#2 - A garota que morreu

22 5 0
                                    

Sexta-feira, 13.

Eu precisaria ler uma redação na frente de toda a turma, e eu havia preparado um texto brilhante e fenomenal, havia lido dez vezes na frente do espelho, afinal eu precisava de nota, e precisava impressionar não só a Lady como também a professora Mariah, que era minha segunda opção na escola. Se Lady fazia parte de todos meus sonhos tanto românticos quanto eróticos, Mariah fazia parte apenas dos eróticos, eu raramente conseguia me concentrar na aula porque estava ocupado demais olhando para aqueles enormes seios, que combinavam perfeitamente com a beleza daquela boca proferindo alguma merda sobre a crise econômica de 2008.

Mas não foi assim que aconteceu quando eu entrei naquela sala. Primeiro de tudo que a Mariah não pôde ir lecionar naquele dia, segundo o diretor Jeffords, ela estava com gripe. Fui obrigado a assistir uma aula inteira com o professor Harry, chato e repulsivo, não sabia explicar nada e nem se importava com isso. E afinal, eu também não me importei com a aula dele, porque durante toda a aula, fiquei estático, olhando para a terceira cadeira na segunda fileira. Era ali que ela sentava.

Me lembro perfeitamente de todas as vezes que Grace se virava para jogar bolinhas de papel em outros alunos. Ela era amiga de Lady, que por acaso começou a namorar Gary logo após a morte da amiga. As pessoas diziam que ela tinha uma fama terrível, que transava com qualquer garoto, e sinceramente, cheguei a cogitar a ideia de me aproveitar dessa possibilidade, mas ao vê-la solitária em um dia qualquer, percebi que ela era completamente diferente do que diziam. Como se ela vivesse daquela maneira por ser a única coisa que poderia fazer para não cortar os pulsos há qualquer momento no banheiro.

A gente não se falava muito, mas aquilo me marcou. E quando ela morreu, a mãe dela, que mal se preocupou em pressionar a polícia para que uma investigação fosse feita, apenas disse que ela havia morrido em um acidente, nem cogitou o que seriam as marcas em seu pescoço quando reconheceu o corpo.

Toda a turma ficou traumatizada por um determinado período. Logo após, esqueceram.

Mas, havia uma coisa a pensar: Gary Trunks estava transando com ela. Haviam saído juntos umas três vezes após os jogos. Ela também já tinha saído com o Clint e o Howan, ambos do time, mas com Gary foi diferente. E um desses dias, ela não parecia afim de sair. Ela aparentemente havia chegado a seu limite de “curtição”.

Resolvi conversar com Lady, talvez ela soubesse alguma coisa sobre o que realmente aconteceu com Grace, afinal, realmente ouvimos muito falar que ela bateu o carro após voltar de uma festa ou coisa do tipo, mas e antes disso?

— Oi, Lady, tudo bem?

— Stanley, estou ótima, e você? Escapou do mico de ler para a galera, né? — Ela falou, tentando parecer legal comigo, o que era surreal.

— Ufa, ainda bem — tentei manter o nível da conversa naquele naipe, mas eu era péssimo para falar com garotas, imagine com a que eu sempre quis transar ou até mesmo andar de mãos dadas pela escola — escuta, você chegou a falar com a Grace antes do acidente?

— Acho que sim, porquê? — Ela falou, já partindo para o desinteresse em prosseguir.

— É que eu não me lembro de ter visto nada sobre o acidente, e sabe o que é, eu sonhei com ela essa noite.

— Deve ter sido a bebida, você e Greg exageraram ontem — ela riu, droga, aquele riso acabava comigo — olha, eu acho que ela estava com o Gary no dia…, mas, porque a pergunta? Tá bancando o detetive?

 — Não, é apenas curiosidade.

Ela riu para mim novamente e se despediu, fiquei olhando-a partir, sem saber se me concentrava na beleza dela por trás, ou no fato dela dizer que Grace estava com o filho da puta do Trunks naquela noite.

— Aí, Farrell, você estava dando ideia na minha mina? — Gary Trunks apareceu, me cercando junto a mais quatro de seus amigos, todos me encarando e sorrindo, como se fizessem pouco de mim. Me diminuindo com o olhar.

— Claro que não, cara.

— Você é doido para trepar com ela, não é? Quer saber como é? Se quiser eu te dou os detalhes de como a gente faz.

Eu fiquei calado, enquanto ele olhava para mim de cima até embaixo, fazia pouco de mim, tinha orgulho em me humilhar, em ser um grandalhão musculoso que todas achavam gostoso, enquanto eu era um idiota baixinho, nerd e fracote. Trunks segurou minha cabeça e pressionou contra os armários, olhou dentro dos meus olhos, pareceu sentir o meu nervosismo, e então, apenas deu dois tapinhas no meu rosto e saiu.

Quando voltei para casa, resolvi pesquisar tudo que eu poderia descobrir sobre Grace Dallas. Sua mãe era dona da pizzaria Dallas, que faliu há uns cinco anos quando ela separou do marido e se afundou nas drogas. Desde então, Grace perdeu qualquer laço com a mãe, passou a viver em festas, chapava com muita frequência e suas notas caíam a cada dia. Haviam fotos dela com Lady, e do pessoal do time. Haviam posts dela em um blog sobre suicídio, sobre odiar a vida, e sobre sentir que apenas era usada pelas pessoas.

Grace era triste, e encontrava em festas, bebidas e drogas, uma felicidade momentânea. Talvez com essa sobrecarga terrível, ela apenas estivesse voltando da casa de Gary Trunks, perturbada, desorientada, e acabou batendo o carro.

••

Grace DallasOnde histórias criam vida. Descubra agora