Oh, deuses que tão cuidadosamente sopraram a vida para dentro de um corpo tão desprovido de provisões que lhe sustentassem em tempos caóticos como esses. A tragédia de Yuna só poderia ter saído de mentes inquietas escorrendo para penas incandescentes de poetas malditos.
Como, pergunto-me em meio a tormentos tenebrosos, como deveria contar essa derradeira epopéia de indícios glamorosos e meios termos cheios de acasos derradeiros. O fim sangrento entrevisto em mitos primordiais não foi capaz de deter a jovem Yuna de cair nas garras da flor exuberante em meio a selva de pedra que rodeava nossas vidas mal calculadas.
Jovens como éramos, é claro que reforçavamos imagens bem delineadas finas como papel e elásticas como chicletes. Yeji, a mais atordoada de nosso pequeno conjunto de sorrisos cúmplices e piadas caóticas, logo percebeu que nesse jogo só perdedores seriam regalados a chãos forrados de cacos coloridos de um vidro pretensamente afável.
Pequenos espelhos laqueados trocados por aparelhos magnéticos tão viciantes quanto os doces escondidos de Chaeryeong. Yeji gravitava ao redor de nosso pequeno planeta exibicionista e indulgente com avisos espalhafatosos de confusões inimagináveis. Afogadas pelo tédio, esgotadas de possibilidades infalíveis, insaciáveis como leões de circo famintos; assim mergulhamos as mãos nas águas enganosas, seduzidas por cantos de sereias escondendo presas afiadas em sorrisos cativantes.
Yuna, no entanto, mergulhou o corpo inteiro. Dar-se em partes nunca foi o conjunto de sua existência calorosa, e talvez por isso nossa tentativa de puxar suas mãos das ondas gélidas tenha resultado em cortes fundos e corações dilacerados. Cobrir nossos ouvidos, tropeçar para fora do barco quebrado; nada disso foi possível a tempo. Yuna ainda estaria aqui, e não segurando os caules de flores que pingavam néctares venenosos em sua cabeça.
Tal como waterloo, a tragédia repete-se numa farsa grotesca sem concessões para fugas por campos de trigo dourados pelo sol aconchegante e varridos por ventos permissivos. Tentamos cobrir os espelhos rachados, rechaçamos reflexos brilhantes em lagos populosos de ninféias e plantas aquáticas saborosas. Tal amor próprio ambicionado em crises costumeiras e recebido de anjos caídos escondia-se por trás de sedas com venenos descabidos.
Tivera Yuna desviado o olhar no tempo precioso, gritado até seus pulmões saltarem para o chão através de sua boca torturada… Mergulhando atrás da deusa clonada e apática, selara nossos destinos em cavernas subaquáticas numa peça perversamente encenada por ventríloquos maníacos por atenções grandiosas. A flor bulbosa e púrpura escorre o néctar sedutor da imortalidade. Me atreverei a tocá-la?
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eu amo muito o mito de narciso, é isso
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narcissus
Fanfiction"A flor bulbosa e púrpura escorre o néctar sedutor da imortalidade. Me atreverei a tocá-la?" one-shot | yuna | itzy | ©juncotton, 2020