Tempestade.

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PRIOR POV

Eu só conseguia responder as perguntas médicas de Marcela com um aceno de cabeça. Minha mente estava longe demais para prestar atenção em qualquer uma das perguntas idiotas. Vez ou outra, um relampejo em minha memória me levava de volta para os acontecimentos de minutos atrás.

Os seis homens de macacões plastificados, luvas e botas azuis, e visores de vidro, chegaram tão rápido quanto uma nuvem esbranquiçada de fumaça em meio a tarde. Respiravam por aparelhos presos as mochilas em suas costas, as armas apontadas em nossa direção.

Fecho os olhos com força.

Três brutamontes caminhando em passos pesados em nossa direção. Não demora nem um segundo para um deles me puxar do chão pelo ombro ferido e eu deixar o grito agonizante escapar pela garganta enquanto um aparelho apita contra a pele da minha testa.

Mais um cutucão contra minhas costelas, cerro os lábios com força.

Ouço os gritos das meninas implorando para que os homens a soltassem, também estão colocando os aparelhos em sua testa. Seja lá o que aquilo significasse, uma silhueta feminina por debaixo do macacão sinaliza com os dedos para os homens.

- Levem as garotas. – a voz parece abafada por debaixo de todo aquele equipamento.

- E quanto a ele? – o que me segura pergunta.

Então ela me olha. Seus olhos são de um azul mar, alguns fios do cabelo loiro estão caindo sobre seus olhos. Os olhos me percorrem e eu engulo em seco.

- É um peso morto, não vai nos ajudar em nada. – me lança um olhar desprezível antes de virar as costas. – Pode mata-lo.

Um ardor toca a minha pele.

As meninas estão berrando, pedindo para que não façam isso. O homem já está desferindo socos e chutes contra meu corpo. As gotas do meu sague estão manchando seu macacão amarelo.

Por um segundo ele para de me bater quando um som estridente ressoa pelos ares. O aparelho antes em minha testa está apitando, assim como o das garotas, o que só torna o som mais agoniante.

Minha visão está embaçada, mas posso ver a mulher encarando os aparelhos. A falta de ar me dói os pulmões e as costelas, quando mais um chute me atinge na lateral esquerda do corpo.

- A garota está infectada. – o tom da sua voz soa como uma surpresa.

O homem que segura Flay em seus ombros como um saco de batatas pergunta alguma coisa para a mulher, não consigo entender totalmente, mas ele começa a caminhar para longe com ela nos ombros e quanto mais eu tento me erguer para reagir, mais o homem desfere chutos contra meu corpo.

Bia está se debatendo quando é jogada sobre os ombros de outro homem. Tento gritar, mas me falta forças. Já não vejo nenhum sinal do homem que levou Flay, mas o que está com a Bia está seguindo pelo mesmo caminho. Os que estão com armas em punho, passam por mim, um para com o cano apontada em minha direção, puxo o ar com força pode ser meu último suspiro.

Por sorte ou não, o homem que antes me batia abaixa a arma do outro.

- Não vale a pena, só vai gastar balas e chamar atenção, não queremos todo o grupo dele aqui. – o homem armado não parece satisfeito, bate os pés com força quando se afasta seguindo os outros.

Um último chute me acerta o estomago com força e me faz tossir um liquido rubro que respinga contra o chão pedregoso. As partículas de poeira entrando em meus olhos ardem, não sei o que está doendo mais.

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