• quatro •

27 7 7
                                    

Devidamente maquiadas, vestidas e ambas com seus respectivos Louboutin's pretos, nós três decidimos fazer uma sessão de fotos em frente ao espelho. Por um momento, quase esqueço que fui chifrada. Quando chegamos na festa, relembro o ocorrido da noite e a cena do Patrick e a mulher surge em meus pensamentos. Contenho a tempo as lágrimas que insistem em descer.

— Segura o choro, Mel! — sibila Paula baixinho ao pé do meu ouvido em um tom doce.

— MENINAS! Finalmente! Paula, minha querida, como é bom vê-la. Seus pais estão ali. — aponta Lúcia, mãe de Clara, para um casal que se encontra na varanda conversando.

— Mel, você está estonteante! Clara, minha filha, vá cumprimentar os convidados — sussurra Lúcia.

— Mas mãe... — dispara Clara.

— Nada de mãe! Ande, circulando, circulando! — ataca Lúcia em um tom perigoso.

Com o afastamento de Paula indo em direção aos pais, e Clara circulando pelo apartamento lotado, eu e Lúcia irrompemos numa conversa engraçada e amistosa. Ela é como uma mãe para mim e sinto-me acolhida sempre que venho aqui. Apesar do falecido marido e do fato de Lúcia não querer saber de homem nenhum, ela é sem dúvidas, uma das mulheres mais incríveis que já conheci depois de Vovó Maria. Clara puxou a beleza do pai, a humildade e bondade da mãe. Tem certas mulheres que inspiram elegância e riqueza, e Dona Lúcia é uma delas.  

Por fim, a mãe de Clara pede licença e diz que precisa fazer um discurso. No meio da sala de estar, com garçons distribuindo gins tônicas, uísques, espumantes, e com burburinhos típicos dos convidados, Dona Lúcia dispõe-se de uma taça de espumante e declara:

— Atenção! Por favor! — a música rapidamente é interrompida e os convidados ecoam silêncio. — Quero agradecer a todos nesta noite. Obrigada ao meu sócio Luke, e sua esposa Helena Miller por sempre estarem comigo. Agradeço também, o empenho de todos na nova aquisição do prédio da prefeitura da cidade para realizarmos uma reforma. Juntos, trabalharemos neste projeto que será incrível. Não posso deixar de demonstrar minha gratidão a todos os arquitetos aqui presente, especialmente ao chefe da equipe, Miguel Ferraz. Esse brinde, meu querido, é pra você. Obrigada por toda ajuda e por tudo. — Lúcia estende a taça a um homem que está afastado de todos. Este, levanta o copo de uísque de forma concordante com o discurso. É quando eu o vejo. Logo, todos brindam. 

Minhas mãos começam a suar e eu não consigo me desvencilhar do olhar. Ele percorre com os olhos a sala movimentada. De repente, seus olhos encontram os meus e ele encara sugestivamente com um sorriso torto no canto da boca. Embora a distância entre nós dois esteja repleta de pessoas, e ele esteja do outro lado da sala, nós não desviamos o olhar um do outro. Ele bebe mais um gole do líquido em seu copo e percebo que suas mãos são tatuadas e estão repletas de anéis. Analisando mais firmemente, as tatuagens não são somente nas suas mãos, mas também, na lateral de sua cabeça tracejando por todo o pescoço e provavelmente o peitoral, e que peitoral! Sinto um fogo latente entre as minhas pernas e pego a primeira bebida que o garçom oferece. Sorvo o copo de uma só vez e a bebida desce queimando minha garganta. À distância, ele vira o copo e o deposita em uma mesa ao lado. Ainda com os olhos cravejados aos meus, ele lambe os lábios e passa uma mão no cabelo desgrenhado. Posteriormente, ele coça a barba que está por fazer e que possui um tom castanho. Imagino que esta deve ser a cor dos seus cabelos, mas que por algum motivo está tingido de um loiro claro ridículo. O que infelizmente não o torna menos atraente, dou um passo à frente e ele coloca as mãos no bolso da calça do terno preto impecável. Alguém chama-o e o nosso contato visual é quebrado. Ele desvia a atenção e desaparece na enorme sala. Paula surge ao meu lado perguntando se estou bem, respondo que sim e seco minhas mãos suadas disfarçadamente no meu vestido preto. 

(In)verdadesOnde histórias criam vida. Descubra agora