"É tipo Ultraman"

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Na sequência, a criatura voltou seu olhar para trás, dando atenção a seu par que estava, ainda, parado na porta da aeronave, ele gesticulada e apontava para os Firmlegs, insinuando algo incompreensível. Como se estivesse cumprindo a ordem de seu par, o ser, então, virou-se novamente em direção à família e avançou, se aproximando abrindo caminho e esticando seu longo braço até a cortina que separava os bancos de passageiros da cabine do avião. Enquanto passava pelo meio da família, que abria espaço na tentativa de se afastar daquele ser, foi fitando um a um diretamente nos olhos – exceto por Sandy que voltara a se encolher junto da mãe – e movendo os lábios, assim, tão perto, era possível perceber que estava falando, o que dizia, no entanto, era incompreensível, sua voz soava grave e metálica, quase um chiado, como a frequência de um rádio captando várias estações ao mesmo tempo, emitindo uma única nota de escala desconhecida. Diante do silêncio dos demais em sua volta, que pareciam congelados, Billy não se conteve e, querendo ser amigável e esboçando um tímido sorriso, antes que seu pai pudesse detê-lo, disse "oi" estendendo seu braço e passando a mão no corpo da criatura, sentindo que era liso como gelo, embora fosse seco, morno e macio. Voltando seu rosto para Billy, a criatura, de forma surpreendente, esticou levemente os lábios retribuindo seu sorriso, mas parecendo não dar bola para sua carícia, prosseguindo adiante até a cabine onde se encontrava o amarrotado corpo do comandante Kelly. Bob puxou a mão de seu filho e sussurrou, como se temesse que a criatura o ouvisse:

– Não toque nele, filho! Deixa ele passar, não se mexa.

– Ele é bonzinho pai, você não viu? Ele sorriu para mim, eu sempre soube que os alienígenas eram bonzinhos, veja, ele está ajudando o tio Jimmy ­– disse como se estivesse falando de um grande cão São Bernardo.

– Que alienígena, que nada, o que é isso, filho. Mantenha-se longe dessa coisa, você não sabe o que... – então, Bob se calou quando percebeu que a criatura começou a retornar, passando por entre eles novamente, puxando o corpo do comandante com as mãos e esticando-o no chão, mais uma vez abrindo espaço no meio da família como se eles nem estivessem ali. Com o corpo do comandante Kelly estirado de barriga para cima bem no meio do avião, a criatura pôs sua mão sobre seu peito e ela começou a brilhar mais fortemente, permanecendo assim durante alguns segundos, logo após, ele ergueu vagarosamente o braço e o corpo do piloto começou a flutuar alguns centímetros acima do chão. Com uma agilidade assombrosa para o apertado espaço interno da aeronave, a criatura puxou o corpo que pairava no ar como se fosse uma leve pluma, empurrando-o em direção da porta do avião diretamente para as mãos do outro ser que, então, o manobrou porta afora levando-o dali.

Com o corpo do comandante Kelly removido do recinto, a criatura que permanecia na aeronave afastou-se um pouco da família, todos ainda estupefatos com a loucura que presenciavam. Em seguida, quando por breve momento chegaram a pensar que "a coisa" iria embora, ela se agachou bem diante deles e, sem que se percebesse de onde, puxou uma prancheta retangular com a mão e a colocou bem abaixo dos olhos de Billy. Antes que pudesse fixar seus olhos na prancheta, porém, seu pai o puxou pelo ombro impedindo-o, falando com autoridade:

– Não olhe para isso, filho, é perigoso, deixe a coisa ir embora – mas, àquela altura, Billy já havia percebido que seu pai não tinha mais o controle de si mesmo, agindo de uma forma como nunca vira antes e tremendo da cabeça aos pés, assim, sentiu-se confiante em retrucá-lo:

– Não tem perigo pai, você atirou nele e ele não fez nada – enquanto os dois tentavam argumentar entre si, o alienígena fez um sinal com a mão colocando-a em frente a sua própria boca e, novamente emitindo o estranho som de sua voz, gesticulou os dedos em círculos, em seguida, esticou o braço em direção ao rosto de pai e filho e repetiu o gesto diante de suas bocas e bem debaixo de seus respectivos narizes.

– Ele tá tentando falar com a gente, ele quer fazer contato. É um CONTATO MEDIATO! – disse Billy em tom de incentivo. Antes que pudesse dizer algo mais, o segundo alienígena entrou no avião e se posicionou ao lado do primeiro, em seguida, esticando seus braços cujos dedos seguravam dois pares de óculos escuros e os oferecendo ao garoto e seu pai. Os dois, entretanto, ficaram sem ação, apenas observando. Em face à passividade da dupla, o alienígena levantou um dos pares diante de seus próprios olhos simulando que os vestia parcialmente, depois os oferecendo novamente a pai e filho, o menino exclamou:

 – Já sei! É tipo o ULTRAMAN! – quando disse isso, os dois supostos alienígenas fizeram um sinal positivo com a cabeça, um deles gesticulava em frente aos olhos incentivando Billy a vestir os óculos, o outro, sinalizava tentando fazê-lo falar, o garoto continuou: – São os óculos, pai, os óculos do Ultra... – hesitou um pouco, como se lembrasse de algo, então completou: – ...SEVEN! Eles vão nos dar o poder para protegermos a Terra. Pai, pega os óculos – disse de forma eufórica. Bob, dentro de sua mente em choque, não conseguia responder, sentia-se como se não estivesse mais ali ou, talvez, que nada mais estivesse ali exceto o produto de sua imaginação, dentro dessa alucinação psicótica, na qual todos estavam mortos, ver seu filho interagindo com aquelas criaturas de maneira espontânea, de alguma forma parecia que ao menos ele estava a salvo, como se somente si estivesse morto e tudo que restava fazer era assistir o desenrolar da cena frente aos seus olhos como se fosse o expectador do próprio sonho, sua boca, ao contrário, murmurava palavras que nada tinham haver com seus pensamentos e que mais se pareciam com as falas de um bêbado. Percebendo que não obteria aprovação de seu pai para vestir os óculos, Billy decidiu agir por si só, rapidamente pegando um par e vestindo sobre seus olhos esperando que aquilo o transformasse em um super-herói.

Adução Série: "O Voo Charter para Miami"Onde histórias criam vida. Descubra agora