Tempestade

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-Mas você é uma mula mesmo. -Milner disse enquanto dava um longo gole no seu chá. A voz dele parecia a quilômetros de distância mesmo ele estando bem ali, na frente de Andrew.
-O que disse? -O escocês murmurou, mas o simples ato de mover a boca mandou raios de dor através de sua mandíbula atingindo diretamente seu cérebro como facas afiadas. Estava de ressaca,-talvez a pior de sua vida-, e tudo que Milner tinha para oferecer era chá preto ou suco de laranja. -Sabe James, -Robertson se forçou a dizer, mesmo todo seu corpo o dizendo para parar. -Um bom amigo teria um pint gelado com uma boa cerveja escocesa me esperando. -Ele correu o dedo ao redor da xícara cheia de chá fumegante. -E não essa merda inglesa.
O rosto de Milner se tornou de um vermelho quase fluorescente. -Você não vai desrespeitar as minhas tradições bem aqui no meu recinto sagrado. -James abriu os braços e pela primeira vez Robertson se deu conta de que ele estava na casa de Milner... e não estava usando calças.
Por deus o quanto eu bebi? Robertson se perguntou, mas pensar lhe causava náuseas. -Além do mais você nunca mais vai querer beber na sua vida. Bem, não depois do que aconteceu ontem... O que nos leva ao ponto inicial: Você. É. Uma. Mula.
A claridade estava machucando seus olhos. Além disso não queria ouvir a lenga-lenga de Milner, não a essa hora da manhã —ou da tarde.
-Aliás que horas são? -Robbo tentou se levantar da mesinha, mas achou melhor não depois de ver estrelas rodando ao redor da sua cabeça.
-5:30. -Milner disse enquanto mexia seu chá.
-Você me acordou às 5:30 da manhã James?! Você perdeu completamente o juízo?
-Da tarde Robbo. São 5:30 DA TARDE.
-Oh.
Robertson passou mais alguns segundos olhando para uma grande fatia de pão que estava disposta em seu prato, a mera ideia de tocá-la trouxe a náusea de volta e com força.
-Você estava dizendo... -Ele começou tentando se concentrar. -Que eu fiz alguma merda. O que foi? Eu me mijei? Sabe isso aconteceu uma vez quando eu estava em Gloucester e eu fui num pub de lá. Pensando bem já aconteceu mais de uma vez por quê teve aquela vez também em Edinburgh quando eu acabei mijando na roseira da Senhora Fitzpatrick mas eu não acho que ela notou porque a casa dela já cheirava a mij—
-Você disse que estava apaixonado pelo Virgil.
A risada que saiu de Robertson foi tão alta que ele mesmo se assustou. Ele riu por mais alguns segundos, mas vendo que Milner não o estava acompanhando, deixou o som morrer aos poucos.
-Eu não estou te pregando uma peça, Robbo. -James agora estava muito sério, olhando tão profundamente dentro dos olhos de Robertson que ele involuntariamente virou o rosto.
-Você não pode estar falando sério. - Ele disse, mas algo no fundo, bem lá no fundo, dizia que Milly não estaria brincando com uma coisas dessas. -Você está falando sério? -Um nó se formou no fundo da sua garganta, ele sentiu o aperto tomando conta de tudo, até de sua ressaca.
James preferiu não responder, apenas se curvou e pegou a fatia de pão do prato de Andrew. -Manteiga? Geleia?
-James eu não sou... você sabe...
-Fã de geléia? Eu mesmo prefiro uma boa compota de laranja mas não tinha na loj—
-EU NÃO SOU GAY! -Robertson nem mesmo percebeu que tinha mesmo gritado até ver o olhar horrorizado de James. Aquele nó agora parecia estar na boca do estômago e ele estava prestes a vomitar. Era uma puta manhã, ou tarde, horrível e ele já estava pronto para que ela acabasse. -Eu acho. -Disse por fim, num sussurro.
-Ei, -Milner disse empurrando sua cadeira para perto de Robbo. -Eu não me importo. Aliás, eu não acho que nenhum dos garotos se importe. Quer dizer... com o Salah e o Lovren bem ali na nossa cara, se alguém tinha alguma coisa para dizer já teria dito. Além do mais, você não era o mais bêbado do bando, aposto que se eu não estivesse sóbrio como uma pedra, ninguém jamais se lembraria de todas as coisas que foram ditas ontem a noite.-James sorriu o seu sorriso de "está tudo bem" o que fez um soluço brotar de dentro de Andrew. Antes mesmo que pudesse dizer qualquer coisa, estava chorando nos braços do inglês.
-Me promete que vai pensar sobre isso, Robbo. E tentar fazer o que é verdadeiramente melhor pra você, de preferência quando você não estiver bêbado que nem um gambá?

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Mas é óbvio que Robbo ignorou completamente o conselho do amigo. Nas primeiras semanas se pegava pensando sobre o que tinha acontecido mas logo se repreendia e focava em alguma outra coisa qualquer. Com o passar dos meses só se pegava pensando em Virgil as vezes, normalmente a noite...

Boys don't cryOnde histórias criam vida. Descubra agora