O valor da esperança

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Em um mundo onde se tem dons eu nunca imaginaria que colocaria meus olhos em você, eu parei no meio do caminho quando nossos olhos se encontraram e você fez o mesmo até que termos de recomeçar a caminhar. Íamos em direções opostas seu caminho te levava ao topo onde a luz atingia o solo e minha me levava ao inferno.


5 anos depois

"Você vai lá pra cima"

A frase ainda ressoa na minha cabeça enquanto o elevador que apenas os Executivos usavam subia de andar a andar. Cinco anos se passaram no nível mais baixo, as pessoas que sobreviviam naquele lugar eram as mais resistentes a maioria desistia no segundo mês e morria depois de um ano, nós éramos aqueles que ninguém se importa, o lixo da sociedade, a massa aqueles considerados descartáveis. Somos os que fazem o pior tipo de trabalho, aqueles que servem de escudo para elite.
As portas se abriram e mais uma pessoa entrou, menos suja, escondeu seu olhar surpreso e o levou ao chão de imediato. Irritante.

—Você.. vem lá de baixo? – a voz rouca e sem nome me perguntou tímido. Eu não precisava responder a sujeira grudada na minha pele, o cabelo curto e oleoso, as olheiras e é claro a marca em meu ombro gravada como se fosse gado.

—Sim.

—Também estão te mandando lá pra cima sem nenhuma razão? – a curiosidade fez com que eu voltasse meu olhar para o garoto, era uma criança, na palma de sua mão era onde ficava sua marca ele estava a pelo menos 8 andares acima de mim, provavelmente não sabia lidar com toda a merda ainda parecia muito novo e me peguei pensando quanto tempo já fazia que ele chegou ali.

—A quanto tempo você está no seu nível?

—Quatro anos.

—Sua idade?

—Tenho 10 anos. E você? – filhos da puta aquilo era pira exploração a raiva burbulha sem que minha expressão mude.

—18. – a resposta parecia o deixar surpreso, será que já conheceu alguém mais velho que eu além dos superiores?

—A quanto tempo ta lá embaixo?

—Cinco anos.

—Ouvi dizer que ninguém aguentava mais de um ano.

—...ouviu certo. – seu olhar surpreso e admirado apareceu por um instante e eu não entendi como sabia quais eram essas emoções, apenas sabia —Também não sei a razão pela qual estão me chamando. Por enquanto só fique por perto enquanto pudermos fazer isso. Outro tipo entrou com cabelos escuros longos, uma cicatriz aparecia num tom pálido no canto dos lábios e era alto uns bons dois palmos que eu, seu olhar baixou na criança e depois em mim sem trocar nenhuma palavra as portas do grande elevador se fecharam novamente.

Muitos minutos depois estávamos na superfície, alguns outros entraram no elevador, no entanto, seus olhares de repulsa ja eram o bastante para que eu não quisesse me envolver. O garoto se postou ao meu lado segurando minha calça larga e suja que era o melhor que o superior havia conseguido, segundo ele esse era o mais apresentável que ele poderia me deixar.
A porta se abriu finalmente e um guarda mandou que todos saíssem, aquele lugar era o mesmo que eu havia o visto anos atrás a cena ainda estava ali, a memória embaçada após cinco anos sofridos.

—Fiquem todos em frente as marcas que representam seus níveis. – o menino me olhou acanhado e eu apenas acenei e passei a mão em seus cabelos encorajando, o ação me fazendo lembrar daqueles três anos de liberdade. A marca que demarcava meu nível era a mais longe que a dos outros. O guarda voltou ao seu posto e então um homem alto entrou, todos tinham seus olhos para baixo sentindo o ar pesado. Aquele homem era um Executivo ou algo muito perto disso, quando se tinha um dom que jamava a atenção dos líderes você ficava na superfície e logo aqueles que se destacavam entre os da superfície se tornavam Executivos.
Pelo menos isso séria o normal, claro que os que nasceram na elite da sociedade nunca iriam aos níveis baixos e os que fugiam de suas responsabilidades ou cometiam crimes graves iam pro inferno, assim como eu.
Todos estavam com medo ou demonstravam respeito, talvez eu levasse uma bronca, mas, de qualquer forma manteria o rosto de pé e olhar também, havia sido assim que fui ensinada afinal. Ninguem é superior ou inferior, nunca abaixe a cabeça e sempre os olhe nos olhos. Ganhei alguns ossos quebrados por isso e também respeito.
O homem passava por nós, um a um, avaliando o que via em silêncio até chegar a minha frente, sua expressão não mudou um centímetro sequer, ele deu um passo para trás e sua voz grave soou por todo o recinto.

—Todos vocês foram chamados aqui após uma avaliação descobrimos aqueles que conseguiram sobreviver por mais tempo em seus níveis inferiores. Vocês estão aqui hoje onde quase ninguém chegou a maioria de vocês está morta. Foi decido que terão uma chance de viver no mundo superior, isso claro se puderem passar nos testes de aptidão. Vocês vão tomar um banho, receber roupas novas e receberão alimento, os testes serão daqui a três horas. Descansem até lá.
Parecia uma brincadeira, ele saiu da sala e todos pareciam ter esperança, algumas palavras bonitas e seus sonhos voltavam a vida? Chegava a ser cômico.

—Você vai tentar? – o menino tinha chegado perto de mim segurando de novo nos farrapos me tirando da beirada.

—Não estou vendo eles me dando opções além de fazer isso.

—Posso ficar com você durante os testes?

—Se não for contra as regras, claro.

—Seria bem legal se conseguíssemos, poderíamos ver o céu de novo. – esperança, minha fúria subia a garganta novamente fazendo com que meu humor ficasse pior. Aquilo era cruel, a maioria dos que estavam ali não iriam passar e mesmo assim tinham esperança. Aquele homem havia ido ali, plantado isso e no fim aquilo só teria um gosto ruim na boca de todos. Ninguém nunca passou nesse teste, parecia apenas mais uma forma criativa de nos matar.

—Sim, seria muito bom. – foi a única resposta que pude dar.

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