Enquanto Thodorokh seguia seu costumeiro caminho para casa, não podia evitar olhar para todas as árvores pelas ruas. Aquele "homem?" - questionava-se, reticente - parecera tão real. Tudo que via, todavia, eram folhas e mais folhas, verdes, contra o céu azul. Folhas que balançavam no mesmo ritmo do vento e deixavam-se ver por entre elas o azul do céu, o branco das nuvens, o cinza dos altos prédios de Reheden. 

Em Reheden, todos os prédios eram altos e cinzas claro. Não se via diferença de um prédio para outro. E em suas salas, funcionava todo tipo de ofício. Havia o dentista, e ao lado o salão de beleza, vizinho de um designer. Todos seguiam suas vidas comerciais em seus horários comerciais. Todos voltavam a suas casas antes do pôr-do-sol. As casas eram fora do centro comercial de Reheden, no círculo exterior residencial. Uma forma estratégica para que todos os moradores ficassem igualmente próximos de seus trabalhos. O centro comercial era também o centro acadêmico da cidade. Ali funcionava a Grande Escola, onde todos os jovens estudavam, e o Centro de Estudos Superiores, onde todos rumariam ao escolherem a profissão em que pretendiam se aprofundar para virem a exercer futuramente. 

As ruas eram largas, bem arborizadas. As árvores altas, com folhas sempre verdes e galhos grossos e espaçados. Pessoas iam e vinham em suas rotinas entre os prédios. Andavam sempre calmamente sob o sol sereno. Era comum observar pessoas sentadas nos bancos lendo seus livros de histórias e literaturas antigas: saiam de seus trabalhos e iam sentar-se a ler tanto quanto lhes aprouvesse. Jovens conversando alegremente nas calçadas, indo para suas casas, ou para a escola, ou para a Grande Biblioteca. 

Seguia, então, Thodorokh pelas ruas de prédios cinzas, afastando-se do cinza e adentrando no puro verde ao cruzar o parque externo - um pequeno bosque que separava o centro comercial do círculo exterior residencial. Diferente dos demais jovens de sua idade, Thodorokh apreciava caminhar sozinho. Acostumado a voar em seus próprios pensamentos e imaginação, dificilmente acompanhava o falatório dos grupos de adolescentes. Quando mais novo, ainda tentava acompanhar, mas, visto que sua cabeça uma hora começaria a reclamar com tantas vozes simultâneas, passou a preferir senão a própria companhia. Agora, tinha o tempo e o espaço a seu favor. Podia olhar para todas as folhas dançantes de todos os galhos de todas as árvores, a procurar algo que diferisse do usual - algo que lhe ocorrera hoje pela primeira e única vez em sua vida.  

Sem demorar-se tanto mais, chegou em casa. Uma casa cinza de 2 andares, com janelas amplas de vidro de correr em todos os quartos. Todas as janelas tinham suas vistas para o parque externo, com os prédios do centro comercial ao meio. Sempre pensara como era uma visão agradável. Acordar todos os dias com o sol a lhe acordar na hora que deveria se levantar para ir à escola. Ver o céu escurecer. Ouvir o som leve do vento farfalhando nas árvores em frente às janelas. Chegou-se, despiu-se, banhou-se em sua usual agradável ducha morna. Seus responsáveis estavam no cômodo comum, com os pratos postos para a refeição. Sentaram-se todos, agradeceram, fartaram-se. Levantou-se da mesa, lavou seus utensílios e foi-se ao quarto. Deitou-se em sua cama. Teria algo para preparar para o dia seguinte? Não se lembrava. Ficou um tempo ainda olhando para o teto, tentando lembrar. Sem sucesso, levantou-se e se dirigiu a sua escrivaninha, colocada em frente à ampla janela. Estava procurando entre seus papeis e livros escolares por sua agenda, mas algo lhe impediu de continuar. 

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⏰ Last updated: Apr 12, 2020 ⏰

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