Havia certos lugares de Hogwarts que eram perfeitos para se esconder, fosse depois de fazer alguma travessura ou por querer evitar qualquer tipo de contato por alguns minutos. A Sala Vai e Vem era um desses lugares, a floresta era outro. Mas, para Helena, apenas entrar na floresta ainda não lhe garantia se sentir segura.
Quando pequena, falou para seu pai sobre aquela pequena clareira no meio da Floresta Negra, um lugar onde tudo parecia ter saído de uma das canções que ele cantava sobre fadas e criaturas mágicas. Durante o dia era bonito, mas era de noite que tudo ficava incrível: as flores pareciam ter brilho próprio, suas pegadas deixavam um leve rastro luminoso no barro e a água brilhava como que com milhares de estrelinhas quando era perturbada.
Ela chamava aquele lugar de 'ninho de fadas', apesar de só ter visto fadas ali um vez, durante um Samhain. Também fora a única vez na qual não teve coragem de adentrar a clareira, pois se lembrava de seus pais lhe dizendo que nunca alguém deveria entrar em um círculo de fadas enquanto estas estivessem dançando... Mas ficou as observando, boquiaberta, enquanto resistia ao chamado de uma ou outra. Fora pouco tempo depois da morte de seu pai e, apesar de achar tudo muito belo, não conseguiu conter as lágrimas quando uma das fadas brincalhonas lhe entregou um lírio.
Mas agora, com dezesseis anos, Helena Ravenclaw recorria ao ninho sempre que precisava de um momento apenas seu: nada de Rowena a observando de longe, Helga perguntando se estava tudo bem, Godric a chamando para treinar, Siegfried querendo conversar ou qualquer outro aluno a irritando. Era só ela, as flores e o som do vento e dos animais da floresta.
Naquela noite, havia ido até a floresta para escapar de um possível encontro com alguns membros do Conselho que estavam visitando o colégio. Nunca gostara muito deles, lembrava-se de como olhavam torto para o seu pai, mas começara a ficar ainda mais desgostosa desde que aqueles homens decidiram que seria interessante casar um de seus filhos ou sobrinhos com ela. Agora os evitava a todo o custo, escondendo-se na Sala Vai e Vem, ocupando-se com tarefas ou correndo para a floresta, onde ficava olhando o céu estrelado por entre as copas das árvores ou brincando com as plantas brilhantes.
Respirando fundo e sentindo o perfume doce das flores, Helena inclinou-se mais na direção do pequeno lago ao lado do qual estava sentada, esticando uma mão para encostar na água com a ponta dos dedos e vendo pequenos pontos brilhantes e azulados surgirem ali. Ela amava aquilo... Estrelas sempre pareciam distantes demais, sempre brilhando friamente lá longe, mas ali, naquela pequena clareira, elas ficavam na ponta de seus dedos, prontas para se deixarem serem tocadas.
Sua brincadeira com a água foi apenas interrompida com um farfalhar alto das folhas dos arbustos que cercavam o local. A garota endireitou o corpo, levando a mão à varinha presa no cinto para caso algo aparecesse ali, mas tudo o que pulou para fora das folhas foi um pássaro baixinho, gordo e cinzento, que a olhou com curiosidade por um momento, antes de abrir o bico, soltar um barulho agudo e explodir em penas e fumaça, fazendo Ravenclaw se sobressaltar.
"O que...?" a garota murmurou, olhando em volta, apenas para dar outro pulo quando ouviu outra explosão abafada logo ao seu lado, acompanhada por fumaça e penas. Dali do meio, surgiu o pássaro. "Como fez isso?!"
O animal a encarou, inclinando a cabeça para o lado, e fez outro barulho, antes de começar a andar em volta dela. A bruxa o observou por um momento, para depois enfiar a mão na bolsa que trazia consigo, puxando um caderno – que estava quase se despedaçando, graças ao fato de ela ser terrível com a tarefa de encadernar seus pergaminhos – e um pedaço de carvão para tentar desenhar o bicho.
"O que é você, hein?" ela perguntou, arqueando uma sobrancelha enquanto via a ave dar alguns pulinhos até chegar na beira do lago e se abaixar para bebericar a água, assustando-se ao vê-la brilhar e fazendo a garota rir.