-"A Caixa"-

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Quando se é criança,

Dão-te uma caixa,

E dentro dela estão,

Todas as coisas que tu tens de gostar,

As regras que tens de seguir,

O teu manual de instruções.

Só existem dois tipos de caixas,

A dos meninos

E a das meninas.

Eu sou uma menina,

Deram-me a caixa das meninas.

Essa caixa é cor-de-rosa,

Eu não gosto de cor-de-rosa.

Dentro dessa caixa então vestidos,

Saias, colares, vernizes, laços...

Eu não gosto de nada disto.

Essa caixa tem muitas regras.

Ser calma,

Eu sou calma.

Estar calada e quieta,

Depende das situações.

Obedecer sem questionar,

Eu gosto de questionar.

Não levantar a voz,

Às vezes é necessário.

Estar bem vestida,

Eu não ligo.

Ter cabelo comprido,

Dá muito trabalho.

Comportar-se como uma mulher,

Eu não sou uma mulher,

Sou uma rapariga.

Crescer e ser dona de casa,

Não me perece,

Eu sonho com outras coisas.

Querer ter filhos,

Eu para já não quero

E nunca foi o meu sonho.

Casar,

Como se essa fosse a única forma de ser feliz,

Como se casar fosse o meu objetivo de vida,

Não é.

Gostar de meninos,

Esta regra é tão parva,

Nem vou comentar.

Eu não gosto da minha caixa.

Dentro dela,

Não está ser inteligente,

Criativa, dinâmica.

Não está ter uma opinião

E ser independente.

Dentro da caixa,

Não te dizem que podes ser forte,

Ou corajosa.

Não te encorajam a dar o primeiro passo.

Esperam que sejas fraca,

Delicada.

Que te deixes calar

E sobrepôr.

Eu não quero isto,

Eu não gosto da minha caixa.

Então o que é que eu fiz?

Eu pôs a caixa ao lixo.

Demora,

Fazer isto.

Eu ainda estou a fazê-lo,

Na verdade, eu ainda estou a começar,

A pôr a caixa no lixo,

E a construir uma nova.

A minha caixa.

Porque eu sou única,

Como qualquer menina

E generalizar-nos

É só prender-nos.

Então eu estou a criar a minha caixa.

Ela tem muitas cores,

E está cheia de livros,

Muitos, muitos livros.

Ela é aberta,

A novas possibilidades,

E verdades,

E não tem assim tantas regras,

Ou condutas,

Só as que todos os seres humanos precisam.

Dentro dela estão calças de ganga,

T-shirts, camisolas, sapatilhas, calções...

Dentro dela existem milhares de possibilidades,

Como ter cabelo curto,

Ou usar roupas da secção,

Que é dita "masculina".

E dentro da minha caixa,

Eu digo a mim própria,

Que eu sou inteligente,

Que eu sou capaz,

Que eu tenho uma opinião,

Que é valida

E que deve ser ouvida

E respeitada.

Dentro da minha caixa,

O meu futuro não está traçado,

Segundo papéis construídos há milénios,

Não,

Eu vou traçando o meu futuro.

Dentro da minha caixa,

Eu não tenho de fazer isto ou aquilo.

Eu não tenho de brincar com bonecas,

Usar vestidos,

Ou querer casar e ter filhos.

Mas, eu posso querer.

Eu posso fazer tudo isto,

Se eu quiser,

Mas, se eu não quiser,

Está tudo bem na mesma.

Dentro da minha caixa,

EU SOU EU

E é isso que mais importa.

E quanto a gostar de meninos,

Logo se verá, não é?


N/a: um poema inspirado no vídeo acima, da maravilhosa Louie Ponto.



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