PRÓLOGO

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"Que eu gosto tanto de você

Que até prefiro esconder

Deixo assim ficar

Subentendido

Como uma ideia que existe na cabeça

E não tem a menor pretensão de acontecer"

Apenas mais uma de Amor, LULU SANTOS

Marcelo tocou seu rosto enquanto se via através do espelho. Encarava seu rosto sem espinhas, toda a parte dele. A começar, por seus olhos de que tanto gostava. As vezes os achavam grandes, às vezes, pequenos. Seus lábios eram a segunda parte mais clara de seu rosto. Lábios cheios, de um tom escuro quase roxo e o de baixo de tom mais claro e rosado. Encarava sua pele negra ressecada pela falta de cuidados, sua testa larga, seu rosto redondo, com os cabelos um tanto alto e crespos, não sabia se penteava para frente ou para trás. As vezes pensava se ficaria bem se os raspasse na máquina, como seus pais viviam dizendo para ele fazer.

Encarava-se e pensava se era alguém atraente. Não se achava feio, mas não sabia o que as pessoas pensavam sobre ele. Socialmente ele estava longe do padrão de beleza, mas queria acreditar que haviam pessoas melhores que o aglomerado delas, apesar que Marcelo entendia que não era uma maioria que ditava os padrões.

Marcelo estava tão concentrado em seu reflexo que só despertara quando sua mãe gritara que ele iria se atrasar.

Já arrumado e de café tomado, ele saíra de casa rumo à escola.

Fazia o segundo ano do ensino médio. Estudava em uma escola particular no Filipinho chamada CENTRAL. Seus pais trabalhavam para garantir o melhor para seu filho único. Apesar de estudar em uma renomada particular, Marcelo tinha uma família humilde, é assim que o diretor fala de sua família quando o avisava do atraso do pagamento. Na verdade, o diretor nunca fora direto, mas ele sentia que era isso que o diretor queria dizer quando se encontravam nos corredores e ele falava sobre a família humilde de Marcelo.

Para chegar na escola, ele pegava apenas um ônibus. Demorava uns vinte e cinco minutos sem trânsito e quase o dobro com o trânsito. Hoje Marcelo teve sorte, não demorou muito e já se encontrava de frente a escola.

Sempre era um daqueles alunos que "madrugavam", era sempre o primeiro da sala a chegar.

A escola era grande, haviam três andares. No primeiro, era o térreo, ficavam salas de atividades extras e o pátio recreativo. No segudo eram as salas do primeiro e do segundo ano. E no terceiro ficavam as salas do terceiro ano, dos professores e a diretoria. Obviamente haviam banheiros e bebedores em todos os andares.

Marcelo foi direto para o seu canto favorito, sua sala de aula. Era um dos poucos lugares do qual se sentia à vontade.

Possuía uma timidez bem acentuada, ele não conseguia conversar muito com estranhos. Ficava ansioso com facilidade e tinha momentos que ele literalmente travava.

Mas Marcelo tinha amigos, dois grandes amigos. Um deles era Manu, de nome Emanuelle. Os dois se conheceram no ano passado. Fizeram o primeiro ano e agora faziam o segundo ano também juntos. Manu era a única garota negra da sala. Ela tinha a pele mais escura que Marcelo, os lábios mais finos. Ele já vira Manu sorrir e se decepcionara ao ver que ainda era o único com gengivas escuras.

Marcelo desde pequeno sorria com a mão na boca, isso porque quando criança dois meninos zombavam da gengiva roxa dele e um dos meninos era negro como Marcelo, aquilho lhe marcou na alma. Mas Marcelo não pensava ser uma criança santa, até hoje o mesmo se lembra como discriminava, em pensamento, as crianças com a pele mais escura que a dele.

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