluindo líderes de governo que seriam reticentes em se curvarem diante do poderio da Nova Aliança.
Quando Cassie começou a trabalhar com seu tio no gabinete de imprensa do novo governo, ela sabia que tornar as notícias pessimistas em manchetes cheias de esperança não seria um trabalho fácil, ou grato. Mas ela não imaginava que seria tão doloroso assumir o posto ocupado por seu tio.
Dentro de si, o sangue circulava cada vez mais rápido e sua respiração acelerava. Cassie mentira anteriormente para ocultar ações coordenadas de grupos opositores que, para se manter no poder, Sardes se recusava a admitir que existia. Mas desta vez era diferente. Ela tinha visto a van, os soldados com o uniforme do governo, o som de um disparo. Seu tio não fora assassinado em uma pedreira por uns rebeldes que queriam receber isenção pelos crimes, como ela fora obrigada a escrever. James havia sido morto pelas mãos de Sardes e ela sabia disso.
E Sardes também sabia que Cassie não seria ingênua o bastante para acreditar naquilo. No entanto, por ora, as aparências precisavam ser mantidas. E foi isso o que levou Cas a se acalmar depois de respirar fundo algumas vezes e se dirigir à porta gigante, que abriu quando ela empurrou levemente.
Dentro da sala, Sardes estava sentada no sofá no centro do seu próprio salão oval, exceto que este não era oval e a única semelhança que guardava com o da antiga sede do governo norteamericano era a arrumação. Sardes, afinal de contas, era norteamericana.
- Cassie, que bom que você veio rápido - Sardes se levantou sorrindo, enquanto deixava seu copo com alguma bebida na mesa de centro. No sofá do lado oposto estava um homem com vestes negras e vermelhas, com um chapéu estranho, mas que Cassie reconheceria em qualquer lugar. - Acredito que você ainda não conheça o Reverendo pessoalmente. Esta é nossa mais nova secretária de imprensa, Audustus.
Sardes pôs as mãos nos ombros de Cassie e a direcionou ao homem. Eles se cumprimentaram e Cassie sentou perto de Sardes. O homem, bem velho e solene, sorriu e pegou seu copo da mesa.
- Bem, Cassie, o senhor el-Salaam e eu finalizamos hoje às tratativas restantes para oficializar seu cargo em nosso governo - Cassie assentiu. O Vizir, como também o conheciam, era famoso por seus programas de TV em que pregava uma religião onde ele mesmo era o profeta salvador. Nos tempos da crise que seguiu a pandemia, seus templos ficaram cada vez mais lotados. Uma resposta simples para perguntas difíceis. Sardes continuou.
- O Reverendo Audustus será o conselheiro religioso da Nova Aliança Global e sua religião, a oficial do governo. Você deve anunciar isto hoje à noite.
O sorriso estampado no rosto do Vizir era vitorioso. Cassie já esperava por isso. Era uma aliança poderosa que Sardes estava firmando. Audustus el-Salaam era conhecido e influente, mas era mais do que isso. Um político sem tirar nem por, havia galgado seu caminho até o topo de sua igreja estabelecida sobre sangue de seus inimigos e qualquer um que cruzasse seu caminho. Um adversário a se temer, e um aliado a se desejar. Na opinião de Cassie, Sardes havia esperado muito tempo para que isso acontecesse, visto que ela e o Reverendo eram amigos há muito tempo. E Sardes havia instituído seu governo há mais de três anos.
- Vou preparar o pronunciamento hoje ainda - Cassie disse, posicionando a pasta que Sardes lhe havia entregado à frente do seu corpo, agora de pé. Não havia motivos para ficar ali.
- Querida, perdoe a intromissão, mas como você está se sentindo? - o Reverendo falou com sua voz rouca e densa. - James era, bem, posso chamar de amigo, não posso?
Ele sorriu e Sardes assentiu. Ela também sorriu. Ele podia chamar do que quisesse, James estava morto.
- Estive no funeral de seu tio - ele continuou, sem perceber o descontentamento na face de Cassie.
Muitas pessoas do governo haviam estado lá, mas ela não lembraria. Estava anestesiada. O restante de sua família, apenas meia dúzia de pessoas que ela não conhecia muito bem, também estava lá e ela passou a maior parte do tempo com eles. Havia sido uma cerimônia enorme, um evento que Sardes usou para promover seus ideais políticos e, mais uma vez, repreender as notícias que insistiam em chamar a morte de seu tio um atentado de rebeldia. Não havia rebeldes, ela dizia. Apenas terroristas, que queriam acabar com a paz que tanto lutaram para conseguir.
Qualquer pessoa olhando de fora pensaria que era uma cerimônia grandiosa demais para um secretário de imprensa, mas nada daquilo era para James. Era uma mensagem. Sardes controlava tudo e todos. Na vida ou na morte, ela assumia a narrativa. Ela ordenou a morte de seu tio, e ela culpava seus inimigos. Sardes ganhava capital político, munição para manter sua perseguição velada a inimigos do governo e, acima disso tudo, lançava um ataque sutil mas bem claro para Cassie. A cerimônia inteira foi sobre Sardes e como ela se sentia, ao lado de um dos jornalistas mais famosos do mundo, agora morto. Não importava quem fosse ou quão querido fosse, ninguém se colocaria entre Sardes o que ela queria. O velho continuou. - Foi uma lástima, de verdade. Espero que você esteja bem.Cassie foi tirada de seus pensamentos de súbito e forçada por si mesma a responder.
- Estou seguindo como posso. James me criou depois que meus pais se foram, mas sempre fomos próximos. Ele me ensinou tudo que sei.
- E olha como você aprendeu - Sardes riu. - Premiada e reconhecida como a maior jornalista e influenciadora da década. Não hesitei em contratar essa aqui para minha campanha, Audustus.
Sardes ria, enquanto passava sua mão pela mão de Cassie. Por alguns instantes, ela poderia até acreditar que Sardes era carinhosa e gostava dela. Mas ela sabia que depois do que tinha feito, era uma questão de tempo até que essas mãos ordenassem que a vida de Cassie fosse retirada.
- Obrigada pelo carinho de vocês. Ficarei bem. Agora se me dão licença, vou deixá-los a sós e ir trabalhar no pronunciamento desta noite.
- Cassie, querida, só mais um detalhe: o pronunciamento será feito por você mesma, comigo e o Reverendo ao seu lado. E será em frente ao Memorial. Vista-se para a ocasião.
Sardes a dispensou com um sorriso e Cassie seguiu até seu escritório. Fazer este pronunciamento seria uma honra para qualquer um, menos para ela. Ela sabia que Sardes apenas queria vincular a imagem de Cassie à sua. Para por fim a qualquer dúvida de sua lealdade.
O celular de Cassie tocou enquanto ela escrevia o que Sardes lhe havia ordenado.
O número na tela era restrito, mas ela sabia quem era.
- Precisamos nos encontrar hoje à noite - disse o homem do outro lado da linha. - Tenho informações que você vai gostar de ver. Vou te enviar o endereço.
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Absyntho
Fantasy[PAUSADO] Quando tudo que você lutou para construir é tirado de você, o que resta fazer? _______ Como a estrela que destrói as fontes das águas, a verdade tem um sabor amargo para Cassie. Mas ela irá às últimas consequências para se certificar de q...