Obs.: Pessol vocês gostam de história longas ou mais curtas?
Esse capítulo será meio grande 😅Meia noite e o interfone toca, a voz do outro lado da linha pede que a doutora Rouzelly se encaminhe as presas para ala B do hospital, ela sai correndo pois a moça do outro lado parecia preocupada, poderia ser uma caso sério e cada minuto a mais podia lhe render uma vida a menos, Rouzelly não havia gostado nem um pouco do tom com que a enfermeira lhe dera a notícia. Descendo as escadas do terceiro andar ela lembrou-se da última vez que tinha percorrido aqueles corredores, entrou rapidamente na ala B e abriu a porta da emergência.
Seus olhos brilharam, foi uma grande surpresa ao ver uma recepção a sua espera, com direito a balões e chapeuzinhos engraçados, vários docinhos, um bolo e uma grande faixa de aniversário escrita "até que enfim, 40" aos poucos a expressão em seu rosto foi se amenizando, passando de preocupada para feliz e um pequeno sorriso ia nascendo do canto esquerdo de sua boca, bastou poucos minutos para que lágrimas de emoção escoresem pelo seu rosto.
"Feliz aniversário!" Diziam todos.
Seu olhar começou a percorrer os rostos na sala, estão todos lá, a grande maioria eram de enfermeiros que se tornaram amigos após alguns plantões diários, havia também muitos pacientes que Rouzelly conseguira ajudar ou que ainda estavam em tratamento, doutores, medicas e recepcionistas da ala C sorriam para ela, em meio a tantos rostos o olhar dela pairou até pousar em um bem familiar, com certeza era o rosto mais bonito da festa, o de sua filha Samanta, que num gesto meigo lhe sorrio. Como se soubesse que a mãe está a sua procura.
- Não acredito que fizeram isso! não sabem o susto que tomei, achei que fosse algo sério.
Alguns foram em sua direção e lhe deram um forte e caloroso abraço, enquanto os demais batiam palmas e assobiavam.
- A gente conversou um pouco e acabou achando que, a melhor forma de fazer com que você não se atrasa-se para sua festa fosse assim.- diz Kate, uma médica amiga de Rouzelly desde a época da faculdade.
- Mas como lembraram?
Todos olharam para Samanta.
- Bem, acho que nesse caso tive um dedo ou dois de culpa.- Fala Sam, enquanto atravessa a sala para beijar a mãe.
Um som de "ohnn" ecoa na sala, saido do fundo das gargantas ao verem tamanho amor entre mãe e filha. Apesar de Samanta ser filha única, desde criança até os dias de hoje ela nunca receberá grandes doses de atenção, sua mãe era fanática pelo trabalho, ela não saia do hospital e vivia pelos pacientes.
Samanta tinha consciência que o trabalho de sua mãe era muito importante, tanto para as pessoas quanto para própria Rouzelly que amava salvar vidas, desta forma ela já havia se acostumado com a ausência da mãe em casa, apesar de tudo ela podia dizer que era realmente amada por sua mãe, pois sempre podia contar com seu apoio para qualquer dificuldade que aparecesse, claro que as vezes esses problemas tinham que ser resolvidos a longa distância, atravéz de conversas pelo celular mas Samanta não ligava para isso, o simples fato de ouvir a voz de sua mãe já lhe dava segurança, pois sabia que ela sempre dava um jeito de solucionar seus problemas mesmo com tantos plantões.
Quando a saudade apertava Samanta fugia de seus afazeres para ir fazer companhia a sua mãe, isso geralmente acontecia nos finais de semana, quando também tirava o dia para visitar as crianças mais doentes do hospital. Mas ali naquela sala, em meio a festa quem as conhecia de longa data podia dizer que a relação entre mãe e filha havia mudado da água para o vinho, em poucos meses.
Olhando para Samanta via-se uma adolescente calma, quem poderia dizer que por trás daquele rosto inocente tinha uma garota rebelde que tentara se matar. Foi encontrada caída no banheiro, totalmente inconsciente, seus dois pulsos estavam cortados e uma enorme poça de sangue á cercava, isso era tão previsível, decorrente de várias brigas na família, foi sua última última tentativa de chamar atenção. Naquela época Samanta vivia largada tanto pela Rouzelly quanto pelo seu pai, as brigas constantes em casa não eram com ela muito menos por causa dela "antes fosse sobre mim" pensava Samanta, a verdade é que seus pais brigavam entre si sem motivos algum.
