O Pingente

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“Teu sorriso me desarma;
Te perder é meu carma;
Teus olhos me iluminam;
Transformando você no meu abrigo.”

A garota se sentou junto a um grupo de pessoas na frente, acho que ela nem ao menos me viu, porém, fiquei observando a mesma, seu cabelo era diferente e sua pele parecia mais clara, mas aqueles olhos.. Poderia reconhece-los em absolutamente qualquer lugar, seus olhos eram em um tom único de marrom, um pouco caídos e com cílios lindos e longos, continham um brilho de esperança e doçura que hipnotizavam qualquer um.

—Senhorita? Poderia responder a minha pergunta?

Uma voz masculina me tirava de meus sonhos. O professor me encarava aguardando uma resposta, mas eu não sabia do que ele falava. Para minha sorte, a pergunta estava escrita no quadro e demorou menos de dois minutos para achar a resposta em minhas anotações, ele novamente me olhou de cima abaixo e concordou com a cabeça, minhas bochechas estavam vermelhas, não tinha reparado que estava a observando de forma tão evidente, porém, era como se uma força me puxasse para ela, era estranho e ao mesmo tempo me parecia tão normal.
Após algum tempo, o sinal indicou que nossa aula tinha terminado. Comecei a arrumar as minhas coisas, estava me sentindo estranha, seria realmente ela a garota dos meus sonhos? Aquilo me parecia impossível, como alguém que aparecia em meus sonhos desde os 15 anos poderia estar na minha frente daquela forma? 
Terminei de guardar as minhas coisas depois de todos já terem saído da sala, não gostava de ficar entre muitas pessoas, então sempre esperava as multidões saírem para que eu fosse em seguida, fui em direção a porta, quando vi um brilho que refletia em baixo de uma das cadeiras, mas não qualquer cadeira, e sim a cadeira dela.
Eu poderia apenas ter ido embora, alguém iria achar aquilo, e de qualquer forma, não era meu, porém, alguma coisa me incentivou a ir até o local. Me aproximei e então me abaixei, achando o que refletia, um pequeno pingente, não era ferro, nem vidro, parecia algo como uma pedra. Quando olhei aquele pequeno objeto, senti  aperto em meu peito, como uma dor, uma lembrança. O guardei em meu bolso e sai da sala, poderia entregar para ela amanhã durante a aula.
Cheguei em casa com uma fome incomum, preparei um pequeno jantar, tomei um longo banho quente, coloquei um pijama e me preparei para dormir, mas simplesmente não conseguia parar de pensar naquele pingente. Levantei e fui até minha calça, onde ele estava guardado, aquele formato, aquele brilho, sem dúvidas, aquele objeto não me era estranho. O coloquei em minha cômoda e me deitei novamente me forçando a dormir, precisava descansar para não me atrasar outra vez.
Meus olhos se abriram, mas já não estava mais no meu quarto, eu estava em um quarto diferente, as paredes eram feitas de pedra, minha cama era feita de palhas secas, eu trajava um tipo de pijama de algodão e em frente, via minha armadura, estava em meu mundo novamente.
Me levantei e vesti minha armadura, mas antes de sair de meus aposentos, comecei a revirar algumas roupas até achar um pequeno pingente de rubi. Era o aniversário de minha amada e eu pretendia presenteá-la. Não era algo grandioso, nem muito surpreendente, considerando que ela uma nobre e teria milhares de joias como aquela, porém, era algo especial para mim, esteve na minha família por gerações, carregando consigo um pequeno conto de que quem o possuísse, encontraria o amor de sua vida, e quando isso acontecesse, deveria entrega-lo para seu grande amor, isso seria como um acordo, pois se essa pessoa aceitasse, ambos ficariam juntos para todos o sempre.
Saí do meu quarto e segui pelos corredores do castelo, queria ser a primeira a desejar os parabéns. Chegando em frente a sua porta, dois guardas estavam parados a frente, fiquei confusa, eu era a única que tinha autorização para ver a princesa, ou até mesmo protege-la.

—Bom dia senhores, o que fazem neste aposento?

Perguntei de forma fria, eles não deveriam estar tão perto do quarto da minha princesa, não tinham esta autorização. Ambos me olharam como se estivessem a me medir, com uma expressão que deixava claro o fato de eles não concordarem com o fato de eu estar ali, ambos se olharam, até que um deles me informou que o rei estava lá dentro, dando um sorriso lateral em seguida. Ignorei ambos e apenas bati na porta, escutando a voz pesada do rei soar me convidando a entrar.
Entrando no quarto, presenciei uma das piores imagens da minha vida, minha amada chorava de forma desesperada, enquanto falava que não iria se casar de nenhuma forma, mas aquilo parecia não afetar em nada o rei, que a olhava da mesma forma que olhava para seus animais, parecia não se importar com as dores de sua filha, ou com a tristeza estampada em seus olhos, agora tão tristes.

—Não estou te dando opções! Amanhã você irá se casar, hoje irei pessoalmente tratar dos detalhes de seu casamento, ficará com o príncipe de um dos maiores e mais ricos reinos da região e em troca, teremos o apoio completo do mesmo. Amanhã se mudará para o castelo deste nobre e não será necessário que tenha uma... Guarda pessoal.

