CAPÍTULO ÚNICO

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Como em uma nebulosa, ela veio até mim.

Minha vida estava uma loucura, muitas coisas aconteciam ao mesmo tempo e eu sequer tinha tempo para respirar. No meio de toda essa confusão, de todo o ar quente girando em alta velocidade, toda a tensão criada pela gravidade, minha estrela apareceu.

Como ainda uma proto-estrela, ela se aproximou, aos poucos, sua pouca intensidade me trazia conforto e sua composição simples de hélio e hidrogênio transmitia a sensação de que ela era tudo aquilo que me mostrava, uma pessoa simples, sem complexidades.

Eu sentia a necessidade de passar meus dias com ela. Não apenas psicológicas, porque meu físico clamava por ela. Sua presença, sua voz e tudo que a circundava me deixava anestesiado, como quando se olha um céu composto por anãs vermelhas, é inevitável sentir-se pequeno e insignificante, porém ainda assim com um fogo no coração, algo que não poderia ser apagado de forma alguma.

Dizem que quanto maior é o desafio, mais queremos passar por cima dele. Então, mesmo sendo sufocados por uma rotina que nos permitia poucas horas juntos, nós escolhemos estar um com o outro sempre que possível, não era necessário um lugar exato, uma hora exata, apenas eu e ela.

Senti sua intensidade aumentando, talvez ela sempre tenha sido assim, porém eu era lento demais para reparar. Como uma estrela-azul, ela se tornou mais quente e constantemente trazia até mim aquela sensação de que estar com ela era sempre uma aventura diferente, eu sabia que poderia explorá-la o quanto quisesse, porém nunca conheceria sua totalidade e de certa forma aquilo me reduzia a apenas um corpo celeste que vagava pela imensidão azul.

Uma oscilação grande ocorria, haviam ápices de aventura, com os quais eu sentia que estava verdadeiramente vivo ao seu lado e também existiam aqueles momentos de mar calmo, que apenas admirávamos um ao outro em silêncio e aquilo bastava.

Então em algum momento que meus olhos não captaram, minha proto-estrela transformou-se em uma estrela de nêutron, comprimindo toda sua composição dentro de si. Talvez ela sempre tenha sido assim, uma pessoa que guarda os sentimentos no fundo do peito e prefere mantê-los ali, seguros... pelo menos por um tempo.

Ser uma estrela de nêutron não quer dizer que ela tenha reduzido sua intensidade, essa parecia aumentar a cada dia que passava, mas ainda assim, eu conseguia sentir a distância entre nós aumentando, assim como a expansão do universo.

Assim como a insignificância nos torna incapazes de parar a expansão do universo, eu também fui incapaz de parar o aumento da distância entre nós. Quanto mais longe os corpos estão, menos calor eles são capazes de transmitir e antes que possamos perceber, aquele aconchego quente se torna apenas uma boa lembrança.

Reparar como seus olhos castanhos brilhavam quando lágrimas de felicidade ameaçavam cair.

Ou então como seu cabelo bagunçava quando ela se aconchegava em meu ombro.

Como seu gosto musical era completamente diferente do meu, mas ainda assim ela prestava atenção em cada detalhe das músicas que eu mandava.

A maneira como ela transmitia um calor intenso através de um abraço.

O bem-estar que eu sentia de ter sua respiração próxima ao meu rosto.

Ver como ficava feliz ao fazer algo que gostava tanto.

Sua insistência em sentar em minha frente quando íamos a restaurantes.

Eu sinto falta de tudo.

Eu deveria ter reparado um pouco mais cedo que aquela garota é e sempre foi uma supergigante azul, que mostrava seu brilho na maior intensidade e se mostrava ser a peça mais rara que já apareceu em minha vida, porém meu telescópio estava míope.

Aquela sensação de insignificância ainda toma todo o meu ser quando eu olho para as estrelas, principalmente aquela que eu deixei partir para outra galáxia.

(631 palavras)

Proto-estrelaOnde histórias criam vida. Descubra agora