dia um: eu caí.

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reflexão do dia:

"Existem três tipos de pessoas: as de cima, as de baixo e as que caem." -O Poço (2019).

Essa citação é bem engraçada pra mim. Em um contexto longe da larga escala, posso dizer que peregrinei pelos três arquétipos. Hoje? Ontem? Há um ano ou dois? Ainda me considero como quem caiu e mal levantou do tombo doloroso que é a realização do que é a vida adulta ou o sonho de ter uma.

A busca pela introspecção contínua parece não gerir resultados já que ando tão confusa quanto antes. Se três anos atrás eu percebesse o quanto tudo ainda poderia piorar, eu nunca tinha reclamado.

Veja, é curioso... Num ano você ser vista como um prodígio, uma pessoa com um futuro brilhante pela frente, uma pessoa esforçada e no outro regredir em todos os patamares possíveis desde físicos à emocionais. Parece uma piada, uma piada de extremo mau gosto, mas é só a minha vida.

Sempre pensei que aquela frase cliché: "É como se o chão desmoronasse sob meus pés" fosse um exagero. Um recurso gramático qualquer para adquirir DRAMA. Ah, como eu me enganei. Como fui ingênua.

Às vezes sinto falta de pensar e agir como uma criança. Sinto mais falta ainda do mundo me enxergar como uma. Crescer é tão cruel, mas pior que isso é ser obrigada a parar no tempo, ser interrompida. O mundo continua girando e você continua lá, existindo e mais nada.

Entendo pessoas que ou escolhem esse caminho ou sonham em o usufruir. No entanto é muito mais doloroso quando você não tem escolha sobre sua própria vida. Seu próprio nome. Sua própria identidade.

Eu tenho vinte anos. E me sinto como um bebê. E me frustro por não ser um de fato, no sentido literal. Eu não tenho escolha. Ando presa numa vida que impuseram à mim, mas me pergunto: quando isso começou? Muito antes, quando eu nasci? Fui um erro? Um bug no sistema?

Sou um efeito colateral? Por que minha vida parece um efeito colateral? Ando exausta. Eu só quero chorar. Às vezes só quero um abraço e a certeza de que toda essa dor vai se fazer valer a pena lá na frente.

Quem sou eu? Todas as minhas convicções estão ou estavam erradas? Como me reinvento? Deveria fazê-lo? Deveria continuar lutando por uma identidade que fora à mim atribuída, sendo que a outra segue o mesmo requisito? Às vezes só queria ser vácuo. Nada. Vazio. Sem dor.

Minha única certeza é a de que eu caí e caí feio e o joelho ralado não importa mais como antes. O problema é aceitar que talvez essa fosse a rota que eu merecia. Tudo é confuso. Eu merecia mais? Isso é exatamente o que plantei e agora estou colhendo? Quem são os responsáveis?

Ando cansada. Minha mente não trabalha mais como antes. Eu não trabalho mais como antes. Eu não VIVO mais como antes. Peregrinando pelos arquétipos, não sei o que é mais assustador: viver sob altas expectativas alheias ou viver sem expectativa alguma. Eu estou enlouquecendo? O que aconteceu com a minha cabeça? Eu me perdi?

Eu me perdi?

Eu caí? Por quê?

De nada adiantou toda aquela precaução exacerbada? De nada adiantou ser... Quem eu acreditava ser?

Eu me enganei?

Quem sou eu?

Eu deveria lutar?

Ando cansada caída aqui. Meus joelhos não doem mais, os danos perpetuam na minha mente agora. Como se eu estivesse presa numa gaiola de portas abertas, eu não consigo sair. Não consigo sair de dentro e nem posso.

Não posso porque não sou quem eu pensava ser. Agora não sei quem sou. Ando exausta. Eu deveria desistir?

Eu caí e diferentemente do "Poço", acordo todos os dias no mesmo nível. Machucada.

ensaio sobre minhas angústias e ansiedades;Onde histórias criam vida. Descubra agora