Com a cabeça encostada na janela do ônibus e meus fones de ouvidos conectados no meu celular que tenho há mais de quatro anos fecho meus olhos e rezo baixinho para que finalmente algo dê certo na minha vida e que eu alcance um pouco de felicidade depois de tudo que eu passei.
Sair da minha antiga cidade deixando tudo para trás e somente um carta de despedida para meus pais não foi fácil, passei meses juntando dinheiro, procurando um lugar para ficar em que ninguém fosse me encontrar, e em busca de algo para trabalhar. Durante os meses em que passei pesquisando diversas cidades, enviando currículos para diversas empresas espalhadas pelo país, encontrei uma cidade chamada cidade das flores, que, segundo minhas pesquisas possui esse nome por conta da diversidade de flores encontradas por lá. Cidade das flores, é uma cidade considerada pequena, com menos de cinquenta mil habitantes sendo esses, de maioria pessoas mais maduras, apesar de também haver jovens. Em minha pesquisa, constava que lá é um lugar tranquilo, onde todos se conhecem, todos se ajudam, suas ruas são tranquilas e, apesar de lá não ter empregos como na cidade grande, escolhi essa cidade pois encontrei o orfanato Meirelles a procura de uma pessoa para ajudar com as crianças, enviei meu currículo, e fui chamada para o trabalho, e foi assim que decidi que esse seria o meu mais novo destino. Troquei de número de celular para que não me encontrassem, deixei minhas roupas e pessoas para trás, pessoas essas que acabaram comigo na primeira oportunidade.
Olho para o papelzinho rasgado com o endereço em minhas mãos e sorrio.
Rua Green park, n° 365 - Cidade das flores, orfanato Meirelles.
Meu mais novo lar, meu mais novo emprego, e o principal: meu recomeço.
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Após descer na rodoviária da cidade das flores, noto que somente eu e mais três pessoas descemos do ônibus, fico um pouco impressionada com esse pequeno número, mas pego minha mochila e coloco nas costas enquanto caminho em direção a saída.
Quando coloco meus pés fora da rodoviária, sinto um vento frio batendo na minha face oque consequentemente me faz estremecer um pouco, visto que, não estou agasalhada e uso somente uma calça jeans, tênis e um moletom com tecido fino que não esquenta nada.
Vou em direção ao ponto de ônibus e encontro duas senhoras sentadas ali.
ok chegou minha hora. Tenho que perguntar pra elas que ônibus pego para chegar a rua Green park. Meu subconsciente grita, solto um suspiro de nervosismo. Só consigo pensar o quão estranho é uma garota de 20 anos conversando sozinha em pensamentos, porém apesar de ser bem tímida terei que superar esse fato caso eu queira chegar no meu destino. E eu quero.
- hmm — tusso para que a voz saia direito, ambas as senhoras que estavam ali olham pra mim e sinto meu rosto esquentar ao ponto de ficar vermelho. Droga de tímidez - penso sozinha. - boa tarde, as senhoras poderiam me informar que ônibus eu pego para chegar nesse endereço? — entrego o papel para uma senhora que estava sentada na esquerda, ambas pareciam ter uns 60 anos anos ou mais, agasalhadas ao extremo, chega a ser um tanto quanto engraçado suas toucas, cachecóis e suas botas todas combinando com o tom de roupa que usavam. A senhora da direita estava vestida com uma calça roxa, e casaco em um tom de roxo mais claro. Assim como a da esquerda que estava vestida da mesma forma porém com tons marrons.
- A senhorita deve pegar o ônibus 345, esse ônibus para em frente ao orfanato Meirelles. — diz a senhora em tons marrons me olhando de uma forma diferente, com se tivesse algo para perguntar mas não sabia se podia dizer ou não.
- hm — susurro. - Obrigada senhora. — digo sorrindo e mesma sorri de volta.
- Me perdoe a indelicadeza senhorita — diz a senhora de marrom. - mas a senhorita vai fazer oque no orfanato Meirelles? — pergunta com seus olhos curiosos sobre mim, olho para a senhora de roxo e a mesma também está esperando uma resposta.
Dou uma risada baixa e respondo:
- Eu irei trabalhar lá, recebi uma oferta de emprego em que a Sra. Smith me falou que teria que trabalhar com as crianças de lá — respondo sorrindo com sinceridade e notando os olhos das duas mulheres brilharem.
- Veja criança, nós vemos que você realmente irá trazer uma alegria enorme para aquelas crianças que carregam com elas dores que nem os adultos mais fortes conseguiriam suportar, seus olhos brilham falando sobre o assunto, imagino que ame crianças né?. Mas saiba que são crianças extremamente fortes, e apesar de tudo oque já passaram nós conseguimos ver o brilho da esperança. Talvez a senhora seja oque aquelas crianças precisam... — ela diz me deixando surpresa, pois apesar de estar indo trabalhar lá, não recebi muitas informações sobre as crianças em si, só sei que são 8.
- O que a senhora quer dizer senhora? — pergunto curiosa, e sinto um aperto no coração. Talvez eu não deva saber sobre esse assunto, eu sinto que não é algo que eu gostaria de saber.
- Senhorita, nós não sabemos tudo oque aconteceu com aquelas crianças, algumas estão lá porque os pais as abandonaram, outras estão lá pois sofreram algum tipo de abuso, ou seja, são diversas histórias mas que apesar das diferenças, não deixam de ser dolorosas. Porém torcemos para que você ajude aquelas crianças assim como o Senhor Theodoro as ajudam. — ela solta me deixando surpresa e curiosa.
- Senhor theodoro? — questiono. - esse seria o dono do orfanato?
- Não senhorita. Bernardo Theodoro é um jovem que sempre que possível está ajudando aquelas crianças, ele é o principal doador de dinheiro para as reformas, alimentação e brinquedos, sem contar que constantemente ele aparece no orfanato para passar um tempo com elas. — diz e no fim solta um suspiro acompanhado de um sorriso sincero e eu sorrio de volta. Esse Bernardo Theodoro aparenta ser um homem incrível.
- Então ele seria um sócio do orfanato?
- Pode-se dizer que sim, o Theo é um homem fechado, mas que possui um coração bom. Ninguém da cidade sabe sobre seu passado, ele não possui muitos amigos mas esta sempre ajudando aquelas crianças e as crianças o adoram. — diz sorrindo.
- Hm — digo pensativa. - então quer dizer que tenho um concorrente para conquistar as crianças? — digo sorrindo.
- Sim senhorita, prepare-se vai ser um trabalho difícil. — ela solta e no mesmo momento meu ônibus chega.
Bem, acho que oficialmente chegou meu transporte para meu novo destino. Me despeço das senhoras com um aceno e entro no ônibus, desejando boa tarde ao motorista e ao cobrador e indo me sentar aos fundos do ônibus.
Preparem-se crianças, aí vou eu.
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Ensina-me o amor
RomanceTheodoro, um homem de 25 anos, frequentador assíduo do orfanato, que carrega consigo um passado extremamente triste, um homem que nunca teve a oportunidade de conhecer o amor, um homem que possui a certeza que jamais poderá amar alguém... Quer dizer...