4. A Desconfiança

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J u n g k o o k

Mas que estupidez! Porque é que aquele paspalho também não levou um sermão? Ele é que começou a gritar primeiro e AAAA! A vida é tão injusta! - pensei depois de virar costas à recepcionista.

Não conseguia acreditar no que tinha acabado de acontecer e tão pouco que aquele infantil estava no mesmo hotel que ele.

Pelas roupas não pareceu alguém rico o suficiente para frequentar um hotel como os da Trappist Hotels então provavelmente foi ele que ganhou o segundo bilhete sorteado naquele programa terrestre. Sei lá, pela aparência também não pensei que fosse um mal educado! Mas então ele também vive na Terra? De que lado do muro será que ele vive?

Mas... E aquela recepcionista? Será que ela e o otário têm algum caso para ela o defender...? Que estranha. Ela nem parece real, parece um robô sempre a sorrir, que horror!

Perdido no meio de tantas perguntas e pensamentos, dei por mim no jardim do hotel perto de uns bancos que tinham vista para o imenso oceano.

Sentei-me num deles e fiquei a apreciar o pôr do sol atrás de algumas nuvens que não tiravam o seu brilho vermelho, apenas deixavam o cenário mais maravilhoso.

Uma forte dor atingiu a minha cabeça. Fechei os olhos e levei uma mão à mesma. Doía mas não estava espantado, o dia tinha sido muito longo.

Levantei-me devagar para não piorar a dor e olhei para a chave do meu quarto. 222. Era para lá que eu ia a seguir. Já não aguentava mais andar com a mala de viagem na mão.

Entrei no interior do hotel e corri para um elevador com algumas pessoas que estava prestes a subir. Quando cheguei ao 15º andar, a porta do elevador abriu.

Saí e andei um pouco pelos corredores à procura do meu quarto.

Quarto 219... Quarto 220... Quarto... O quê?

A porta do quarto 221 encontrava-se escancarada. Que estranho... Se calhar o dono do quarto esqueceu-se de fechar a porta. Devia avisá-lo.

Não sou de bisbilhotar a vida das pessoas, mas sabia que me ia ficar a sentir mal se ignorasse a porta entreaberta. Mesmo que o hotel fosse seguro nunca se sabe das más intenções das outras pessoas mesmo sendo podres de ricas.

Abri um pouco mais a porta do quarto para ver se tinha alguém lá dentro. Não queria ser visto então inclinei-me o máximo possível para cima da porta de maneira a ter uma visão mais ampla do quarto. O que eu não pensava era que as dobradiças da porta fossem tão oleadas.

Com um estrondo caí no chão de boca, fiz a porta bater com toda a força na saliência de silicone que se encontrava no chão para impedir que a mesma batesse contra a parede, e ainda tive a sorte da porta ter voltado à origem e me acertar em cheio na cabeça.

Pensava que depois de levar com uma porta na cabeça a minha dor não podia piorar, mas foi então que olhei para dentro do quarto.

Um Mundo, Dois Lados • pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora