Os olhos dele continuavam marejados, a ponta de seu nariz ficando cada vez mais vermelha juntamente de suas bochechas. Nenhum dos dois conseguiam acreditar que aquilo era real.
— Pensei que ele tinha te matado — as palavras saíram como um sussurro. — Foram tantos boatos, eu estava ficando louco. Não acreditava que havia lhe perdido.
Não disse nada, apenas o observei cautelosa. Da última vez que nos vimos mal conseguíamos nos encarar, porém sentia um alívio tão grande em simplesmente tê-lo a minha frente. Droga, eu deveria estar um pouco irritada com ele.
— Você mudou — seu sussurro saiu junto de um soluço. — Sinto sua áurea pesada... — seus olhos encaravam os meus ferozmente.
Um sentimento dentro de mim começou a crescer. Uma felicidade misturada com culpa. Era intenso e desconcertante. Queimava as minhas entranhas, como se quisesse sair em forma de grito, minha cabeça doía cada vez que focava no sentimento. Aquilo não me pertencia. Foi naquele momento em que reparei: eram os sentimentos de Daniel. A sensação começou a se esvair, os sentimentos ficaram mais leves e fáceis de controlar. Respirei profundamente, ele observava cada movimento.
— D-Daniel — seus braços me envolveram em um abraço apertado. No estado que me encontrava e com aqueles braços fortes, alguns ossos poderiam ser quebrados se ele apertasse um pouco mais.
— Ainda bem que o casalzinho já matou a saudade. Agora, poderíamos, por favor, cair fora daqui? — virei minha cabeça rapidamente, Stan se encontrava a uns três metros de distância de nós.
Soltei Daniel imediatamente, correndo em direção a ele. Meus braços grudaram em seu pescoço e minha euforia cresceu. Ele estava bem!
Foram longas horas de caminhada em silêncio, de acordo com os dois seria mais fácil de nos acharem se ficássemos colocando o "papo em dia". Daniel ficou ao meu lado por todo percurso, às vezes, quando sua mão se encostava a minha, ele me fazia carinho com seu polegar. Stan me lançava olhares divertidos, como quem diz "Hummm". Passávamos por locais estranhos, com uma vegetação desconhecida e uma áurea difícil de se identificar, cada ruído diferente nos deixava tensos e atentos. Pelo visto sair de lá seria mais difícil do que imaginávamos.
― Ele realmente escolheu um bom local para se esconder ― Stan comentou quando, finalmente, fizemos uma pausa. ― Maldito inimigo que você foi arranjar em Daniel ― riu-se.
― Primeiro que nem minha culpa foi ― Daniel defendeu-se num tom brincalhão. Ele estava diferente, agindo de acordo com a atualidade... O que aconteceu enquanto eu estava fora?
― Claro que não, imagina se tivesse sido ― Stan disse com a língua entre os dentes. Os dois riram e soltaram-se no chão. ― Está tudo bem, Caissy? ― Concordei com a cabeça e sentei junto deles.
Ainda estava digerindo tudo que havia acontecido: Daniel e Stan aparecendo, minha fuga, um Daniel mais divertido e contemporâneo. Começava a sentir fraqueza e alguns sintomas de desidratação, como dor de cabeça. Apoiei minha cabeça no ombro de Daniel, era totalmente confortável e relaxante. Meus olhos foram se fechando lentamente enquanto os dois tagarelavam. Entrei em um sono profundo, não sentia nada, toque ou sentimento. Tudo ficou entorpecido. Sentia como se horas tivessem passado, não havia sonhos apenas uma escuridão profunda.
[...]
Abri os olhos assustada, olhei para os lados e não reconheci o local. Não estava mais em uma floresta, não havia vegetação ou aquela sensação estranha que o lugar causava. O cômodo em que me encontrava não era muito grande, a cor das paredes eram um azul claro, muito claro, havia um criado mudo branco ao lado da maca em que eu estava deitada e logo à frente uma cômoda, em cima possuía alguns enfeites delicados. Ao lado da cômoda possuía uma porta, igualmente branca. O ambiente estava bem iluminado mesmo com as cortinas fechadas, depois de olhar tudo no mínimo duas vezes cheguei à conclusão que nunca havia estado naquele local.
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ilu
FantasySegundo volume do livro Fera. "Eu sabia que podia me salvar sozinha e continuar minha vida sem a ajuda de ninguém, ele também tinha conhecimento disso. Porém, mesmo sabendo de tudo isso, ele continou a me procurar, continou a me amar mesmo que isso...