Revoltada Samanta tentara de tudo para que a atenção fosse voltada para ela, acreditava que assim eles iriam ficar bravos com ela e esqueceriam de se odiar por nada. Ela raspou um dos lados do cabelo, colocou piercing, fez uma tatuagem na parte de baixo das costas e até fugiu de casa, ficou exatamente três dias fora sem que ninguém se desse conta de que havia sumido, o jeito mais prático foi cortar os pulsos, até porque ela já estava cansada. Depois de todo esse esforço ela achou que daria certo, mas as brigas continuaram entre eles, sua mãe colocava toda culpa em Johsua por Samanta ter chegado naquela situação, nenhum dos dois via que a culpa era na verdade deles. Rouzelly preocupada, viu que sua ausência deixava Samanta triste e começou a passar mais tempo em casa, porém com isso ela via o marido mais vezes e as brigas aconteciam com mais frequência, a garota começou a odiar a mãe por isso, por discutir, por não ficar um minuto em paz. Rouzelly não fazia a mínima ideia que a filha sofresse por disso, ela cogitou em pedir divórcio porém achava que isso acabaria prejudicando Samanta, tentando cuidar de sua filha não notava que a maior angústia de Samanta era participar do relacionamento frustrado de seus pais.
Mas tudo mudou.
Em uma noite de chuva, a uns três meses atrás o telefone fixo tocou, Samanta atendeu e imediatamente caiu em prantos, Rouzelly sem saber o que havia acontecido correu "acalme-se Sam, olha pra mim! Me dê o telefone." enquanto tentava pegar o celular puxando-o das mãos da filha e colocando em seu ouvido. Assim que escutou ficou paralisada deixando o aparelho cair no assoalho, ela se debruçou sobre Samanta enquanto apertava ela forte contra seu peito, balançando-a em um vai e vem, fazia isso com a filha quando era criança para sentir-se protegida. Apesar de tudo e de todos os defeitos Rouzelly ainda o amava.
Jhosua tinha morrido naquela noite. Seu carro derapou em uma curva fechada, capotando 2 Km abaixo. Seu corpo ficou totalmente espremido nos escombros, o acidente causou um forte impacto nas duas, era algo horrível até de se imaginar, de certa forma esse sofrimento fez com que as duas se unissem, tiveram que se apoiaram uma na outra e serem fortes juntas. Com o passar do tempo Samanta foi mudando, podemos até dizer que aquele desastre foi um milagre escondido no meio da dor.
Kate puxou Rouzelly, pelo braço e fez um sinal para que assoprar-se as velas, pegou uns pequenos pratos para servir o bolo em fatias, a festa estava tão boa, mas uma luz vermelha acima da porta começou a piscar, até que havia demorado para uma emergência acontecer. Um aviso suou enquanto os enfermeiros retiravam com pressa os pacientes e doces do local, o sufoco era tremendo naquela sala, um corre-corre para todo lado com vários empurrões. Samanta foi jogada contra porta, exatamente no momento em que ela se abriu para dar passagem, a porta atingiu a cabeça de Samanta tão forte que a última coisa que ela pode ver antes de desmaiar foi o belo rosto do rapaz em cima da maca, Rouzelly conseguiu segurar ela e com um sinal pediu para que o enfermeiro tirasse ela dali.
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Rouzelly viu o jovem deitado sobre a mesa de operação. Seu corpo estava quase nu, ele fervia em febre, suas costas estavam queimadas. O caso era mais grave do que ela imaginava, ela só conseguiu lembrar do seu último paciente que se encontrava na mesma mesa, com um estado não tão ruim quanto o deste rapaz, mas poderíamos dizer que depois de alguns minutos o estado havia piorado.
Rouzelly não queria mais perder vidas, ela sabia que a situação era complicada.
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A outra face do Anjo
FantasyOs anjos não são como imaginamos, e Samanta irá descobri isto!