- Mila, o que tá acontecendo?! - perguntei nervosa.
- Nada, Rose, nada... - me respondeu sem paciência.
- MEU DEUS! O que foi que eu te fiz agora? - estava totalmente perdida em sua frieza repentina.
- Já se passaram seis meses que a sua mãe morreu e você não supera a merda desse luto! - ela respondeu entre dentes e senti meu coração na boca.
- Quando for a sua mãe, você me fala como é - cuspi as palavras segurando o choro.
- Amor... Desculpa - ela veio até mim - não foi isso que quis dizer... É só que...
- É SÓ QUE O QUE?! SE TÁ DIFÍCIL PRA VOCÊ, IMAGINA PRA MIM! - gritei derramando algumas lágrimas.
- Amor, é que eu me preocupo e você está fora de controle. Esse luto não é saudável! - suspirou pesado - Seu único momento sóbrio é com as crianças, seu humor se altera a cada segundo, você não consegue lembrar nem o óbvio mais, eu nem te vejo sorrindo mais... - ela disse colocando suas mãos em meu rosto com delicadeza.
- Se você se preocupasse teria ido ao velório comigo, teria vindo me ver, teria me socorrido. Isso tudo quem fez foi a Mary, você esperou o "terreno limpar" pra vir até mim. - ela ia começar a falar, mas a interrompi - Estamos juntas há dois anos, você conheceu minha mãe e nem se abalou com a morte dela e nem em como eu fiquei. Nossa relação esfriou e você só reclama. Eu não preciso da sua ajuda. Eu saio desse buraco sozinha... - desabafei.
- Eu te amo, Rose! Eu só não sabia como lidar com a situação, não queria te abandonar... - explicou colocando meu cabelo para trás e limpando minhas lágrimas. - Esse luto não acaba e nem muda de fase, alguma coisa você tem que fazer...
- Por favor, só para - minha voz saiu quase que em um sussurro.
- Eu não posso parar, me importo demais com você para isso!
- Mila, vamos comer que a pizza está esfriando, não quero falar disso mais - encerrei o assunto e comecei a comer.
(...)
Mais tarde naquela dia, ao chegar em casa, despejei tudo em Mary. Ela me ouviu com paciência e deu todos os conselhos possíveis, sabendo que eu ignoraria 99% deles. Sempre fui muito grata pelas coisas da vida, mas amizade era a principal. Nem todos têm alguém com quem sempre possam contar e se abrir, mas esse não era o meu caso.
Comecei a revisar as tarefas e os calendários de cada turma na sala, Mary estava transando com algum cara no quarto e eu ficava inconformada com a quantidade de barulho que eles eram capazes de fazer. Ri pra mim mesma e continuei meu trabalho, mas estava difícil manter a concentração com a criatura que ela trouxe gritando "Oh Satã" de 10 em 10 minutos. Desatei a rir.
Estava começando a escurecer e eu estava na sacada, ainda trabalhando, mas enrolada em um cobertor e observando o pôr do sol. Sempre me admirei com todo e qualquer evento da natureza. Ninguém mais do meu instagram aguentava fotos do céu, mas eram tão lindas. Enquanto tirava algumas fotos do anoitecer, Mary apareceu do meu lado com um sorriso malicioso e parecendo ter voltado de uma guerra.
- Amiga, você estava transando ou revivendo a segunda guerra? - indaguei rindo.
- Roleplay - brincou rindo e eu caí na gargalhada.
- Meu Deus... Você é doente - ri mais e fechei o notebook. - Finalmente eu terminei! Vamos pedir uma pizza? Não estou no clima para sair agora... - sorri fraco e ela concordou.
Bowie, nossa gata que tínhamos achado há uns dois meses na rua subiu no meu colo fazendo um escândalo absurdo, ou seja, ela queria que eu colocasse ração no pote, que ainda tinha ração.
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Não Tão Profissional
RomanceRose é uma jovem professora de artes, do tipo que se doa e preocupa completamente com seus pequenos alunos. Mas, ao contrário do que parece, a mulher esconde uma vida pessoal conturbada e desestruturada; uma bagunça deixada pela morte de sua mã...