Capítulo 7

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Nem todo mundo consegue encarar a realidade. Na verdade, Wonka acreditava que pouco menos de mil pessoas, em todo o mundo, aguentava a verdadeira força da, real, vida.

O chocolateiro não conseguia aceitar que estava velho ao ponto de ter que colorir seus fios macios, nem mesmo aguentava juntar forças para ver o quão crescido e ágil estava seu pupilo.

Willy Wonka, assim como muitos, não aceitava a realidade.

Só eu sei o que senti e nem eu consigo expressar.

Naquele dia, o amanhecer era nublado. O céu estava fechado dando o parecer de que o frio tinha aumentado. Charlie acordou feliz, contente e até mesmo o dia fechado parecia belo para o jovem.

– Bom dia papai. – Sorriu para o senhor que lia o jornal do dia. O senhor Bucket olhou para o filho e sorriu, antes de dar o gostoso bom dia. Há muito aquela fábrica não via os olhinhos de Charlie brilhando daquela forma. - Viu Willy? – O garoto continuou.

– Está nos fundos.

– Ele já tomou café? Achei que ele comeria conosco.

– Chamei ele para vir, mas me disse que estava agitado demais para pensar em comida.

O senhor Bucket tinha tomado cuidado para escolher as palavras certas. Ele não queria mentir ao filho e muito menos esconder que o criador do mundo, em que seu filho vivia, não estava animado.

Charlie estranhou que Willy estivesse desanimado. A única vez que presenciou Wonka, desta forma, havia sido há muito tempo quando os problemas em encontrar um herdeiro e a saudade do pai o atormentavam. Charlie também estranhou a depressão momentânea de Willy, pois o fundador da fábrica, na noite anterior, havia cantarolado músicas de ninar que, além de serem esquisitas, o próprio Willy havia inventado.

Willy parecia ter ido dormir feliz, mas pelo visto havia enganado Charlie novamente. E saber que poderia ter sido enganado – mais uma vez – tanto entristeceu Charlie, quanto o irritou.

“ Deve ser gostoso ser um chocolateiro.” Um pequeno e entusiasmado Willy Wonka observava com carinho o dono da fábrica de doces desenhar em seus chocolates.

“Tudo é gostoso de se ser feito, você só precisa se entregar ao que faz.”

Mas o crescido Willy Wonka sentia que estava na hora de aposentar-se e por isso estava ficando deprimido. A fábrica era seu maior sonho e deixá-la nas mãos de outro era massacrante. Willy acreditava em Charlie, acreditava e amava o garoto como se ele fosse seu filho, mas a fábrica era seu tesouro, sua essência, sua alma.

Seu diamante que com muito suor viu deixar de ser um simples carvão para ser a mais bela joia que ele um dia chegara a ver. Chocolate era – e é – sua obsessão. Era mais forte do que qualquer amor que um ser humano poderia ter por qualquer coisa ou pessoa deste mundo.

Desejava seus chocolates como se fossem o álcool de um alcoólatra. Seus doces eram sua droga, seu vício. Enjoava deles e assim criava novos e poucos dias depois voltava a experimentar seu chocolate com arrependimento e vergonha, pois um chocolateiro nunca deveria enjoar de sua criação.

Willy devorava suas pequenas criaturas (seus chocolates), mas nunca em frente às pessoas. Ele sentia tanto prazer pelo gosto criado, que o ato de devorá-los lhe era algo reservado. Ninguém, nem mesmo Charlie, veria sua face mergulhada em prazer e luxuria. Apenas seus chocolates, que morreriam em seu estômago e correriam por suas veias.

Suspirou. Seus problemas haviam sumido assim que conheceu Charlie. Havia adquirido seu herdeiro e juntos engordaram a fama da fábrica. Agora Charlie estava crescido e um ótimo herdeiro, enquanto sua mente velha lhe pregava peças e não criava nada tão genial quanto o que Charlie tinha criado.

O Adeus de Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora