Capítulo 5

170 17 4
                                    

É caloroso, inteiramente caloroso.

O corpo foi bruscamente prensado contra a parede. O rosto ficou extremamente perto do seu e pode sentir a respiração acelerada do agressor em seus lábios. Talvez Charlie nunca tivesse ficado tão perto, assim, de alguém e começava a se arrepender de ter recebido Mike Tevee naquela manhã.

Tevee tinha chegado cedo, cerca de seis da manhã. O Oompa Loompa responsável pelo atendimento escutou o chamado da porta e, sonolento, caminhou resmungando xingamentos para o ser que incomodava seu sono. Logo que aproximou-se da porta, a pequena criatura viu, pela câmera que filmava os portões da fábrica, Mike Tevee irradiar fúria.

Temeroso, mas já sabendo que o mesmo visitaria a fábrica em breve, o pequeno Oompa Loompa permitiu o acesso de Tevee.

– Charlie. Agora. - Falou Teeve, de forma pausada e lenta.

O Oompa Loompa correu por puro medo e mesmo assim, mesmo Charlie sabendo do medo da pequena criatura, o herdeiro foi receber o perdedor da guerra.

Tevee, quando Charlie chegou na sala de recepção, estava parado observando o quadro de contrato fixado à parede. O Bucket riu e brincou dizendo:

– Belo quadro, não? Ele que vem mantendo as guerras vencidas.

Mas o herdeiro maluco da família Tevee girou os calcanhares, segurou a gola da camisa que Charlie usava e jogou o corpo do menino contra a mesma parede que estava o quadro. Os rostos próximos, a respiração alterada de Tevee aquecendo seus lábios, o perfume amadeirado do vilão mais forte do que o cheiro de menta - que carinhosamente Willy havia criado para Charlie.

Ah, como aquele pirralho maldito conseguiu vencer um gênio como Mike?

Essa pergunta rondou a cabeça de Tevee até ouvir o comentário, a brincadeira de Charlie Bucket. No momento em que a voz rouca invadiu os ouvidos de Tevee, a pergunta abandonou a mente derrotada dando lugar completo a fúria que somente os gênios poderiam ter.

Mike estava irritado, desnorteado, doido. Queria socar aquele rosto recheado de traços delicados e bochechas rosadas! Queria quebrar aquele nariz dilatado devido ao medo e furar aquele coração que batia em alerta e fazia a pele, coberta pela roupa, pulsar.

Como queria.

Como queria acabar com a vida de Charlie, destruir o pouco da sanidade que havia no senhor Bucket e corroer a administração da fábrica. Mais do que tudo isso junto, Mike Tevee queria acabar com a vida de Charlie e ver, sob seus olhos vingativos, a completa destruição de Willy Wonka.

Pois ele sabia que o criador daquela fábrica jamais se recuperaria ao perder Charlie.

Os olhos de Charie estavam pregados nos olhos de Tevee e certamente seu coração disparou ao captar a mensagem de que corria perigo, um grave perigo. Mas havia de esperar. Estava sob os braços de Mike e o visitante era mais forte.

Sim, Mike Tevee era mais, muito mais, forte que Charlie e por isso poderia fazer o que bem desejasse. Charlie era como um pequeno filhote de yorkshire em frente a um humano robusto.

Pequeno, indefeso.

A cabeça de Mike mexeu para os dois lados e um estralo pode ser ouvido. Ele também estava nervoso.

– Você... - A voz atravessou os dentes cerrados, mas morreu na primeira palavra. Um soco foi enviado na direção do rosto herdeiro, mas atingiu a parede ao lado. - Você é tão esperto quanto aquele maluco!

E Charlie pode notar que Tevee estava se ferindo ao máximo por ter de dizer aquilo. Ele viu o sangue no orgulho e percebeu algo que talvez Willy já tivesse percebido: Mike Tevee era um livro fácil de ser compreendido, só necessitava prestar atenção.

O Adeus de Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora