#1 - A casa de Gary Trunks

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Nas rodinhas de amigos espalhadas nos arredores da escola secundária de Meanille, muito provavelmente, haveria ao menos uma ou duas pessoas que havia passado dos limites na última festa dos veteranos. O imbecil do Gary Trunks não achava nada demais em entupir um monte de menor de idade com cocaína, êxtase e bebida alcoólica em plena quinta-feira. Mas, eu estava lá, e eu não aceitei nada daquilo — e confesso, não sei porque eu estava lá — mas, eu estava.

Talvez o motivo para que eu estivesse lá seja Lady Shafter, a garota mais linda daquela merda de escola. Ela tinha os cabelos perfeitamente cacheados, uma pele tão bela que eu não conseguia imaginar nada além de um momento que eu pudesse acaricia-la. E toda essa perfeição em uma só garota, era completamente desprezada pelo filho da puta do Trunks. Ele achava genial ser o poderoso chefão da escola, capitão do time, filho de um dos maiores nome da cidade de Meanille, pegava todas as garotas que queria, e podia fazer o que quiser que não aconteceria nada a ele.

Mas, aquela festa não marcou a todos por causa da bebedeira, dos ménages na escada, das crises de overdose na piscina, pelo menos não para mim.

“Stanley Farrell, me ajude”

Eu ouvi uma voz. Ela pedia ajuda. E eu esperava que fosse apenas alguma alucinação, que talvez Trunks tivesse batizado todas as cervejas na cozinha, qualquer atitude desprezível eu imaginava que ele teria feito.

Eu estava acompanhado de Greg, um dos meus melhores amigos desde a oitava série. A gente havia se conhecido no verão. Perguntei se ele havia escutado aquilo. Ele disse que não.

“Stanley Farrell, você sabe que ele não é uma boa pessoa, sabe que ele é um monstro.”

Olhava para as paredes, e via apenas a movimentação de uma festa que perdeu completamente os eixos. Greg estava bêbado — droga, ele é quem estava dirigindo — era melhor irmos embora, eu poderia dirigir, mas também não estava em condições, pelo visto.

“Stanley…”

Eu não estava gostando daquilo. Minha cabeça começava a coçar, talvez eu estivesse bêbado. Ficamos cerca de uma hora na casa do Trunks e eu já estava ouvindo uma voz chamando por mim. E o pior, eu também havia visto ele e Lady se pegando em cima da mesa da sala, também vi o Ryan se masturbando do outro lado da mesma mesa, completamente fora de si, mas foda-se, isso era o de menos.

Não havia ninguém são naquela casa, nem eu, aquelas vozes significavam isso. Cheguei a querer que os pais de Trunks chegassem de supetão, mas porquê? A casa era dele, era a sua casa para receber visitas e dar suas festinhas. E seus pais sabiam de cada festa que rolava, e do teor que cada uma tinha. Foda-se, era isso, eles não ligavam, um relacionamento de pais e filho baseado em dar tudo o que o garoto queria só terminaria assim: uma festa carregada de péssimas sensações, tomada por pessoas que não se davam o devido respeito, e o pior, o espirito de uma mulher no sótão.

“Stanley, por favor…”

“Me ajude, me tire daqui. Ele fez coisas horríveis comigo, preciso de você”.

A voz não parava. Eu estava afoito, meus olhos arregalaram-se cada vez que a voz prosseguia, chamando meu nome, falando aquelas coisas. Eu estava com medo. Greg não conseguia me ouvir, nem discernir o que eu dizia.

Eu queria ir embora, mas eu não estava conseguindo achar uma saída, a casa era enorme, céus, que lugar enorme era aquele.

O relógio apitou. Era meia noite. Finalmente, era sexta-feira. Dia 13. Olhei para trás, e Greg havia sumido, meus nervos se afloraram, minha mente misturava pensamentos terríveis e aleatórios, senti minha ansiedade bater com força, comecei a soar, e quando me dei conta, estava na porta do sótão da casa de Gary Trunks.

“Me tire daqui…”

Abri a porta.

As luzes se ascenderam sozinhas. As paredes grunhiram, as teias de aranha em toda parte do sótão tomavam o campo de visão, haviam ratos e baratas nos cantos, um sofá velho acomodando o corpo de uma mulher, nua, com uma corda amarrada fortemente em sua boca a ponto de ferir, marcas de estrangulamento e sinais de estupro.

Eu me arrepiei, tentei gritar, mas não conseguia. Dei um passo à frente, e no mesmo instante ela se levantou rapidamente, como um espirito pronto para atacar.

Suas genitálias estavam com cortes profundos, suas veias saltitavam de seus braços. Os cabelos loiros com mechas azuis indicavam uma só coisa, aquela era Grace Dallas, a garota que morreu no ano passado.

Eu não conseguia me mover. E ela, vinha na minha direção, se aproximando lentamente, literalmente como uma morta-viva levantando de seu sono fúnebre. Ela sorriu para mim, deu um beijo em minha boca e sumiu.

Nesse momento, eu fechei os olhos, e quando abri, Greg estava na minha frente, me cutucando, gritando e falando como se eu estivesse fora de mim. Eu olhei para ele, e logo para o sótão, que agora era um lugar organizado, limpo, com ferramentas e utensílios de jardinagem, tinham caixas velhas com coisas que Trunks provavelmente guardava para quando precisasse um dia. Tudo perfeitamente normal como um sótão qualquer… e o sofá, era limpo, sem um fio sequer soltando do estofado.

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Grace DallasOnde histórias criam vida. Descubra agora