Piloto

Quase Apaixonados

As vezes nossos olhos focam em um ponto e o acompanham como se fosse a coisa mais fascinante, mas, antes mesmo de ter meus olhos nele pude ouvir sua risada contagiante por cima dos fones de ouvido.
Me forcei a mudar o foco para a música, mas meus olhos já estavam nele, era meu ponto fascinante e igualmente inalcançável e assim estava bom. Ele era um problema a menos na minha cabeça.
Voltei a olhar a estante na minha frente de volta a meu objetivo e logo encontrando o livro que procurava no alto da estante. Tentei alcança-lo com o braço sem sucesso, olhei para os lados tentando encontrar uma escada novamente me dando mal. Dei alguns passos para trás medindo a altura me decidindo num esquema perigoso.
—Okay, okay você é uma mulher independente, forte e vai conseguir. – cochichei para mim mesma para me dar coragem e então fui mais para trás que podia para então começar uma mini corrida para me dar impulso dando o melhor pulo que consegui colocando a mão no livro o trazendo junto a mim —Isso!

—Shh! – talvez eu tenha comemorado um pouco alto.

—Boa pegada. – me virei rapidamente para encontrar olhos escuros me encarando de volta. —Dá próxima vez pode ser mais fácil se pedir ajuda.

—As vezes não tem pessoas que possam ajudar. – minha língua esperta trabalhou mais rápido do que pude pensar e um curto momento de silêncio se fez presente e eu pude ver um pequeno curvar de lábios em sua boca enquanto ele me encarava.

—Tem razão, nessas vezes procure a escada. – o tom era sério mesmo que eu tenha sentido uma pitada de diversão em sua voz e antes que eu pudesse responder ele já estava longe, de volta a seus amigos me deixando sem saber o que diabos acabou de acontecer. Puxei uma respiração tentando me colocar de volta aos eixos, ajeitei a mexa de cabelo que acabou bagunçada na minha pequena brincadeira para pegar o livro e então me dirigi a bibliotecária entregando o livro e o cartão da biblioteca automaticamente com minha cabeça nas nuvens, sendo mais específica, nas nuvens dele. Meu coração batia como um tambor, e estava meio sem ar. Talvez eu esteja morrendo, seria uma opção mais viável.

—Vai pegar esse livro de novo Ellie?

—Sim é meu favorito, ainda não consegui dinheiro para compra-lo. – ela me devolveu o livro de Jane Austen que já estava gasto pelo tempo junto ao meu cartão e agradeci guardando ambos na bolsa, não olhando para trás para tentar encontra-lo com os olhos antes de sair mesmo que fosse tentada e que meu corpo implorasse por isso.
"Ele é apenas mais um problema" voltei a me convencer indo direto para casa pronta para entrar quando ouvi risadinhas através da porta e então finalmente a abri para encontrar Emma e Will.

—Mana! – a felicidade era infinita quando ela correu e a peguei no colo sentindo seus bracinhos me envolvendo.

—Você se comportou com o tio Will? – perguntei olhando para ela e depois para meu melhor amigo que sorriu e confirmou emquanto ela dizia que sim e que foi muito divertido e que sentiu minha falta.

—Ela acabou de jantar e já está de banho tomado, também.

—Obrigada por ficar aqui hoje.

—Não há de que! Eu adoro cuidar dessa gatinha.

—E então linda que tal me ajudar a arrumar suas coisas antes de dormir?

—Não quero! Porque não posso morar com você mana? – Will me lançou um olhar triste e eu apenas sorri me sentando no pequeno sofá com ela a meu colo.

—Já falamos sobre isso, mamãe vai se sentir sozinha e vai ficar triste se você vir morar comigo. – ela não me encarava e tinha seus bracinhos cruzados e um biquinho adorável —Tenho certeza que não quer ver ela triste, você já é uma mocinha então preciso que você fique com a mamãe para cuidar dela, tudo bem? Pode fazer isso por mim? – ela me olhou por um instante e então moveu a cabeça em afirmação e então sorri distribuindo vários beijos por suas bochechas gorduchas ate que ela estivesse gargalhando. Eu não poderia voltar a aquela casa nunca e mesmo que quisesse que vivessimos juntas, não tinha condições de sustentar nós duas, mas pelo menos podíamos ter esses curtos momentos juntas.
Por isso uma melancolia me atingiu no dia seguinte tendo que me despedir da pequena, sempre com o coração na mão toda vez e eu já estava cheia de saudades mesmo ainda me despedindo.