DOIS; Antigo Egito: a criação

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Antigo Egito, aproximadamente 3150 a.C.

ALGUMAS INFORMAÇÕES BÁSICAS ANTES DE seguirmos para esse momento de minha história.

Essa ideia ridícula que a civilização moderna tem, de que as coisas são como os filmes hollywoodanos, é simplesmente deplorável. Eles tiram completamente a imagem real de como as coisas eram.

Em grande maioria, os egípcios eram fortes, tinham corpos esguios e magros por conta do trabalho escravo. A definição de cidadão não existia, mas o mais próximo que poderíamos chegar era a nobreza, e poucos dela sabiam entender os hieróglifos, que surgiram relativamente depois do início daquele período da história. A pele da maioria era preta, escura, ou no mínimo, queimada. Qualquer pessoa branca que surgisse na cidade, era considerada algum tipo de aberração, ou no mínimo, inferior. Era anormal.

Vivíamos sob constante sol, e creio que seja óbvio que protetor solar não existia, e era simplesmente algo da sociedade naquele período. Europeus e seus genes claros? O que era aquilo? O que era mundo? O que era algo além do Rio e deserto?

Cleópatra VII tinha olhos azuis? Por favor, jamais. Os olhos dela eram negros como a noite, e sua pele era tão escura quanto a de qualquer outro egípcio. Seus cabelos, por sinal, eram, de fato, lisos, e curtos. Claro que, na época dela, já havia uma mistura enorme com a Mesopotâmia porque já havíamos tido contato com eles, mas, mesmo assim, ela ainda tinha traços claros de parte de sua origem.

Tinha muita areia. E não havia cor. As cores eram divididas entre as plantas, a areia das pirâmides que começaram a serem construídas por escravos, e, é claro, as joias. As joias eram feitas de metal, os metais que já tínhamos conhecimento — e o ouro brilhava... caramba! — e havia música.

E também havia bruxaria.

Em alguns períodos da história, as bruxas simplesmente não são mencionadas, para sua própria proteção. O Egito Antigo é um desses casos. Por conta da religião e cultura da época, bruxas eram vistas como mensageiros dos Deuses, e não eram de fato nomeadas como bruxas, na realidade, não foi criada uma tradução para a palavra que era utilizada para nomear as bruxas, apesar de que teriam algumas adaptações possíveis considerando, possivelmente, o latim. Apesar disso, como os documentos sobre elas nunca foram encontrados durante a história, porque não existiam, não há porque traduzir uma palavra que os humanos acreditam que nunca existiu.

Existem três tipos de bruxas. As que preveem o futuro, as que voltam ao passado, e as feiticeiras. Eu conheci apenas dois desse tipo, as que preveem o futuro — e muitas vezes receberam títulos pejorativos por conta de charlatãs, que se diziam serem bruxas, mas que não passavam de pessoas dispostas a fazer qualquer coisa por ouro — e as feiticeiras.

Eu jamais conheci uma bruxa pregressa, já que elas eram tão raras, que diziam as lendas que apenas uma nascia por século. Eram as mais perigosas, também.

A maioria só não sabia disso.

Meu primeiro encontro com uma bruxa foi quando criança. Eu estava em casa — as casas egípcias eram como complexos, em grande maioria com um andar, no máximo dois, com diversas partes abertas, já que o telhado era apenas feito para partes de cômodos. As casas do que hoje chamamos de nobreza, mas na época dos Faraós, eram muito maiores, já que a dinastia inteira estava presente. Eu devia ter em torno de dez a quinze anos, porque me lembro da cena com mais clareza. Minha infância, por outro lado, é extremamente nebulosa. Vez ou outra tenho lapsos, mas eles se tornaram cada vez menos recorrentes com o passar dos séculos.

A bruxa estava visitando Narmer (o Faraó, o unificador do Alto e Baixo Egito), e, em sua saída, foi feito um banquete. Dezenas de escravos trabalharam nele, inúmeros músicos — e nada no mundo conseguia alcançar a música egípcia em seus instrumentos originais, era simplesmente esplêndida —, e, é claro, foram feitas ofertas aos Deuses.

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