Ele me olhou de cima a baixo para falar suas ultimas palavras. Estava me descartando, me tirando do lugar que consegui depois de anos, e o mais importante, me afastando dela. Apesar de tentar manter a calma, minha expressão era a de mais puro desespero, não conseguia esconder minha dor ao vê-la naquela situação, mas o que poderia fazer?
Aguardei o rei sair do quarto para abraçar minha princesa, seu corpo tremia e eu conseguia escutar soluços saírem de si. A imagem dela, tão frágil, tão triste, me partia o coração e escurecia a alma, e quando me dei conta, já estava a chorar, iria perder meu grande amor?
Quando abri meus olhos, já estava em meu quarto, agora, de verdade, meus olhos molhados, minhas mãos tremendo, era como se eu soubesse exatamente o quão dolorido aquilo tinha sido, me parecia tão real.
Aproveitei o fato de ter acordado mais cedo dessa vez para me arrumar um pouco, tomei um banho quente, arrumei meus cabelos e fiz uma leve maquiagem, vestido uma camiseta de super-heróis que adorava, meu jeans rasgado, uma bota e estava pronta. Parei em frente a minha cômoda, agora reconhecia bem o objeto, era o mesmo do meu sonho, um pingente de rubi, mas, como poderia eu ter sonhado com algo que jamais me pertenceu?
Cheguei a minha sala de aula no horário correto, estava com fones de ouvido no máximo e olhava fixamente para o chão, quando senti meu ombro esbarrar em alguém, levantei meu olhar com um misto de irritação e consentimento de que a culpa era minha, mas tudo se transformou em uma expressão abobalhada e vermelha.
A garota estava na minha frente, me pediu desculpas e voltou ao que estava fazendo, seus olhos estavam vermelhos e um pouco inchados, como se tivesse chorado na noite anterior. Percebi que ela olhava por de baixo das cadeiras e então entendi o que estava acontecendo, ela deveria estar em busca de seu pingente.
Encostei de leve em seu ombro para lhe chamar a atenção, ela me olhou de forma confusa e aguardou eu falar o que desejava, neste momento, meu cérebro entrou em um pequeno acesso de pânico, mas finalmente consegui falar, peguei em meu bolso o pequeno objeto e lhe mostrei.

—Acho que isso lhe pertence. Achei por baixo da sua mesa ontem e achei melhor guardar para te devolver, parecia importante.

A expressão no rosto da menina mudou de forma drástica, pude ver um sorriso se forma em seu rosto, como se lhe tivesse mostrado a coisa mais preciosa de seu mundo e só nesse momento, parei para analisa-la, ela trajava uma blusa com o emblema da Sonserina, uma calça jeans dobrada e um tênis, seus cabelos estavam bagunçados de forma adorável e seus olhos eram ainda mais belos vistos de perto, seu sorriso era simplesmente perfeito e me fazia querer dar motivos para ela sorrir todos os dias, apenas para admirar aquela bela visão.

—Achei que o tinha perdido! Obrigada! Como se chama? Você não me é estranha..

Ela falou me encarando, seus olhos pareciam penetrar minha alma e aos poucos eu me perdia do mundo, porém, o resto de consciência que eu tinha me fez responder ela.

—Dasy.. E você? Como se chama?

Quando pronunciei meu nome, seus olhos se arregalaram por um momento, como se ela tivesse escutado meu nome antes, mas eu não a conhecia, me mudei para esta cidade a pouco tempo e me lembraria desses belos olhos.

—Me chamo Veronica, prazer, desculpe-me por insistir, mas eu tenho certeza que já vi você antes, me engano?

Veronica, com tantos nomes para ela ter, ela se chama Veronica, isso só poderia ser coincidência, não havia outra explicação, meus sonhos se passavam a anos atrás, como poderia ser ela? E ela estava diferente, bem, eu também era diferente em meus sonhos, mas ainda era eu... Percebi que estava a um tempo para observando-a e respondi a mesma.

—Creio eu que não, me mudei a poucos meses para essa cidade.

Ela me olhava como se estivesse tentando desvendar um mistério, seus olhos, agora tão brilhantes me analisavam como se me conhecessem, o que me fazia corar violentamente, dei um leve sorriso, na esperança de disfarçar meu pânico interno o que fez com ela desse um sorriso de volta, seu sorriso era lindo, meigo e adorável, era gentil e naquele momento percebi que eu deveria estar parecendo uma completa maluca olhando para ela, então desviei meu olhar.

—De qualquer forma, obrigada, tem algo que eu possa fazer para lhe agradecer?

Eu poderia apenas ter dito que não, mas minha boca foi mais rápida que minha mente.

—Poderíamos sair... Se você quiser...

No mesmo momento em que falei, percebi que tinha convidado talvez a garota mais bonita que meus olhos já viram, senti minhas bochechas doerem e um tipo de pânico me invadir. Sem dúvidas, se olhassem minha mente agora, veriam tudo pegando fogo e uma pequena “eu” surtando, porém, esse pânico logo virou um misto de alegria e confusão quando ela me respondeu um “sim”, me entregando um papel com seu número em seguida, acho que nesse momento minha expressão estava completamente perdida, ela deu um sorriso lindo e então se sentou na sua cadeira, pois o professor tinha acabado de chegar, sem dúvidas, eu iria surtar até o dia em que acontecesse de fato um encontro.









Notas da autora:

É minha primeira fanfic publicada, logo irei postar uma atualização, desculpem por qualquer erro de português.

Sonho de outra vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora