#3 - Quando as luzes se acendem

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Enquanto provavelmente Greg estava há horas no videogame ou talvez se masturbando no banheiro olhando o Facebook da professora Mariah — é, eu não era o único louco por ela — e eu estava perdido no meio de todas aquelas informações, a calmaria da cidade escondia algo naquele cair da noite.

A festa na quinta-feira foi algo que repercutiu, mas Gary Trunks não se importava com isso, e por esse motivo, naquele exato momento, ele estava em sua casa outra vez, mas acompanhado apenas de Lady e de algumas garrafas de Whisky.

Estava com a iluminação baixa, estava tudo calmo, apenas dois jovens no sofá, bebendo, se beijando, deixando aflorar os desejos da carne, deixando que o calor de ambos se misturasse, e a cada momento, os dois se entregassem.

Lady tirou sua roupa, sentou-se no colo de Gary e se preparava para satisfazê-lo. Mas seus olhos logo se viraram para um quadro a sua frente, que repentinamente, caiu da parede. Ela se assustou, e embora aquilo tivesse intrigado completamente, Gary só queria transar com ela. Ele puxou a garota para o sofá novamente, começou a beijá-la contra a vontade dela, que após o quadro cair, não conseguia mais sentir o mesmo tesão.

Enquanto Gary percorria o corpo da garota com beijos e carícias, as luzes na casa começaram a piscar rapidamente, e de repente, todas se acenderam. A luz forte fez com que Lady abrisse os olhos e se assustasse novamente, enquanto Gary nem mesmo se importava, e naquele momento, Lady não sabia mais se estava com medo das coisas estranhas acontecendo na casa, ou das atitudes do sujeito, querendo pegá-la a força.

— Gary, para, está acontecendo alguma coisa… Gary…

Gary não parou, jogou Lady contra o sofá, parecia estar fora de si, só pensava em finalmente se satisfazer, enquanto a garota sentia vontade chorar, sentia medo.

Quando o sujeito se preparava para penetrar na garota, foi surpreendido pela imagem de uma mulher a sua frente, nua, com uma corda amarrada fortemente em sua boca, marcas de estrangulamento e sinais de estupro. Gary se levantou no susto, ficou horrorizado com a imagem da garota.

Ele correu para pegar uma arma na gaveta de uma estante, atirou várias vezes, mas era inútil, era apenas um espirito. De repente, um zumbido ecoou pela casa, vindo de todos os ambientes, junto a ele, uma ventania que invadia pelas janelas e portas, fazendo móveis sacudirem. Os quadros, o telefone, papeis numa mesa, enfeites e troféus, tudo foi ao chão.

Os vidros se partiram, e com a ventania, sobrevoavam pela sala.

A imagem de Grace se dissipou no meio de todo o alvoroço, Lady ainda estava no sofá, amedrontada, Gary estava no chão, perto da mesa. Quando o zumbido passou, ele se levantou, olhou para a garota que estava prestes a violentar, sem escrúpulo algum.

Grace então apareceu de frente para Lady, olhou dentro de seus olhos e enfiou a mão em seu peito, perfurando com suas unhas no peito da garota que a chamou de amiga, mas nunca se importou de fato com ela, e logo após sua morte apenas se jogou nos braços do mesmo imbecil que elas se envolveram. Lady urrou de dor, enquanto Grace sorria ao arrancar o coração da garota.

Lady caiu no chão, esguichando sangue.

Gary estava desesperado, com medo, queria gritar, mas sabia que seria inútil. A casa estava completamente destruída por dentro, e sua única alternativa foi implorar que poupasse por sua vida.

“Vocês se divertiram comigo, hoje é a minha vez…”

Aquela frase ecoou pela casa, a voz de Grace Dallas, um espirito vingador, uma mulher que foi brutalmente violentada, e que após uma noite horrível, deixou aquela casa, fora de si, pegou um carro, e o bateu. E agora voltava para acabar com todos que desgraçaram a sua vida.

