O hospital Chase Farm.

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A dor, o calor e o fracasso. Essas foram as únicas coisas que passaram pela minha cabeça nos últimos dias. Como isso foi acontecer? Teria Jack, vencido tão facilmente?

Acordo e viro meus olhos procurando entender algo, vejo uma enfermeira passando pela frente da porta, levando um idoso na cadeira de rodas. Estou com várias faixas amarradas em mim, e ouvindo um barulho irritante de um sino. Pela arquitetura do lugar parecer tão velha, só poderia ser o bloco antigo do hospital Chase Farm, sorte a minha.

Um médico bate na porta, como se pedisse autorização para entrar, mesmo assim entrando na sala. O médico tinha o nome "Connor" escrito em seu jaleco, e estava visivelmente cansado, as olheiras pareciam ser algo recorrente em sua face.

- Senhor Graham, como se sente? - diz o médico, pegando uma cadeira para se sentar ao meu lado.

- Confuso - digo, com falta de ar - e com dor.

- Isso deveria ser o senso comum - Connor dá um suspiro. - Você se envolveu em um acidente sério, poderia ter sido bem pior.

- Pior?

- Sim, 40 por cento do seu corpo foi queimado no incêndio, seu rosto está irreconhecível, sem falar na perda parcial de sua perna.

Imediatamente tento mexer minhas pernas, mas a dor me impede. O médico então pega uma caneta e joga onde deveria estar meu pé direito. Ela caí sobre o lençol. Não havia nada lá.

- Vê? - diz pegando a caneta de volta. - É um milagre ter chego a Chase Farm vivo. Você não sabe por quanto tempo esteve dormindo.

Eu fecho os olhos, tentando absorver toda a informação, mas só conseguia sentir raiva de tudo aquilo.

- Um amigo seu esteve aqui, nos disse que você é um sensato detetive, e que não faz idéia de como sua perda o deixaria arrasado. Ele confirmou que virá visitá-lo mais tarde.

Seria Roger? Não consigo pensar em mais ninguém que me visitaria nesse tipo de situação. Fico pensando enquanto olho para o teto, até ele dizer:

- Admiro o seu trabalho, nem deveria comentar sobre mas... andou sabendo? - diz, olhando para os lados. - Acharam um cadáver perto da casa onde você foi encontrado, não possuía uma única gota de sangue.

Abro a boca para comentar, mas o médico é chamado por uma enfermeira e se levanta, dizendo para eu chamá-lo caso precise de algo. Mas o que ele quis dizer? A explosão não foi para sumir com as provas? Eu deveria estar mesmo vivo? Não valia a pena pensar nisso agora. Fecho meus olhos e lembro, o informante da delegacia me disse que um traficante tinha desaparecido a alguns dias, aparentemente tentava transformar a casa em seu ponto de encontro com os clientes.

O que mais me chamou atenção nisso tudo, é o fato de que as clientes mais recorrentes dele são damas da noite, logo, o traficante poderia estar atraindo indiretamente Jack. Mas parece que cheguei tarde.

Fico raciocinando por minutos, até que pego no sono. Tempo depois que sou acordado gentilmente por uma enfermeira.

- Senhor, a visita chegou. - diz ela, ligando o interruptor.

A luz da lâmpada ilumina o quarto e machuca meus olhos, já estava de noite. A enfermeira saí da sala, deixando um homem entrar. Era velho, corcunda, usava roupas finas e uma bengala. Definitivamente não era Roger. Ele se aproximou, e enquanto colocava seu chapéu em cima da mesa, se apresentava:

- Muito prazer, Edward Graham, me chamo Nicholas Sewer Tudor - ele espera uma resposta, mas eu fico em silêncio. - Sou um empreendedor, e vim lhe fazer uma oferta irrecusável.

Não fazia idéia de quem ele era, mas estava disposto para ouvir a proposta, não tinha nada a perder.

- Pela sua reação, deve estar sentindo muita dor. Pobre homem! - exclama Nicholas. - A oferta é simples, você me oferece sua lealdade, e eu lhe darei meu suporte.

- Que tipo de suporte, exatamente? - digo com um tom mais grave.

- Possuímos um inimigo em comum, Jack - pelo menos é como chamam essa coisa - uma criatura das trevas, diferente de vocês humanos, e não muito de mim.

- O senhor parece cada vez mais louco! - eu tento rir, mas acabo tossindo.

- Loucura é um conceito vago, perdoe-me se não me expliquei adequadamente. Estou falando de criaturas como lobisomens, ogros, fantasmas, todas elas existem e coexistem no nosso mundo.

Ele parece sério, porém ainda não consigo acreditar nas suas palavras... Mas o vulto que vi entre as chamas, aquilo não parecia um humano.

- Então o que é você? Me chamou de humano, você não parecia querer se incluir nesta classificação.

- De fato... Espero que não fique aterrorizado - Nicholas abre um sorriso, fechando a porta.

A distopia de EdwardOnde histórias criam vida. Descubra agora