Harry olhava atentamente para o Vira-Tempo na sua mão.
Os primeiros raios de sol que entravam pela janela no quarto do número 12 de Grimmauld Place confirmavam que já amanhecera. O que provava que Harry tinha passado a noite em branco.
Tinha tantas certezas mas tantas dúvidas ao mesmo tempo.
O mais fácil seria ir até 1926, ano em que Voldemort nasceu a acabar logo o assunto.
Mas ele não podia matar um bebé! Mesmo que esse bebé fosse um futuro monstro.
O diário de Tom Riddle havia sido criado aos 16 anos do jovem, por isso era muito arriscado tentar algum ataque a partir daí.
Mas Harry sentia-se mal em atacar uma criança indefesa como tantas vezes aconteceu com ele.
Era isso! Iria até 1940, altura em que Tom teria 13 anos. Desta forma, ele já teria um ano completo de Hogwarts para se conseguir defender, mas não o suficiente para ser uma ameaça.
Harry levantou-se decidido e arrumou uma pequena mochila com alguns bens essenciais.
Não contava ficar muito tempo, mas nunca sabia o que poderia acontecer.
Em princípio as aulas em Hogwarts deveriam terminar por voltar do dia 30 de Julho, pelo que iria viajar até ao dia 01 de Agosto de 1940 pois depois de pensar um pouco foi fácil chegar à conclusão que seria mais fácil confrontar Riddle quando ele já estivesse de volta ao orfanato.
Afinal quem seria louco o suficiente para atacar um aluno dentro de Hogwarts?
Com tudo pronto, Harry colocou o Vira-Tempo à volta de pescoço e dirigiu-se para fora da casa. Afinal em 1940 a propriedade ainda pertencia aos Black e ele não tinha como justificar a sua presença dentro da habitação.
Já no exterior respirou fundo e colocou o objeto ao redor do pescoço.
Devagar rodou o Vira-Tempo até à data pretendida. Já não havia como voltar atrás.
Fechou os olhos e largou a pequena roda. Lembrava-se da vez em que tinha viajado no tempo com Hermione, a sensação que teve era a ser sugado para dentro de um buraco negro.
Porém naquele momento não sentiu absolutamente nada.
Resolveu abrir os olhos, talvez tivesse feito alguma coisa errada.
Porém quando os abriu, viu a sua casa, mas ao mesmo tempo não era bem a sua casa, estava muito mais sombria que o normal.
Harry olhou em volta, a falta dos carros e a forma tensa como as pessoas andavam na rua, afinal estavam em plena segunda guerra mundial, comprovava que o Vira-Tempo tinha resultado. Rowena tinha sido realmente um génio.
Era tempo de se pôr a caminho, afinal se bem se lembrava o orfanato ainda ficava a três quarteirões de distância.
"Não é hora de me acobardar" - Pensou quando o orfanato entrou no seu campo de visão.
O edifício era mais velho do que se lembrava ter visto nas memórias de Dumbledore. E era composto por dois blocos com um aspeto muito degradado, tendo em volta um jardim praticamente morto. Sendo vedado por um gradeamento monstruoso e igualmente velho.
Sem dúvida o sítio mais deprimente que Harry visitou na sua existência.
O que ele deveria fazer? Não podia tocar à campainha e perguntar se Riddle estava!
Deveria ter trazido a sua capa da invisibilidade! Como pode ser tão despistado?
Empurrou o grande portão devagar, tentando que as dobradiças enferrujadas não fizessem barulho ao abrir.
Por sorte o mesmo estava destrancado.
Harry não sabia se era a adrenalina que lhe corria nas veias, mas o caminho até à porta principal foi estranhamente longo.
Ele não tinha um plano formado ainda, a ideia era improvisar. Mesmo sabendo que a sua impulsividade estragava qualquer talento de improviso que ele tivesse.
A porta principal estava ligeiramente encostada. Por momentos Harry pensou que talvez a missão não fosse tão difícil assim.
Porém um grito esganiçado parou-o de abrir a restante porta.
- Sua Aberração! - Gritou a mulher - Como te atreves a atacar-me!
- Eu não pedi que a cobra atacasse - Disse uma voz macia como veludo. Harry reconhecia aquela voz - Eu só...
O som de um estalo foi ouvido.
Harry encolheu-se na brecha da porta de forma a conseguir olhar lá para dentro.
De costas para a porta estava uma senhora robusta com um vestido que claramente já tinha perdido a cor original à muito tempo. Harry não lhe conseguia ver a cara, mas calculava que fosse a governanda. E em frente dela, virado para si, estava a sua missão.
Tom estava de cabeça baixa e era mais pequeno do que se lembrava. Pelo seu aspecto, apesar do cabelo impecável e das roupas sem uma nódoa, dava para notar os claros sinais de desnutrição.
- És um monstro! Não tenho dúvidas que tenhas arranjado maneira matar a tua mãe assim que nasceste! - Tom desviou o olhar magoado para a janela permitindo que Harry visse o vermelhão na sua bochecha.
Harry sentiu uma raiva indescritível a crescer dentro de si. Ele sabia o que era ser chamado de aberração. O quanto doía nascer sem o amor dos pais.
Como é que aquela mulher tinha a coragem de dizer aquelas palavras a uma criança?
Harry encheu os pulmões de ar e colocou-se o mais direito possível, tentando imitar o ar de Lord arrogante que presenciou muitas vezes por parte de Draco.
E num ato de impulsividade, esquecendo por momentos que aquela criança na verdade era o motivo de ele ter sofrido tanto em criança, Harry escancarou a porta.
- Peço desculpa. - Começou ele como um cumprimento. - Gostava de falar com a responsável deste local.
A mulher rapidamente de virou para o encarar, e Harry pode ver a grande verruga que lhe ocupava o lado esquerdo do lábio. A imagem deu-lhe vontade de vomitar.
- Sou eu, pode-me tratar por Sra. Cole - O tom de voz que ela agora utilizava era completamente diferente de à momentos atrás. - Em que posso ajudar?
- Na verdade eu gostaria de fazer uma adoção.
- Oh maravilhoso! - O sorriso dela aumentou ainda mais. - Entre, vou-lhe apresentar as crianças. Tem alguma preferência de idade?
- Na verdade eu tenho andado à procura do meu sobrinho nos últimos anos e soube que ele foi deixado neste lugar - Mentiu Harry fazendo um ar de nojo ao referir-se ao sítio. Quem diria que a convivência com o Malfoy lhe serviria para alguma coisa.
- Claro! E como se chama a criança?
- Tom. Tom Marvolo Riddle. - Só no momento em que as palavras lhe saíram da boca, é que Harry se apercebeu do que estava prestes a fazer.
Mas já não havia como voltar atrás, se a situação não fosse tão trágica Harry teria rido da cena à sua frente.
Não sabia qual expressão era mais hilária. Se a da Sra. Cole que estava pelo menos três vezes mais pálida do que há minutos.
Ou se a de Tom que tinha os olhos completamente esbugalhados com a boca aberta completamente em choque.
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Part-Time Dad
RomanceHarry estava completamente perdido. Tinha construído o plano perfeito, voltar ao passado e evitar que Voldemort nascesse. Não havia como errar. Mas então, como é que ele acabou a adotar uma criança? Nunca ninguém o preparou para ser pai. Muito menos...