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— De novo essa história? — reclamei enquanto me assentava na cama do quarto de Clara.

— Você precisa acreditar na gente, Mel. — Paula exclamou deitada no tapete felpudo rosa que ficava de frente para a cama.

— Mel, somos suas melhores amigas, por quê diabo inventaríamos algo assim? — Clara esbravejou sentada na cadeira da escrivaninha.

— Gente, é óbvio que Patrick não me trairia. Ele não faria nada assim. Vocês estão loucas. — aleguei.

Clara e Paula, minhas melhores amigas se entreolharam e soltaram um uníssono "ok!". Estávamos na casa de Clara, precisamente no modesto quarto que nos cercava, mas que de modesto não havia nada, pois era tão grande que cabia meu cubículo apertamento, por assim dizer, no recinto. O apartamento de Clara era localizado em uma rua badalada no Leblon, na cidade do Rio de Janeiro. Óbvio que foi minuciosamente decorado e com a vista mais linda que eu já vi na vida de frente para a praia. Também pudera! Dona Lúcia, mãe de Clara, era uma engenheira famosíssima na cidade e fazia questão de morar no melhor local. Inclusive, morava na cobertura e pelo que sei, a própria Lúcia planejou o apartamento junto de um arquiteto e um design de interiores. Paula não ficava para trás, afinal, morava em uma rua renomada em um bairro próximo a do Leblon e possuía uma situação financeiramente mais que estável, pois seus pais eram advogados. Tio Luke, pai de Paula, no que lhe concerne, trabalhava com Dona Lúcia assessorando termos jurídicos para diversas construções de edifícios e empresas. Em virtude dos fatos mencionados, existia eu, Melissa, pobre, que morava em um bairro periférico da cidade e em um apartamento minúsculo. Conheci Paula e Clara quando adentrei ao ensino fundamental em uma escola de elite através de um concurso de fotografia, no qual o vencedor ganharia uma bolsa de estudos. Como sou órfã desde os três anos e minha avó nunca pode pagar uma escola particular, resolvi participar do campeonato na tentativa de obter uma educação mais adequada e assim sair de uma escola pública que infelizmente não possuía o melhor ensino. Quando ganhei o concurso e fui para casa para contar a minha avó Maria, choramos e celebramos juntas. Naquele dia, vovó não foi trabalhar e perdeu o emprego na casa da patroa. No entanto, ela não se deixou abalar e disse que Deus a ajudaria.

No ano seguinte fui para a tal escola socialite. Embora a direção do colégio cedesse um uniforme, o que significava que vovó não precisaria pagar, ainda estava triste posto que vovó ainda não encontrara um emprego e vinha realizando o famoso "bico". A antiga patroa não havia pago os direitos trabalhistas. Foi quando conheci Paula e Clara, ambas inseparáveis, no corredor da direção. Elas ficaram incumbidas pelo diretor de mostrar as salas, banheiros, biblioteca, piscinas, pátios e salas de recreação. Apesar do entusiasmo que emitiam, estava pesarosa porque não conseguia parar de pensar na minha doce avó Maria. Quando contei o ocorrido para as meninas, Paula prontamente ofereceu uma oferta de emprego com a carteira de trabalho assinada para vovó e disse que explicaria a situação para a mãe, Dona Helena. Clara concordou e eu, atônita por não conseguir dizer nada, comecei a chorar. Às duas me abraçaram ao mesmo tempo, e disse que tudo ficaria bem. Posteriormente, trocamos telefones e vovó foi admitida para trabalhar na casa de Dona Helena Miller. Daí em diante, nós três nos tornamos impartíveis. Quando entrei no ensino médio, ainda na mesma escola, conheci Patrick, o garoto mais popular da escola. Típico de qualquer gatinho: alto, corpo esguio, olhos azuis e musculoso. Por um milagre dos céus, ele me notou e começamos a namorar. Na época, eu tinha 15 anos e ele 17. Todavia, um problema: ele não era muito bom no sexo oral e ainda beijava mal. Só fizemos sexo oral umas duas vezes, e eu, medrosa toda vida, resolvi esperar pela oportunidade certa: aos 18 anos eu estaria livre de preocupações e poderia finalmente dar a minha pequena preciosa e meu pote de mel (vulgo ânus) em paz. Patrick que lute para aguentar até lá porque não cederia de maneira alguma. Pois, cá estou, aos 18 anos, recém formada do ensino médio, virgem, sem receber ou realizar um oral, e cheia de preocupações na mente. 

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