Gary começou a sangrar pelos ouvidos, pelos olhos, e seu peito começou a arder. Sua pele estava ficando vermelha, e a cada segundo, ele sentia como se algo o queimasse por dentro.

Ele gritava de dor, e a cada grito, Grace sentia prazer.

O corpo de Gary então começou a se contorcer, seus ossos foram se quebrando, até que ele perdesse a vida, com o corpo complemente destorcido, arruinado.

Grace desapareceu em seguida, e a enorme casa, de repente, desmoronou.

***

Do outro lado da cidade, o time da escola comemorava mais uma vitória, com bebidas, drogas e prostitutas em uma casa de festas. A música estava alta, todos estavam alterados, e ninguém foi capaz de compreender o que houve naquela noite de sexta-feira 13.

No mesmo instante em que sabiam que Gary Trunks estava em casa com Lady, eles estavam ali, prestes a virar a noite comemorando, quando de repente, o espirito de Grace se materializou entre eles.

Em certo momento, as luzes se apagaram, e quando se acenderam, a casa pegou fogo. Simplesmente, chamas nasceram de vários cantos da casa, se espalhando assustadoramente, queimando de forma violenta a cada almofada, cada sofá, cada móvel, cada pessoa.

Eles tentavam fugir, mas cada porta e janela estava emperrada, não tinha como fugir, só tinha como sentir o fogo consumindo a pele, o corpo, a alma.

Em poucos minutos, a casa estava completamente incendiada, e todas as pessoas estavam mortas.

Ao mesmo tempo que esse incêndio ocorreu, Mariah estava em sua casa, se recuperando da gripe, morava sozinha, acompanhava algumas séries na TV, mas tudo isso ficou para trás quando as luzes em sua casa também se apagaram. Ela nem mesmo se lembrava de quando ignorou aos pedidos de ajuda de uma aluna na escola, Grace, a garota que ninguém nunca iria compreender.

Mas quando as luzes se acenderam, ela se lembrou. Pois, viu sua imagem em sua frente, sorrindo para ela. A professora gritou, tentou se afastar, mas quando se deu conta, o espirito não estava mais em sua frente, mas sim, atrás dela, a segurando pelo pescoço, a estrangulando, tirando todo seu ar.

Mariah caiu no chão, sem vida, e Grace finalmente desapareceu.

Já se passava das 23hs da noite, quando ouvi alguém batendo na porta, era minha mãe, pedindo que eu levasse o lixo para fora. Eu acordei, me levantei, e percebi que pesquisei tanto sobre Grace Dallas que tive sonhos bisonhos e pavorosos, como se Grace estivesse por aí, matando pessoas, como se eu tivesse libertado seu espirito quando abri a porta do sótão nos primeiros minutos daquela sexta-feira.

Como se tudo fosse premeditado.

Na segunda-feira, fui para a escola, ainda encucado com meu sonho, com minhas pesquisas, pensando se realmente Grace não poderia estar por aí. Eu sentia como se ela estivesse me acompanhando, me mostrando tudo.

Ao chegar na aula, alguns policiais, uma movimentação descontrolada e absurda, Greg estava eufórico, todo mundo horrorizado, outros tristes, pessoas até mesmo desmaiaram. A notícia que percorria os corredores era sobre a morte de uma professora, um incêndio brutal numa casa de festas e por último, a morte de dois alunos numa casa de campo.

Ao ouvir tudo aquilo, já dentro da sala, voltei a pensar na noite daquela sexta-feira, nas vozes nos primeiros minutos daquele dia, e finalmente, voltei a encarar aquela mesa, onde ela se sentava. Eu poderia sentir, talvez seja verdade.

Ela estava ali sentada, entre nós.

Grace Dallas estava presente.

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O conto possui 2998 palavras.

Grace DallasOnde histórias criam vida. Descubra agora