𝗨𝗡 𝗟𝗨𝗚𝗔𝗥 𝗤𝗨𝗘 𝗦𝗢𝗟𝗢 𝗡𝗢𝗦𝗢𝗧𝗥𝗢𝗦 𝗦𝗔𝗕𝗘𝗠𝗢𝗦

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LEO VALDEZ ADORAVA VIAJAR. Poderia dizer, sem sombra de dúvidas, que sua viagem favorita foi a que fez quando tinha dezesseis anos ao Rio de Janeiro com seus pais. Brasil. Que país! Era simplesmente rendido pelas belezas naturais - as praias, a cidade, a garota loira que os recebeu no hotel, os pontos turísticos... Sempre que lembrava do país da América do Sul, sentia o corpo se encher de uma vontade conhecida, a vontade de conhecer o mundo. Leo era muito curioso. Era um aventureiro nato, e sus padres adoravam isso, pois também eram fascinados pelas maravilhas do mundo. Mas havia aprendido uma coisa em sua viagem perfeita ao Brasil: quando se trata de viagens, um bom planejamento é a parte mais importante dela. E embora tenha aprendido muito sobre viagens com seus pais, aquela foi uma lição que Leo definitivamente não aprendeu.

Em sua viagem mais recentemente, ao Canadá, com Max e Forrest para o aniversário do primeiro (é claro que Max iria querer conhecer o país gelado com cidadãos extremamente educados! Não havia nada mais Max que isso! Quem precisa das praias e das celebridades de Hollywood, não é mesmo?), o latino se viu completamente perdido depois de deixar o aeroporto, e essa nem foi a pior parte: o trio, ainda que Max se negue a assumir sua parcela de culpa na tragédia, havia conseguido simplesmente perder as reservas no hotel e precisaram passar as duas primeiras noites de sua semana no exterior enfiados em baladas para conseguirem entrar de penetras no after party de alguém e dormir em algum canto da casa do pobre desconhecido. Depois que acordou com um cão pastor mastigando seu cabelo e viu Forrest usando uma privada como travesseiro, no entanto, o latino desistiu daquele tipo de expedição e prometeu que, agora sim, seguiria os conselhos de seu papa. Viagens só com bastante planejamento. Precisava ser responsável.

Mas, ainda assim, lá estava ele, dirigindo o carro de algum dos pais ricos de Nicolina Schreave há quase três horas tendo apenas a roupa do corpo, seu cartão de crédito e uns cem dólares no bolso da calça: parecia muito com a receita de uma viagem terrível. "Para levar su novia para jantar", seu pai havia dito quando entregou-lhe o dinheiro, e Leo não pôde evitar o riso melancólico com a lembrança. A noite havia tido um milhão de reviravoltas, e não poderia estar mais longe de gastar aquele dinheiro em um jantar com Channel do que estava agora. Se tivesse que arriscar, três horas atrás diria que o dinheiro iria parar nas mãos sortudas de algum traficante do norte, assim como o relógio que usava e qualquer outro bem de fácil acesso. O Valdez que se escondia nas arquibancadas vazias da escola horas antes jamais imaginaria que o dinheiro seria usado para pagar pela hospedagem de alguns dias em um hotel de Malibu, provavelmente algum bem meia boca, mas limpo o suficiente para que a garota que dormia ao seu lado, enrolada em seu paletó, pudesse dormir em uma cama.

Nicolina havia caído no sono mais ou menos uma hora depois que deixaram Woodland, e nem mesmo a música no rádio era o suficiente para atrapalhar seu sono. Estava exausta. Ou bêbada. Ou ambos. Com Nicolina era difícil dizer. O garoto de cabelos cacheados sorria consigo mesmo pensando nisso, olhando de relance para a garota, bocejando de maneira preguiçosa enquanto tamborilava os dedos no volante. Suas têmporas doíam e Leo quase conseguia ouvir seus Divertidamentes gritando em sua cabeça "Ei, hijo de puta, faça um puta favor a si mesmo e vá dormir!", mas, ao invés de acatar o conselho sábio de sua consciência (que tinha uma voz muito parecida com a de Max), o latino simplesmente sacodia a cabeça e arregalava os olhos, espantando o sono.

Não queria fechar os olhos. Não queria descansar. Leo se conhecia bem o suficiente para saber que no momento em que fechasse os olhos e a escuridão reconfortante viesse, não sonharia com dinossauros usando cocaína ou ratos vestidos de sacristãos. Era ela quem veria. Era sempre ela. E a música alta no rádio, provavelmente alguma coisa da Billie Eillish ou Sabrina Claudio, não sabia dizer, não era alta o bastante pra fazer com que a cena parasse de se repetir em sua cabeça: Channel, na sua frente, com os olhos cheios de lágrimas e o pescoço manchado pelo batom de Lotus dizendo que sentia muito. E ele lá, parado, dizendo mentalmente "eu te amo" pra ela duzentas, trezentas vezes seguidas até que a francesa assumiu o que fez. E Leo conseguiu ouvir seu coração se partindo e os pequenos pedaços caindo pelo chão do ginásio. Não, ele duvidava que alguma música pudesse superar aquele som.

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⏰ Última atualização: Apr 13, 2020 ⏰

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𝐑.𝐈.𝐏 𝟐 𝐌𝐘 𝐘𝐎𝐔𝐓𝐇, 𝑠𝑝𝑖𝑛-𝑜𝑓𝑓Onde histórias criam vida. Descubra agora